Nossa Senhora d´Ajuda
500 anos da evangelização do Brasil
“Pero Vaz de Caminha, em 1500 escrevia assim:
“…Essa terra é graciosa em tal maneira que, querendo aproveitá-la, tudo dará nela, por causa das águas que tem”… Devido à água milagrosa de Nossa Senhora, ainda hoje milhares de romeiros e turistas acorrem a este lugar. E se nós, missionários redentoristas assumimos o trabalho evangelizador no Santuário de Nossa Senhora d’Ajuda, não é por acaso, mas… “o fato de Nosso Senhor nos haver até aqui trazido, creio que não o foi sem causa.
E portanto a Vossa Alteza, que tanto deseja acrescentar à santa fé católica deve cuidar da salvação deles”… “O melhor fruto desta terra se pode tirar, me parece, que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza nela (terra) deve alcançar.”
As lendas da água milagrosa
O famoso pregador jesuíta, José de Anchieta, escreveu no início do século XVII sobre “sonoro brando sussurro da água que milagrosamente jorrou da fonte fora do frontispício da igreja, ao pé de uma frondosa árvore, quando o Pe. Francisco Pires celebrava ali o santo sacrifício da missa”.
Além de Anchieta, outros autores apresentam várias versões sobre o milagre d’água, ente eles, o Pe. Simão de Vasconcelos na sua “Crônica da Companhia de Jesus no Estado da Bahia”, na edição de 1864 escreve: “Um lenhador, habitante de um rancho colmoso à aurela da costa, subindo certo dia o ápice da montanha, de repente topou surpreso em um calhau: era milagrosa santinha. Tornando-se um ermitão peregrinava em tomo, fazendo curas milagrosas, cujos proventos se destinavam ao levantamento de uma igreja, a que deu o nome de Nossa Senhora d’Ajuda”.
Existe uma outra lenda: “vendo um irmão um tronco de uma árvore muito grande junto à ermida, pediu a Nossa Senhora o milagre de lhe dar água naquele lugar. Pe. Nóbrega, que estava presente disse: “mais podia a Senhora”. Quando todos foram rezar a missa, no meio do santo sacrifício, arrebentou de súbito um grande jorro de água no lugar assinalado no tronco da arvore, junto ao altar de Nossa Senhora”.
Uma outra versão diz: “No alto de uma planície, morava um fazendeiro que não gostava de ver passar pelas suas terras, aqueles religiosos, que iam e viam carregando a água. Um dia, não suportando mais a invasão, determinou a proibição dessa passagem. Logo os fiéis não pararam de rezar, a suplicar o milagre de uma fonte de água, para seu trabalho, sua sede, o que, num momento, aconteceu em plena hora da missa. E o fazendeiro, arrependido, resignou-se à religião cristã e comungou com os fiéis, unindo-se a eles”.
Segundo o Pe. Serafim Leite, na sua “História da Companhia de Jesus”, edição 1945, afirma que foi Vicente Rodrigues o descobridor da fonte:
“Foi no tempo da construção da primeira casa. Estando lá 02 padres, Vicente Rodrigues e Francisco Pires, quis o próprio Deus e a terra se abriu e surgiu a mais famosa fonte que até agora há naquela terra”.

Igreja Nossa Senhora D´Ajuda em Arraial da Ajuda na Bahia
História do Arraial d’Ajuda (Primeiro Santuário Mariano do Brasil) e a origem do nome
O Santuário fica localizado a 05 quilômetros de Porto Seguro, no Arraial d’Ajuda, na Costa do Descobrimento, cerca de 750 km de Salvador. O Arraial de Nossa Senhora foi mais uma homenagem a Tomé de Souza e aos primeiros jesuítas que aqui chegaram em 1549, com suas 03 naus: Conceição, Salvador e Ajuda, que viriam a ser nomes de cidades e de suas primeiras igrejas. O Arraial não participou da chamada “rede urbana do século XVI” como Porto Seguro e Cabrália. Antes da construção da capela de palha só havia um planalto com uma plantação de um canavial. Na formação do povoado ajudou o ciclo da cana- de-açúcar e a partir de 1720, o do cacau. Tiveram influências também de outras culturas como piaçava, farinha de mandioca e pesca. Mas a maior de todos, sem dúvida, foi a peregrinação religiosa de centenas de pessoas que vinham em romaria e outros que mandavam buscar a água. Propagado pelos jesuítas que “fez Nossa Senhora mercê de abrir milagrosamente aquela fonte”, a boa nova do milagre se espalhou por todas as capitanias do Brasil. Em 1763, o Ouvidor Tomé Couceiro de Abreu escreve ao rei de Portugal sobre as “Vilas e Rios da Capitania do Porto Seguro” onde fala do Trancoso, Vale Verde, mas não menciona o Arraial. Há algumas hipóteses de que Arraial d’Ajuda seria a antiga Vila de Santo Amaro, ou que se chamava de “Vila de Insuacome”. Até o início do século XIX o Arraial d’Ajuda parecia não existir com alguma notoriedade maior. Na formação da população do atual Distrito de Nossa Senhora d’Ajuda tiveram influência de vários grupos étnicos; os indígenas (índios Pataxós), negros e os estrangeiros (portugueses, franceses. holandeses, ingleses e espanhóis).
