
Cristo Guerreiro na Capela da Arquidiocese de Ravenna, século VI
Porque tu, ó Senhor, és o meu refúgio.
No Altíssimo fizeste a tua habitação.
Nenhum mal te sucederá, nem praga alguma chegará à tua tenda.
Porque aos seus anjos dará ordem a teu respeito, para te guardarem em todos os teus caminhos.
Eles te sustentarão nas suas mãos, para que não tropeces com o teu pé em pedra alguma.
Pisarás sobre o leão e a cobra; calcarás aos pés o leão jovem e a serpente. (Salmos 91, 9-13)
O Mosaico:
Sobre um fundo dourado, Cristo se destaca em traje militar, pisoteando um leão e uma serpente.
O Messias é representado de frente, jovem e imberbe, com a cabeça circundada por uma auréola em forma de crucifixo.
Na mão direita, segura uma longa cruz e, na esquerda, um livro aberto com a inscrição do Evangelho de João: Eu sou o caminho, a verdade e a vida (João 14, 6) uma passagem usada por alguns polemistas nicenos contra os arianos (muito presentes em Ravena).
Elementos paisagísticos, como pedras e algumas folhas de grama, também estão presentes.
O Cristo retratado na luneta acima da porta do vestíbulo foi identificado como o Christus militans, ou vencedor, que pisoteia a saeva crimina, as forças do mal representadas pelo leão e pela serpente com referência ao Salmo 91, 13 – é uma imagem incomum, mas muito comum em Ravena.
O historiador Agnellus, em seu Liber Pontificalis Ecclesiae Ravennatis, descreve-a na contrafachada da agora perdida igreja de Santa Croce.
Esta representação ainda pode ser encontrada hoje em um estuque do Batistério Neoniano e é esculpida no sarcófago de Pignatta, do século V, no Quadrarco de Braccioforte.
A figura de Cristo Guerreiro cumpria uma função parentética.
No batistério, o objetivo era revelar aos neófitos a força que vive no cristão após o batismo; na Capela do Arcebispo, pretendia-se confirmar o bispo em sua missão evangélica.
Fonte 1: Texto adaptado de “Cristo o Guerreiro”
Cristo pisando as feras:
Do Salmo 91, mencionado no início, vem uma chave para a interpretação.
O salmo desenvolve o tema da proteção divina concedida ao Justo e oferece o convite à confiança na proteção do Senhor: a fé em Deus é comparada a uma armadura invencível que garante a salvação de qualquer adversidade, como poder andar sobre áspides e víboras e pisotear leões e dragões.
Na literatura patrística, como nos bestiários criados ao longo do tempo, leão e serpente são figuras ambivalentes.
No caso do Salmo em questão, eles simbolizam todos aqueles tipos de adversidades que o Justo, sob a proteção divina, será capaz de enfrentar e derrotar: Cristo se apresenta como o Justo capaz de derrotar leões e serpentes ou como o erradicador de todo Mal.
A caracterização militar da figura encontra sua principal fonte na iconografia funerária romana.
Ela evoca um papel preciso na legião, o “aquilifero”, que pertence a uma centúria chamada “primipilo”.
O “aquilifero” era o oficial que carregava e defendia a bandeira da legião em batalha.
Ele era a referência para o legionário, que nunca deveria perdê-lo de vista no campo de batalha, e assim Cristo deve ser a referência para todo cristão, com os preciosos símbolos da Cruz e dos símbolos evangélicos da Salvação.
Christ trampling on the beasts:
From Psalm 91, mentioned at the beginning, comes a key to interpretation.
The psalm develops the theme of the divine protection accorded to the Just and offers the invitation to trust in the protection of the Lord: Faith in God is compared to an invincible armor that guarantees salvation from any adversity, such as to be able to walk on asps and vipers and trample lions and dragons.
In patristic literature, as in the bestiaries created over time, lion and snake are ambivalent figures.
In the case of the Psalm in question, they symbolize all those types of adversities that the Just One, under divine protection, will be able to face and defeat: Christ presents himself as the Just able to defeat lions and snakes or as the eradicator of every Bad.
The military characterization of the figure finds its main source in the Roman funerary iconography. It recalls a precise role in the legion, the “aquilifero”, who belongs to a centuria called “primipilo”.
The “aquilifero” was the officer who had to carry and defend the legion’s banner in battle.
He was the reference for the legionnaire, who should never lose sight of him in the field of battle, and so Christ must be the reference for every Christian, with the precious symbols of the Cross and of the Gospel symbols of Salvation.
Fonte 2: Texto traduzido de “Cristo pisando as feras”
Link dos artigos:
Link da fonte 1: https://www.ravennacittadelmosaico.it/en/christ-the-warrior/
Link da fonte 2: https://www.ravennamosaici.it/en/thursdaycoffee-il-cristo-guerriero/
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