A Escada dos Céus de John Klimacus – Monte Sinai

Onde: Parede Escada

Sobre a Obra

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A Escada da Ascenção Divina – Monastério de Santa Catarina do Monte
Sinai

https://youtu.be/G4Dw-kFfcf4?si=CRInF2h58aJwVtuI


https://www.youtube.com/watch?v=G4Dw-kFfcf4


https://youtu.be/fZFlxWs04cA?si=Ky1FdDkp-JU-7tqq

Resumo:

A imagem ilustra um tratado escrito por John Klimacos, um monge cristão e
mais tarde abade do Mosteiro Ortodoxo de Santa Catarina, no Sinai, Egito. O
tratado foi escrito baseando-se na história de Jacó, contada no livro do
Gênesis, na primeira metade do século VII.

No livro Jacó teve um sonho em que via a escada que ligava o céu e a terra,
e por ela, os anjos subindo e descendo. O tratado, em resumo, dá os 30
passos para a evolução espiritual.

A pintura é uma representação da metáfora principal tratada no texto, e os
30 degraus da escada correspondem a cada um dos passos para a evolução
espiritual.

Visualmente, a escada cria uma linha diagonal que passa pelo centro do
ícone, dividindo-o em duas partes iguais. Ao acompanhar a movimentação
retratada na pintura, o espectador se depara com várias cenas que fazem
referência ao céu e ao inferno, as virtudes e os pecados, os anjos e os
demônios.

A obra de arte mostra os monges subindo pela escada, almejando conquistar a
salvação. A entrada dessas pessoas no céu, no entanto, não é certa, já que
os demônios puxam aqueles que têm a fé abalada durante a subida.


Os detalhes de A Escada da Ascensão Divina que se destacam:

1. Recepção divina:

Cristo aparece no topo da imagem, recebendo os bem-sucedidos homens de fé
que se aproximam do paraíso. Suas vestes são de cores vivas, em contraste
com os tons sombrios dos que estão no meio do caminho e com o preto dos
demônios abaixo.

2. Agentes de Lúcifer:

Nove figuras aladas e suspensas se esforçam para atirar flechas, lanças e
puxar os monges vacilantes para o inferno. As figuras servem de lembrete
para aqueles que perdem a fé no meio do caminho, mostrando o terrível
destino que os aguarda.

3. Aguardando a vez:

Na parte inferior da tela um grupo de monges observa os colegas na subida.
As mãos abertas dão a ideia de bênçãos e súplicas, abençoando os que estão
no caminho enquanto se preparam para a sua vez.

4. Boca do inferno:

Monges que sucumbem à tentação e ficam vulneráveis diante dos agentes de
Lúcifer são jogados na boca do inferno, para um destino desconhecido. Isso
permite que os homens de fé imaginem quais castigos e punições os sem fé
receberão.

Fonte:

https://www.universia.net/br/actualidad/vida-universitaria/conheca-escada-da-ascenso-divina-913668.html

“Os demônios frequentemente se transformam em anjos de luz ou mudam sua
aparência para a de um mártir, então eles vêm até nós durante nosso sono,
fazendo parecer que estamos em comunicação com eles. Depois que acordamos,
eles nos submergem em uma felicidade e orgulho profanos. No entanto, você
pode discernir seu ofício por este fato: os anjos nos mostram tormentos,
julgamentos e divisões. E depois que acordamos julgamentos para você. No
entanto, se o desespero o perturba, então esses sonhos também são dos
demônios.

Este é o terceiro passo, que é igual em número à Trindade. Aquele que o
alcançou, não olhe para descobrimos que estamos trêmulos e tristes. Uma vez
que começamos a acreditar nos demônios nos sonhos, então eles também fazem
o que querem conosco quando estamos acordados. Aquele que confia nos sonhos
é verdadeiramente um novato. Mas aquele que não acredita em sonhos é
inteligente. Confie apenas em sonhos que revelem torturas e julgamentos
para você.”

Escrito por São João do Sinai

A Escada do Céu

O livro trata das paixões que se encontram na luta pela iluminação
espiritual, listando-as em ordem crescente, das mais pragmáticas às mais
espirituais, e conclui com o capítulo “Sobre o amor, a esperança e a fé”.

