
São Judas Tadeu com manto verde
Judas Tadeu no Oriente:
Neste dia, São Judas, o apóstolo e mártir, tornou-se mártir; ele era filho de José, o carpinteiro, e um dos Setenta e Dois discípulos.
Este santo pregou em muitas cidades, e chegou à ilha onde pregou e construiu uma igreja.
Foi à cidade de Edessa e curou Abgar, o rei de Edessa, de sua enfermidade, batizando-o com o batismo cristão.
Depois disso, foi a Araz e pregou lá, batizando muitos de seus habitantes com o batismo cristão.
O governador daquela cidade o prendeu e o torturou com muitos tormentos; pregou-lhe ferrolhos nos pés, como sandálias, e o fez correr com eles a distância de um estádio, depois o pendurou e atirou flechas nele, e o santo entregou sua alma.
Antes de ser torturado, ele enviou uma Epístola aos fiéis, e essa Epístola é a sétima do Livro dos Apóstolos.
É repleto de sabedoria e graça, e por meio dele converteu muitos pagãos e os trouxe para a fé em nosso Senhor Cristo durante sua vida e antes de sua morte.
Saudações a Judá, cujos pés tinham ferros em brasa pregados. (Sinaxário Etíope, 25 de Senne (2 de julho)
Fonte 1: Texto traduzido de “Sinaxário Etíope”
Judas Tadeu no Ocidente:
“Aniversário dos bem-aventurados apóstolos Simão, o Cananeu, e Tadeu, também conhecido como Judas.
Simão pregou o Evangelho no Egito, e Tadeu, na Mesopotâmia.
Depois, entrando juntos na Pérsia, converteram a Cristo uma multidão incontável de habitantes e, em seguida, sofreram o martírio. (Martilógio Romano pré-conciliar, 28 de outubro)”
“Festa dos santos Simão e Judas, Apóstolos: o primeiro era apelidado Cananeu ou Zelota; o segundo, também chamado Tadeu, filho de Tiago, na última ceia perguntou ao Senhor acerca da sua manifestação, recebendo esta resposta: «Se alguém Me ama, guardará a minha palavra; meu Pai o amará; viremos a ele e faremos nele a nossa morada» (Martilógio Romano pós-conciliar, 28 de outubro)
Fonte 2: Texto retirado de “Martilogio Romano”
Judas, Tadeu e Lebeu?
A figura de Judas Tadeu, amplamente venerada como um dos doze apóstolos, é resultado de uma longa e complexa tradição interpretativa e hagiográfica que uniu, em uma única pessoa, diferentes personagens mencionados nas Escrituras.
As controvérsias sobre sua identidade giram em torno de três nomes principais: Judas, o apóstolo de Jesus (não o Iscariotes), Judas, o irmão do Senhor, e Tadeu, que aparece em algumas listas apostólicas.
A fusão dessas figuras em uma só deu origem ao que se pode chamar de uma “telescopagem” — isto é, uma sobreposição interpretativa e traditiva que simplifica as diferenças históricas em prol da coesão devocional e litúrgica.
Nos evangelhos e nos Atos dos Apóstolos, as listas dos doze variam levemente em seus nomes.
Mateus e Marcos mencionam um “Tadeu” (ou “Lebeu”), enquanto Lucas e os Atos falam de “Judas, de Tiago” (em grego, Ioudas Iakobou).
Essa variação textual já indica uma dificuldade antiga: seriam Tadeu e Judas de Tiago, a mesma pessoa, ou dois discípulos diferentes? A hipótese mais aceita na tradição cristã é a de que se trata do mesmo apóstolo, identificado por nomes distintos conforme a região e a língua das comunidades cristãs primitivas.
Assim, “Tadeu” ou “Lebeu” seriam apelidos aramaicos usados por Judas, o apóstolo, talvez significando algo como “de coração” ou “corajoso”.
A essa primeira sobreposição textual somou-se uma segunda, de natureza familiar e teológica: a possível identificação do apóstolo Judas com o “irmão do Senhor” mencionado em passagens como Mateus 13,55 e Marcos 6,3.
Nessas listas dos parentes de Jesus aparecem os nomes de Tiago, José, Simão e Judas.
Desde os primeiros séculos, os intérpretes se dividiram sobre se esses “irmãos” seriam filhos de Maria, mãe de Jesus, ou parentes próximos, filhos de José.