No “Santuário Mariano”, de 1722, o frei Agostinho observa: esta ermida começou de paus, ramos, era coberta de folhas de palma como são feitas muitas casas na América. E logo que o Pe. Nóbrega colocou no altar a Senhora da Ajuda começou a obrar infinitos milagres e maravilhas, que ainda até o presente continuam.
A construção da Igreja de Nossa Senhora d’Ajuda começou, provavelmente, em 1550, pois os jesuítas só aqui chegaram em dezembro de 1549. A ermida era, inicialmente, uma igrejinha, coberta de palha, como foi o costume na época, e tinha um altar de saudação a Nossa Senhora com seu retábulo ou imagem móvel, que se podia retirar com facilidade.
A Igreja é de relevante interesse arquitetônico e histórico, com nave, capela-mor, corredores superpostos, sacristia e torre. Telhados de duas águas recobrem a nave e capela-mor e de meia água, a sacristia. Quatro coruchéus (ornamentos em forma de pirâmide) marcam as esquinas da nave. O corpo principal da fachada é coroado por frontão barroco em volutas. Torre sineira, do lado direito, com terminação piramidal. O interior, bastante modificado, conserva arco cruzeiro com cantaria e armário embutido com porta almofadada, arcaz e nicho com imagem de São Brás, na sacristia. A reconstrução definitiva “à moderna, de pedra e cal” foi executada em 1772, por determinação do Ouvidor do Porto Seguro, José Xavier Machado Monteiro.
As restaurações, segundo o IPAC, foram as seguintes:
1930 – construção do atual altar-mor
1966 – o interior da nave é decorado com painéis
1969 – reparo do telhado e pintura externa pelo SPHAN.
Em 1939, o então diretor do Serviço do Patrimônio Histórico Nacional, Rodrigo Mello, escreveu: “a igreja de Nossa Senhora d’Ajuda teve todo o seu interior completamente remodelado, o que impossibilita qualquer tentativa de restauração”.
O arrimo que sustenta o terrapleno da Igreja estava apresentando rachaduras e foi contido pelo muro de proteção. Contam os moradores do lugar que em junho de 1980 foram roubadas algumas alfaias da Igreja. Entre a imaginária destacam-se as de Nossa Senhora d’Ajuda, Santo Amaro, Crucificado e uma pequena imagem, a primitiva, de Nossa Senhora d’Ajuda, considerada milagrosa. O lampário e 06 castiçais de prata completam o acervo.
A igreja permanece como o marco mais antigo do lugar. Repicando o sino bem cedo a igreja às vezes muda de cor, branco, azul ou amarelo, azul e branco.
O escritor José da Silva Campos registra uma lenda sobre a construção da “Capela d’Ajuda”.
Quando foi construída a igrejinha apresentava posição inversa da atual. A imagem, porém, amanhecia com as costas para o mar. Eles então deram posição contrária ao Santuário, como se vê hoje. Diz o mesmo autor que da igreja parte um subterrâneo misterioso, o qual encerra os fabulosos tesouros abandonados pelos jesuítas do Colégio da Capital, na ocasião em que foram expulsos pelo conde de Oeiras.”
Fonte: Livro Santuário Mariano Arraial d´Ajuda – Pe. José Grzywacz – Missionário Redentorista.