A Escada tornou-se um dos livros mais amados e lidos sobre a vida
monástica, lido pelos monges de todos os tempos. Isto é evidente pela
multidão de cópias manuscritas, bem como pela tradução inicial da obra do
grego para outras línguas (latim, siríaco, árabe, armênio e eslavo) e, mais
tarde, para muitas línguas. do mundo moderno.

São João do Sinai também é conhecido como João “da “Escada” devido ao
título de seu aclamado livro sobre ascetismo e teologia Klimax (a Escada da
Ascensão Divina) que ele escreveu com base na visão bíblica de Jacó.

Ele viveu durante o século VI (provavelmente entre 526 e 603 ou pouco mais
tarde), como asceta no deserto do Sinai. Por algum tempo serviu como abade
do Mosteiro do Sinai. Ele se distingue como um importante professor de vida
espiritual cristã e figura emblemática da tradição monástica do Oriente e
do Ocidente, São João iniciou a sua vida monástica como eremita no Sinai,
aos dezesseis anos, sob a orientação espiritual do ancião Martyrios, tendo
já adquirido uma educação superior no mundo exterior.

Após a morte de seu pai espiritual, ele viveu em reclusão e oração por
cerca de quarenta anos em um local próximo chamado Tholas, onde alcançou um
alto nível de santidade, e ascendeu como a quintessência líder do
monaquismo do Sinai de seu tempo.

Na sua velhice foi convidado a assumir o cargo de abade do Mosteiro do
Sinai, onde permaneceu apenas por um curto período de tempo, estabelecendo
as bases sólidas da vida espiritual da irmandade, pois preferiu regressar
ao seu eremitério em Tholas, onde finalmente faleceu.

O auge do percurso do Santo coincide com um período de transição crucial
para o deserto do Sinai. A construção do complexo de edifícios do mosteiro
por Justiniano estabeleceu as bases para o desenvolvimento de uma forte
tradição monástica ‘lavra’ e cenobítica no Sinai, enquanto o modo de vida
eremítico e solitário também prosperou na mesma área.

São João deixou a sua marca indelével em toda esta atividade monástica, não
só através da realização espiritual da Escada e da sua vida santa, mas
possivelmente também através dos seus esforços de organização, muitos dos
quais sobrevivem e são evidenciado até hoje.

A pesquisa moderna identificou João com o patrono espiritual da composição
do mosaico religiosamente significativo da Transfiguração (c. 565) na
abside do Katholikon do Mosteiro de Santa Catarina no Monte Sinai,
representando um jovem João, provavelmente o Santo, durante os seus anos
como diácono.

A sua obra foi escrita no final da sua vida, em resposta ao pedido do abade
do Mosteiro de Raithou para fornecer orientação espiritual. A obra resume a
sabedoria espiritual, a experiência e os feitos da luta ascética de uma
vida inteira.

A Escada do Céu é composta por trinta capítulos, nos quais João analisa com
maestria as virtudes e que liga o Mosteiro do Sinai ao Santo Cume dos Dez
Mandamentos também lhe foi atribuído, pois o nome Abade João é encontrado
na inscrição em grego do arco do caminho; ao mesmo tempo, há uma associação
muito clara entre a árdua construção dos degraus de pedra do caminho para o
Cume Santo e o longo tempo necessário para progredir nos degraus
espirituais da Escada Divina. Também outras obras de construção, como a
construção da capela da Fogueira Santa a leste da abside de Katholikon,
estão possivelmente ligadas à atividade de João no mosteiro no final do
século VI.

São João foi recentemente ligado à figura desconhecida de um ancião João,
que descobriu em Nafkrati o Relatório de Ammonios sobre o primeiro massacre
dos Quarenta Santos Padres do Sinai, traduzindo e possivelmente revisando
em grego um texto original no “Egípcio”.

Talvez não seja por acaso que uma inscrição funerária do século VI contendo
um hino, elaborado precisamente em reverência a estes mártires, e
conservado pelo menos desde a Idade Média no Mosteiro de Katholikon,
ostenta duas vezes o monograma Padre (presbítero) Ioannis.