Alguns Padres da Igreja, como Jerônimo, defenderam que se tratava de primos, e que o “Judas, irmão do Senhor” seria o mesmo que “Judas, filho de Tiago”, um dos doze apóstolos.
Outros, no entanto, como Helvídio e, mais tarde, estudiosos modernos, rejeitaram essa identificação, afirmando que os “irmãos do Senhor” não faziam parte do grupo apostólico original, pois segundo o Evangelho de João, não criam em Jesus durante o início de sua missão.
A tradição oriental acabou por unir essas figuras.
A partir do período bizantino médio, consolidou-se a ideia de que Judas, irmão do Senhor, o autor da Epístola de Judas e o apóstolo Judas de Tiago — também chamado Tadeu ou Lebeu — eram uma só pessoa.
Essa unificação teve motivações tanto devocionais quanto práticas: facilitava a veneração de um único santo, fortalecia a coerência entre as diversas tradições locais e evitava confusões com Judas Iscariotes, o traidor.
A liturgia e os sinaxários bizantinos passaram a identificar, sob o dia 19 de junho, “Judas, irmão do Senhor” com “Judas, apóstolo e Tadeu-Lebeu”, estabelecendo uma continuidade entre as diferentes tradições apostólicas.
Essa fusão não ocorreu apenas por motivos teológicos, mas também hagiográficos e missionários.
Diversas comunidades cristãs do Oriente Médio preservavam tradições sobre um missionário chamado Tadeu que pregara na Síria, em Edessa ou na Mesopotâmia, associado à conversão do rei Abgar.
Outras tradições situavam sua morte e martírio na Pérsia ou na Armênia.
É provável que muitas dessas histórias originalmente se referissem a missionários distintos — um dos doze apóstolos e um dos setenta discípulos — mas, ao longo dos séculos, seus relatos foram entrelaçados, resultando em uma hagiografia única e simbólica de um apóstolo universal.
O resultado dessa sobreposição foi a formação de uma figura hagiográfica unificada, o “São Judas Tadeu”, portador de múltiplos nomes e tradições.
A telescopagem interpretativa permitiu que aspectos de diferentes Judas — o apóstolo, o irmão do Senhor e o missionário oriental — fossem condensados em uma só identidade.
Historicamente, essa fusão pode ser problemática, pois apaga distinções importantes entre as fontes, mas, no plano da tradição e da devoção, produziu um personagem mais coeso e espiritualmente representativo.
Na Igreja Ocidental, esse processo culminou com o culto a São Judas Tadeu como o “santo das causas impossíveis”, cuja veneração se espalhou amplamente a partir da Idade Média.
Assim, Judas Tadeu é uma figura construída pela tradição, resultado de séculos de interpretações convergentes.
Ele encarna, ao mesmo tempo, o apóstolo fiel de Cristo, o irmão do Senhor que testemunhou a fé, e o missionário que levou o Evangelho ao Oriente.
Essa síntese, embora dificilmente se sustente em termos históricos estritos, revela a maneira como a memória cristã moldou as figuras apostólicas: não como retratos biográficos precisos, mas como ícones vivos da fé e da comunhão dos santos.
Fonte 3: Texto produzido por Ian Nezen baseado no verbete “Judas”
Pintura:
A pintura apresentada é uma das representações mais conhecidas de São Judas Tadeu, apóstolo de Jesus Cristo e mártir da fé cristã.
O santo é tradicionalmente reconhecido como o padroeiro das causas difíceis e desesperadas, e sua imagem, profundamente simbólica, reflete tanto sua missão apostólica quanto sua intercessão poderosa junto a Deus.
Nessa obra, São Judas Tadeu é retratado em pé, com expressão serena e compassiva. Seu semblante reflete mansidão e confiança, características que o tornam um dos santos mais queridos pelo povo cristão.
Ele veste uma túnica branca, símbolo de pureza e santidade, coberta por um manto verde, cor que representa a esperança — virtude teologal que mais se relaciona com sua devoção, pois é a esperança que move os fiéis a recorrerem a ele nas horas de tribulação.
O fundo dourado, característico de muitas imagens sacras, indica a luz divina e a glória celestial que o envolve, lembrando que os santos participam da santidade e da luz eterna de Deus.
Um dos elementos mais marcantes é o medalhão dourado que São Judas Tadeu segura contra o peito, contendo a imagem de Cristo.
Este detalhe tem grande importância teológica e simbólica.
