Marduk e Tiamat

Sobre a Obra

Tiamat

 Enuma Elish

Origem e Propósito do Enûma Eliš

O Enûma Eliš é o mito de criação babilônico, descoberto por Austen Henry Layard em 1849 nas ruínas da Biblioteca de Assurbanípal, em Nínive, e publicado por George Smith em 1876.

Composto em sete tábuas de argila e escrito em babilônico antigo, o épico descreve a criação do mundo e a ascensão de Marduk como rei dos deuses.

Seu propósito principal não é teológico, mas político: legitimar a supremacia de Marduk e da Babilônia sobre os outros deuses e cidades da Mesopotâmia (ENUMA ELISH, 2023, n.p.).

A Criação e o Conflito Divino

No início, apenas existiam Apsu (água doce) e Tiamat (água salgada), cujo caos original deu origem a outros deuses.

Apsu deseja destruir esses deuses por sua perturbação, mas é morto por Ea. Em vingança, Tiamat cria 11 monstros e nomeia Kingu, seu novo consorte, como líder do exército.

Criação da Humanidade e a Fundação da Babilônia

Marduk estabelece a morada dos deuses, os dias, meses e estações.

Depois, decide criar a humanidade a partir do sangue de Kingu, considerado culpado por incitar Tiamat.

Os humanos são criados para servir aos deuses, permitindo-lhes o descanso.

Em honra a Marduk, os deuses constroem a cidade da Babilônia, tornando-se o centro espiritual e político da civilização babilônica (ENUMA ELISH, 2023, n.p.).

Louvor e Legado Religioso

A tábua final exalta Marduk com cinquenta nomes sagrados e instrui os humanos a lembrarem seus feitos.

O texto era recitado em festivais religiosos, como o Akitu (Ano Novo), celebrando Marduk e reafirmando a importância da Babilônia.

O estilo poético do épico lembra os cantos litúrgicos e reflete a função pública e cerimonial do mito (ENUMA ELISH, 2023, n.p.).

Paralelos com o Gênesis Bíblico

Há paralelos entre o Enûma Eliš e o Gênesis bíblico, como a criação a partir do caos aquático, a divisão do firmamento e a criação do homem.

A figura de Tiamat pode ser associada ao “abismo” (tehom) do Gênesis. Apesar das semelhanças.

O Enûma Eliš representa uma cosmovisão politeísta e hierárquica, centrada no poder divino transferido à autoridade real, diferente da narrativa monoteísta e moralista da Bíblia (ENUMA ELISH, 2023, n.p.).

A Centralidade de Marduk

Na Babilônia, Marduk tornou-se o principal deus.

A ele se referem os grandes mitos da criação do mundo (Enûma Eliš) e do dilúvio, cuja origem remonta aos mitos sumérios, mas que foram sistematizados durante o reinado de Hamurabi.

Essa centralização da figura de Marduk reflete não só a supremacia religiosa da Babilônia, mas também sua hegemonia política e cultural na região

Marduk é ainda o deus supremo no século VI antes da era cristã. Esta mesma capacidade de ser representado por diversos outros deuses é atribuída ao todo poderoso Rá, do Egito, e às divindades hindus. (MITOLOGIA ASSÍRIO-BABILÔNICA, n.p.).

A Vitória de Marduk e a Criação do Mundo

Armado com poderes cósmicos e auxiliado por uma carruagem divina, Marduk enfrenta Tiamat.

Ele lança um vento maligno que a incapacita, dispara uma flecha que a mata e derrota seu exército, capturando Kingu e confiscando a Tábua dos Destinos.

Com o corpo de Tiamat, Marduk cria o firmamento e estabelece a ordem cósmica: define o calendário, os signos do zodíaco e os ciclos lunares.

A partir do sangue de Kingu, Marduk e Ea criam a humanidade, destinada a servir aos deuses e libertá-los do trabalho (CAMPBELL, 2004, p. 76–77).

A Glorificação de Marduk e o Surgimento da Babilônia

Após a vitória, os deuses agradecidos declaram Marduk rei supremo e constroem a Babilônia como seu santuário.

A epopeia conclui com a consagração dos cinquenta nomes de Marduk, símbolo de seu poder absoluto e inquestionável.

Campbell observa que esse mito reflete a transição de um mundo criado por uma deusa para uma ordem patriarcal, onde o deus masculino assume a centralidade criadora (CAMPBELL, 2004, p. 78).

Fonte: Guia dos Perplexos II – Os Princípios Sagrados – Maimônides

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