Assim, pode ser que tenha sido o próprio São João quem cuidou da recolha
das tradições orais e da promoção da reverência destes santos locais. Na
mesma linha, investigadores propuseram recentemente que São João também
poderia estar associado ao texto mais antigo que sobreviveu que conta o
Martírio de Santa Catarina.

João Klimacus também experimentou a vida monástica do Egito, durante uma
curta estadia – como se constata, de acordo com a Escada – nos centros
monásticos proeminentes da região.

Esta visita foi considerada um esforço deliberado ou mesmo uma missão,
destinada a dar o impulso necessário para organizar a vida cenobítica no
recém-criado Mosteiro do Sinai.

MMK


Fonte: The Monastery of Mount Sinai and its Sacristy – 2020, pg. 45

A Escada da Ascenção Divina, do Céu, do Paraíso ou de Jacó

Prefácio do Livro

Adiante um resumo dos ensinamentos de John de Climacus na visão do Bispo
Kallistos e de João Mendes de Almeida Júnior – Resumo do livro The Ladder
of Divine Ascent – The Classics of Western Spirituality – Edit. Pauslist
Press. 1982. e A Escada do Céu. Edit. Ecclesiae. 2019.

João de Climacus, nasceu em torno do ano 575, ingressou no Monastério de
Santa Catarina no Sinai com 16 anos de idade, e daí partiu para morar 40
anos em uma caverna e após isto foi convidado pelos monges para dividir seu
conhecimento com o mundo.

Seu livro escrito em torno do ano de 600 é um dos mais lidos por todos os
cristãos para seguir a Cristo e se tornar “como Deus”, para imitar
e agir como Ele, abandonando o mundo para atingir a perfeição do amor e
crendo totalmente na Trindade Divina.

A Escada de Ascenção Divina (A Escada de Jacó, A Escada do Céu), mostra o
caminho para o Divino e como não cair no inferno. Este livro foi dividido
em 30 capítulos, sendo que os 23 primeiros tratam de como superar as
tendências destruidoras, os vícios e somente os 7 últimos tratam do amor,
da paz e da graça de Deus.

A estrutura básica dos trinta degraus (e nomes dos capítulos) da Escada da
Ascenção Divina foi representada e comentada da seguinte forma pelo bispo
Kallistos, autor de um detalhado prefácio de seu livro em inglês.

I. A ruptura com o mundo

1. Renúncia

2. Desapego

3. Exílio

II. A Prática das Virtudes (“Vida Ativa”)

(i) Virtudes Fundamentais

4. Obediência

5. Penitência

6. Lembrança da Morte

7. Tristeza

(ii) A luta contra as paixões

(a) Paixões predominantemente não-físicas

8. Raiva

9. Malícia

10. Difamação

11. Falabilidade

12. Falsidade

13. Desânimo

18-20. Insensibilidade

21. Medo

22. Vangloria

23. Orgulho (também blasfêmia)

(b) Paixões físicas e materiais

14. Gula

15. Luxúria

16-17. Avareza

(iii) Virtudes mais elevadas da “vida ativa”

24. Simplicidade

25. Humildade

26. Discernimento


III. União com Deus (transição para a “vida contemplativa”)

27. Quietude

28. Oração

29. Desapego

30. Amor

Adiante, um longo resumo deste livro de João de Climacus que é um dos
maiores tesouros do cristão que almeja estar próximo de Jesus. Eis o
verdadeiro caminho da iluminação.

João Mendes de Almeida Júnior no prefácio do Livro “A Escada do Céu”,
versão brasileira do livro de Climacus feito pela editora Eclesiae, 1ª
edição em 2019, conta um pouco sobre a vida do santo da escada:

“Escolheu sua caverna em um lugar chamado Tola, a cinco milhas de uma
igreja; e, a essa igreja, aos sábados e domingos, vinha ele, como os outros
solitários, para ouvir a Missa e comungar. Assim perseverou, por espaço com
grande alegria trabalho de mãos, meditação das grandes verdades da
religião, sobretudo a meditação da morte. Sua abstinência era perfeitamente
regulada: comia de tudo, porém em mínima quantidade, a fim de que, comendo
de tudo, evitasse a nota de singularidade e vanglória, e, comendo pouco,
vencesse a intemperança. De tal maneira apagou a chama da luxúria, que já
não lhe dava esforço a resistência aos incentivos da carne.