Segundo a tradição, durante a vida de Jesus, o rei Abgar de Edessa enviou um pedido a Cristo, buscando cura para uma grave enfermidade.
O Senhor, então, imprimiu miraculosamente a Sua imagem em um pano e o enviou por intermédio de Tadeu (Addai em siríaco).
Na Tradição Romana, Addai, Judas, Tadeu e Judas Irmão de Cristo são todos a mesma pessoa.
Por isso, o medalhão que ele carrega ao peito representa não apenas o “Santo Rosto de Cristo”, mas também a missão apostólica de São Judas: levar a imagem viva e a presença do Salvador ao mundo.
Assim, a medalha no peito do apóstolo é símbolo da fé que transmite a salvação e da íntima união entre ele e o Senhor.
Na mão esquerda, o santo segura um bastão ou cajado, sinal de sua condição de missionário e peregrino da fé.
Os apóstolos foram enviados por Cristo para anunciar o Evangelho a todas as nações, e o cajado indica o caminho percorrido, as viagens e os sofrimentos enfrentados por amor ao Evangelho.
É também símbolo de autoridade espiritual, pois Judas Tadeu, como apóstolo, é um dos fundamentos sobre os quais Cristo edificou a Sua Igreja.
O cenário em que São Judas Tadeu se encontra é simples e natural: ele pisa o chão firme, entre pedras e pequenas flores, sugerindo que o santo está próximo da terra e do povo.
A vegetação modesta e o ambiente de serenidade recordam que ele, embora glorificado no Céu, permanece próximo dos que sofrem na terra.
Essa proximidade espiritual é o que faz dele um intercessor tão querido, especialmente por aqueles que enfrentam dificuldades aparentemente impossíveis.
O halo dourado em torno de sua cabeça representa a santidade e a participação na glória divina.
Ele não apenas testemunhou Cristo, mas O seguiu até o fim, selando sua fé com o martírio. Segundo a tradição, Judas Tadeu pregou o Evangelho na Mesopotâmia, na Síria e na Pérsia, onde sofreu o martírio por fidelidade ao Senhor.
Sua coragem e fidelidade o tornaram exemplo de perseverança e confiança em Deus mesmo nas maiores adversidades.
Essa pintura, portanto, não é apenas uma imagem devocional, mas um verdadeiro ícone da esperança cristã. Cada elemento — o verde do manto, o branco da túnica, o medalhão com o rosto de Cristo, o cajado do missionário — compõe uma mensagem espiritual que fala diretamente ao coração dos fiéis: que a presença de Cristo é o verdadeiro remédio para os males humanos, e que, mesmo nas situações mais difíceis, há sempre um caminho de fé, confiança e entrega a Deus.
Ao contemplar essa obra, o cristão é convidado a recordar que São Judas Tadeu continua sendo, no Céu, um amigo e intercessor fiel, pronto a levar as preces dos aflitos ao coração misericordioso de Cristo.
Sua imagem nos lembra que a esperança nunca morre quando está firmada na fé, e que o amor de Deus, revelado em Cristo, age poderosamente por meio dos santos que o serviram com fidelidade até o fim.
Fonte 4: Texto produzido por Ian Nezen
Jude Thaddaeus in East:
On this day Saint Judah (Jude), the apostle and martyr, became a martyr; he was the son of Joseph the carpenter and was one of the Seventy-two disciples.
This saint preached in many cities, and he came into the island and preached therein, and built a church there.
And he went to the city of Edessa and healed Abgar, the King of Edessa, of his illness, and he baptized him with Christian baptism.
After this he went to ‘Araz and preached therein, and baptized many of the people thereof with Christian baptism.
And the governor of that city seized him and tortured him with many tortures; he nailed iron cases on his feet, like sandals, and made him run in them for the distance of a stade, and he hung him up, and shot arrows at him, and the saint delivered up his soul.
Before they tortured him he sent an Epistle to the believers, and that Epistle is the seventh in the Book of the Apostles.
It is full of wisdom and grace, and by its means he converted many of the pagans and brought them into the Faith of our Lord Christ during his lifetime and before his death.
Salutation to Judah (Jude), whose feet had red-hot iron cases nailed on them. (Ethiopian Sinaxaryum, 25 of Senne [2 of July])
Link dos artigos:
Link da fonte 1:
Link da fonte 2: https://www.liturgia.pt/martirologio/elogio.php?data=2025-10-28
Link da fonte 3: https://www.pravenc.ru/text/1237747.html
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