
Sinaxis dos Arcanjos – Monte Athos – Paper Icons
“Bendizei ao Senhor, todos os seus Anjos, valentes em poder, que executais as suas ordens.” (Sl 103,20)
Na solenidade da Sinaxe dos Arcanjos, celebrada com particular devoção no Oriente cristão, a Igreja une em uma só festa o louvor a todas as milícias celestes, representadas pelos príncipes das hostes angélicas: Miguel e Gabriel.
Esta gravura anônima, saída do espírito contemplativo de algum monge do Monte Athos no século XIX, é uma verdadeira liturgia em metal, um hino visual à glória divina manifestada nos seus mensageiros.
A VISÃO CELESTE
No primeiro plano, os santos Arcanjos Miguel e Gabriel erguem-se em pé, em toda a sua estatura espiritual, voltados para o espectador, como quem guarda e intercede pelo mundo.
Entre eles, sustentam uma doxa, o medalhão da glória, onde o Cristo em majestade aparece sentado sobre as nuvens, as mãos erguidas em bênção.
O nimbo do Salvador traz inscrito o santo nome Ὁ ὬΝ (O On, “Aquele que É”), e ao lado de seus ombros lê-se a monograma IC XC, o nome sagrado de Jesus Cristo.
Em volta de sua figura, linhas finamente entalhadas formam uma auréola radiante, sinal da glória inacessível.
Atrás dos dois Arcanjos principais, oito anjos inclinam a cabeça em direção ao centro, numa harmonia simétrica que evoca a hierarquia celeste.
São espíritos puros voltados para o Verbo Eterno, servos da luz, adorando em silêncio o Senhor dos Exércitos.
O PRÍNCIPE DAS MILÍCIAS CELESTES
O Arcanjo Miguel, “quem como Deus?”, aparece armado, com a couraça dos guerreiros da fé.
Uma capa majestosa cobre-lhe a armadura, lembrando que sua força é também revestida de misericórdia.
Na mão direita, ergue a espada voltada para o alto, não como instrumento de violência, mas como chama purificadora, símbolo da justiça divina que separa o bem do mal.
Miguel é o defensor do Povo de Deus, o guardião da Igreja e o protetor das almas no juízo.
O MENSAGEIRO DA GRAÇA
À sua direita está Gabriel, o portador das boas-novas.
Vestido com túnica longa e luminosa, segura na mão esquerda um cajado alto, sinal de sua missão de mensageiro e de guia.
É o mesmo Arcanjo que anunciou à Virgem Maria o mistério da Encarnação, tornando-se o emblema da obediência e da palavra divina que gera vida.
Na gravura, sua serenidade contrasta com a força de Miguel, compondo o equilíbrio perfeito entre o poder e a paz, entre o combate e o anúncio.
A GLÓRIA TRIÚNA
A doxa sustentada pelos Arcanjos mostra o Cristo em glória, envolto nas nuvens, Senhor do Céu e da Terra.
Seu gesto de bênção é o mesmo que abençoa toda a criação através dos Anjos, que são reflexos de sua própria luz.
Assim, o ícone não é apenas representação, mas teologia visível: Cristo é o centro e o coração da hierarquia celeste, e os Anjos são os raios que emanam de sua eternidade.
A composição, com o movimento suave das vestes agitadas pelo vento, o detalhamento meticuloso das asas abertas e o equilíbrio das figuras, revela a mão de um gravador hábil e inspirado, que uniu técnica e contemplação.
Tudo ali respira adoração: o metal, o traço, o brilho.
Cada linha parece entoar o Sanctus eterno: “Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória.” (Is 6,3)
UM ÍCONE DE PROTEÇÃO E LOUVOR
Na tradição ortodoxa, a Sinaxe dos Arcanjos não é apenas festa celestial, mas também apelo à humanidade para participar da ordem divina.
Quem contempla o ícone é convidado a unir-se ao coro dos anjos no louvor, a combater com Miguel o mal interior e a anunciar com Gabriel a boa-nova do Evangelho.
Conservada hoje em Atenas, a gravura continua a cumprir sua missão de guardiã e proclamadora da glória de Deus, lembrando que, no coração da criação, há um cântico que nunca cessa: “A Deus toda glória, e aos seus Anjos, todo louvor.”
Oração
Arcanjos Miguel e Gabriel, príncipes das milícias celestes,
protegei-nos nas batalhas do espírito
e guiai-nos pelos caminhos da luz.
Fazei que, obedientes à voz do Senhor,
possamos servir em alegria,
até que sejamos reunidos convosco
na eterna Sinaxe do Céu,
onde Cristo reina glorioso,
pelos séculos dos séculos.
Amém.
Fonte: Livro PAPER ICONS: Greek Orthodox Religious Engravings, 1665-1899 Hardcov
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