Venceu a avareza, essa idolatria dos bens da terra, na frase do Apóstolo,
com a largueza e misericórdia para com os outros e com a escassez para
consigo,

a fim de contentando-se com o pouco, não tivesse necessidade de cobiçar
o muito, que é o próprio desta pestilência

.

Venceu a acídia e a preguiça com a memória da morte.

Venceu a ira com a obediência.

Venceu a soberba e a frota de vícios que ela traz consigo, levantando
contra ela a memória da Paixão de Cristo e a virtude da humildade.

Deus lhe concedeu o dom das lágrimas; ele recolhia-se a uma cova, situada à
raiz do monte, para secretamente e longe dos outros solitários levantar
vozes ao céu, gemer, suspirar, chorar, como se recebesse cautérios de fogo,
cortes de ferro afiado, e como se lhe estivessem arrancando os olhos.
Dormia apenas o suficiente para conservar a substância do entendimento e
não desfalecer com a demasia das vigílias.

O curso de sua vida era perpétua oração e constante exercício no amor de
Deus; e o seu descanso consistia em ler os Livros Sagrados e os Santos
Padres, especialmente São Gregório Nazianzeno, São Basílio, São Cassiano e
São Nilo”.

Nas palavras do bispo Theophan, o recluso: “A oração é a prova de tudo …
Se a oração é correta, tudo está certo “.

Ação de graças, penitência, petição – essa é a sequência básica a ser
seguida quando se ora. A Ação de Graças deve ter o primeiro lugar em nosso
livro de oração e, a seguir, confissão e contrição genuína.

Que a lembrança da morte e que a Oração para Jesus (Jesus Prayer)
seja praticada antes de dormir e ao acordar. Esta oração é extremamente
útil na hora que se for pegar no sono.


Oração para Jesus (Jesus Prayer) conforme apresentado por Diadochus de
Photice e combinada com a saudação inicial dos ortodoxos

:

“Lorde Jesus Cristo, Filho de Deus, Tenha Piedade de mim!

Senhor Jesus Cristo, Tenha Piedade de mim!

Senhor Jesus Cristo, salve-me!

Mestre Jesus Cristo, proteja-me!

Jesus, socorra-me!”

Esta oração é uma arma contra os demônios! Não há nada mais poderoso no Céu
ou na Terra, talvez somente a mesma oração no plural, pois fica ainda mais
forte e abrangente:

“Lorde Jesus Cristo, Filho de Deus, Tenha Piedade de nós!

Senhor Jesus Cristo, Tenha Piedade de nós!

Senhor Jesus Cristo, salve-nos!

Mestre Jesus Cristo, proteja-nos!

Jesus, socorra-nos!”

Jesus Prayer é uma oração tão poderosa por conta de sua simplicidade,
ajudando a extirpar todos os pensamentos e a concentrar os pensamentos na
pureza da oração. Eis algo essencial para desenvolver a quietude, passo
essencial da iluminação que é relatado no Livro.

Esta referida quietude é a ausência de pensamentos durante a oração, a
ausência de imagens sensoriais durante a oração. Concentre-se nesta oração
com intensidade. A quietude é louvar a Deus sem parar e com uma oração
Jesus Prayer simplificada:

“Nosso Senhor Jesus Cristo, Tenha Piedade de mim!

Eu Louvo a Deus, meu Senhor Jesus, socorre-me!”

A fé maior abunda no coração, mas o corpo se torna ansioso. Mas aquele que
desiste por não confiar já tropeçou, pois tudo o que não vem da fé é
pecado.

A essência da perfeição consiste paradoxalmente no fato de que nunca nos
tornamos perfeitos, mas que avançamos incessantemente de “glória em
glória”. A razão para essa visão é que ele encara a vida eterna em termos
de amor pessoal.

A gula é um vício, mas comer não é pecaminoso. Não há nada errado em
saborear nossa comida. A prática do jejum não implica condenação na ação
de comer, mas serve para tornar essa ação sacramental e eucarística.

Até a raiva pode ser usada para um bom uso. Quanto ao impulso sexual, este
também é um dom divino e tem seu papel a desempenhar na vida do espírito.

João não tem medo de aceitar o termo amor físico, eros – que tem
no grego muitas das mesmas associações que a palavra inglesa “erótico” – e
aplicá-lo ao nosso amor a Deus. O impulso erótico não deve ser suprimido,
mas redirecionado:

Observei almas impuras loucas por amor físico (eros), mas
transformando o que elas sabem desse amor em uma razão de penitência e
transferindo a mesma capacidade de amar (eros) ao Senhor.

Um homem casto é alguém que expulsou o amor corporal (eros) por
meio do amor divino (eros), que usou o fogo celestial para apagar
o fogo da carne. O fogo é extinto pelo fogo, e não pela água!

Embora João diga que o “amor corporal” – que significa uma queda neste
contexto – Eros impuro – deve ser “expulso”, verifique se o seu
lugar deve ser tomado, não por um estado de desapego frígido, mas por um
“impulso erótico divino”:

O amor físico pode ser um paradigma do desejo de Deus…

Sorte o homem que ama e anseia por Deus como um amor apaixonado por sua
amada…

Alguém verdadeiramente apaixonado mantém diante de sua mente o rosto do
amado e o abraça com ternura. Mesmo durante o sono, o desejo continua
desagradável, e ele murmura para sua amada. É assim que é para o corpo. E
é assim que é para o espírito.

A importância dessas passagens foi enfatizada corretamente pelo Dr.
Yannaras.

Eros físico, portanto, não deve ser considerado pecaminoso, mas pode ser
usado como uma maneira de glorificar a Deus. O pecado é mau, mas não o
corpo e seus impulsos naturais. A pecaminosidade da paixão reside, não na
materialidade – pois, como a criação de Deus, o corpo material é bom e, de
qualquer forma, nem todas as paixões são físicas – mas no desvio da vontade
humana.

O pecado não é material, mas espiritual em sua origem; pois o diabo caiu
antes que o homem o fizesse, e o diabo não tem corpo.

Essas conclusões sobre eros, o corpo e as paixões são confirmadas
por uma análise do termo “desapego” (apatheia), como usado por João
no Degrau 29 e em outros lugares na Escada.

O desapego não é negativo, mas positivo: Santo Diadochus de Photice (meados
do século V) fala até do “fogo do desapego”.

É uma negação das paixões, considerada a expressão contranatural da
pecaminosidade caída, mas é uma reafirmação dos impulsos puros e naturais
de nossa alma e corpo. Conota não repressão, mas reorientação, não
inibição, mas liberdade.

Vencendo as paixões, somos livres para sermos nossos verdadeiros eus,
livres para amar os outros, livres para amar a Deus.

O desapego, portanto, não é uma mera mortificação das paixões, mas sua
substituição por uma energia nova e melhor.

João define desapego, não como uma forma de morte, mas como “ressurreição
da alma anterior à do corpo”.

João enfatiza o caráter dinâmico e afirmativo do desapego, associando-o de
perto ao amor, a tal ponto que ele virtualmente identifica os dois: amor,
desapego e apego são distinguidos pelo nome e somente pelo nome.

Ter desapego é ter a plenitude do amor, a habitação completa de Deus.

O desapego, portanto, não é indiferença ou impassibilidade, mas amor
ardente, não vazio, mas a plenitude da habitação divina. Enquanto na ética
estóica tende a ser um estado de desapego individualista e egocêntrico,
como usado em Na Escada da Ascenção Divina, implica um relacionamento
pessoal.

Ser “desapaixonado” é se relacionar com Deus, ter Sua energia ativa dentro
de nós:

“Um homem é verdadeiramente desapaixonado na presença do Senhor”.

Uma coisa que desapego certamente não significa para João é a imunidade de
Deus. Tentação, impecabilidade, uma condição na qual não somos mais capazes
de pecar. João está totalmente claro que tal estado não é possível “deste
lado da sepultura”.

Diz-se dos anjos que eles não, ou, como alguns gostariam, que eles não
podem cair. Mas os homens caem, mas podem rapidamente se levantar
novamente, sempre que isso lhes acontecer.

João concorda com Isaque, o Sírio: “O desapontamento consiste, não mais em
sentir as paixões, mas em não aceitá-las”.

A ressurreição, como um relacionamento pessoal com Deus no amor, desapego
significa o retorno ao estado não caído do homem, a recuperação da “beleza
eterna” que ele possuía “antes de vir do barro”.

No paraíso, o homem não era uma alma desencarnada, mas uma unidade de alma
e corpo, um todo psicossomático; e, portanto, o desapego, como o retorno ao
paraíso, envolve não o repúdio do corpo e seus impulsos, mas a reintegração
deles com a alma e a libertação da “corrupção”.

A Invocação, a Oração, é por natureza um diálogo e uma união do homem com
Deus. Como tal, é de alcance cósmico, a fundação do universo: “Seu efeito
é manter o mundo unido”, eis o fim primário para o qual a pessoa humana foi
criada: “Que bem maior existe do que se apegar ao Senhor e perseverar em
uma união incessante com Ele?”

A Luz Divina e o Amor Divino

Esse é o objetivo de todo ser humano, enquanto ele sobe a escada invisível:
um toque direto, um simples olhar de Deus, contínuo e livre de imagens
mentais e pensamentos discursivos. E o que há além disso? John é
reservado.

Ele não usa o idioma da “deificação” ou “divinização” (teose), difundida
entre os Padres Gregos. Mas, embora não ofereça descrições detalhadas,
fornece algumas dicas. ]

O nível mais alto de oração, ele diz, é o “arrebatamento (arpagi) no
Senhor”, mas ele não desenvolve o argumento. Uma vez que ele alude a uma
experiência visionária própria, evidentemente isso era de caráter estático,
pois ele lembra as palavras de São Paulo (2 Cor. 12: 2) “e se, durante tudo
isso, eu estava no corpo ou fora dele, não posso dizer com razão”. No
entanto, nessa visão, não foi com o próprio Cristo que João falou, mas com
um anjo.

Além disso, é uma passagem isolada; ele não fala mais – onde receber tais
visões. No entanto, ele se refere em vários lugares a experiências de luz
ou iluminação, embora não seja fácil determinar até que ponto a linguagem
pretende ser mais do que metafórica. As principais passagens são as
seguintes:

(1) Superada pela castidade, a luxúria em nossas almas “recebe aquela luz
não material (aÿlon) que brilha além de todo fogo”.

(2) A pureza do coração leva à “iluminação”. Isso é algo indescritível, uma
atividade ou energia que é percebida sem perceber e invisível.

(3) “O monge verdadeiramente obediente geralmente se torna repentinamente
radiante e exultante durante suas orações”.

(4) Sobre humildade: “Você saberá que possui este dom sagrado quando
experimentar uma abundância de luz indescritível”.

(5) “Para os perfeitos, há um aumento e, de fato, uma riqueza de divinas
luzes …. Uma alma, libertada de seus antigos hábitos e também perdoada,
certamente viu a luz divina.

(6) “Além desses, há o caminho do êxtase (ekstasis), o caminho da mente
misteriosamente e maravilhosamente transportados para a luz de Cristo.

(7) Alguns emergem da oração “como se fossem resplandecentes da luz.”

(8) “Quando o coração está alegre, o rosto fica radiante e um homem
inundado de amor de Deus revela em seu corpo, como se fosse um espelho, o
esplendor de sua alma, uma glória como a de Moisés, quando ele ficou cara a
cara com Deus”

(9) Finalmente, há uma longa passagem no final da obra Para o Pastor, na
qual o pastor é comparado a Moisés que viu o fogo de Deus.

A eternidade é progresso, porque a eternidade é amor: e uma relação de amor
entre duas pessoas nunca é estática, nunca é explorada exaustivamente, mas
implica sempre estar fresca com crescimento, movimento e descoberta. O
mesmo que acontece entre pessoas humanas, assim é entre as pessoas divinas
da Santíssima Trindade e assim é entre a alma humana e Deus.

João é muito insistente quanto à primazia do amor, concordando aqui com seu
contemporâneo São Máximo, o Confessor. É o amor que faz a pessoa humana se
assemelhar a Deus “na medida em que isso é humanamente possível”.

O amor permanece mais alto do que qualquer visão ou êxtase, mais alto do
que qualquer revelação mística. Evagrius, em seu esquema de ascensão
espiritual, considerava a gnose (o conhecimento) superior ao amor; mas para
João o cume da escada é o amor, e não pode haver nada mais alto que isso.

Depois de todas as suas palavras negativas contra o pecado, depois de todas
as suas austeras exigências de abnegação, São João Climacus conclui o
capítulo final da Escada dizendo que temos que subi-la por nossa conta
própria e com palavras inteiramente positivas:

“O amor é o maior de todas as virtudes”.

Exortação Final

Ascendam, meus irmãos, ascendam avidamente. Subam, subam. Deixem os
corações subirem. Ouça a voz de quem diz: “Vinde, subamos ao monte do
Senhor, à casa de nosso Deus”, que faz com que nossos pés sejam como os pés
do cervo, e nos pôs nos lugares altos, para que sejamos triunfantes no
caminho.”

Correi, rogo-vos, ao lado daquele que diz: Apressemo-nos a receber o Senhor
em unidade de fé e conhecimento de Deus.

Vamos nos apressar até que todos cheguemos a unidade da fé e do
conhecimento de Deus, na idade adulta.

Jesus Cristo está posto no trigésimo degrau desta escada espiritual, porque
Jesus Cristo é Deus e Deus é caridade, como disse São João.

A Jesus Cristo, Deus e Homem verdadeiro, império, fortaleza, causa de todos
os bens, a Jesus Cristo vitória e louvor, assim como foi, é, e será por
todos os séculos dos séculos. Amém.

Saint John of Sinai – Author of the Klimax

The passions that one encounters in the struggle for spiritual
enlightenment, listing them in an ascending order from the more pragmatic
to the more spiritual, and concludes with the chapter “On love, hope and
faith”.

The Ladder became one of the most beloved and widely read books on monastic
life, read by monks of all times. This is evident from the multitude of
manuscript copies, as well as the early translation of the work from Greek
to other languages (Latin, Syriac, Arabic, Armenian, and Slavonic), and,
later on, to many languages of the modern world.

Saint John of Sinai is also known as John “of the Ladder” from the title of
his acclaimed book on asceticism and theology Klimax (the Ladder of Divine
Ascent) that he authored based on the biblical vision of Jacob.

He lived during the sixth century (most probably between 526 and 603 or
little later), as an ascetic in the Sinai desert. For some time he served
as abbot of the Sinai Monastery. He is distinguished as a leading teacher
of Christian spiritual life, and an emblematic figure of the monastic
tradition of both East and West. Saint John started his monastic life as a
hermit in Sinai at the age of sixteen under the spiritual guidance of the
elder Martyrios, having already acquired a higher education in the outside
world.

After the death of his spiritual father, he lived in seclusion and prayer
for about forty years in a nearby location named Tholas, where he attained
a high level of sanctity, and rose as the quintessential leader of Sinai
monasticism of his time. In his old age he was asked to take on the
position of abbot of the Sinai Monastery, where he remained for only a
short period of time, setting the solid foundations of the brotherhood’s
spiritual life, as he preferred to return to his hermitage in Tholas, where
he finally passed away.

The height of the Saint’s course coincides with a pivotal transition period
for the Sinai desert. The construction of the monastery’s building complex
by Justinian set the foundations for the development of a strong ‘lavra’
and cenobitic monastic tradition in Sinai, while the eremitic and solitary
way of life also thrived in the same area.

Saint John set his indelible seal on the whole of this monastic activity,
not only through the spiritual accomplishment of the Ladder and his saintly
life, but possibly also through his organizing efforts, many of which
survive and are evident today.

Modern research has identified John with the spiritual patron of the
composition of the re- ligiously significant mosaic of the Transfiguration
(c. 565) in the apse of the Monastery’s Katholikon of Saint Caterine
Monastery in Mont Sinai, depicting a young John, probably the Saint, during
his years as a deacon.

His work Klimax was written towards the end of his life, in response to the
request of the abbot of the Raithou Monastery to provide spiritual
guidance. The work sums up the spiritual wisdom, experience and feats of