Akenaton, Nefertiti e sua filha Meritaton louvando o Deus Sol com uma oferenda de água – papiro de Adel Hassan

Sobre a Obra

Akenaton, Nefertiti e sua filha Meritaton louvando o Deus Sol Aton com uma oferenda de água

Ainda de acordo com Salvat (2013):

Aton não era o sol dos tempos imemoriais, mas sim o disco solar que diariamente aparecia no céu. Sendo assim, ele não era confundido com Rá. Desde o momento em que o faraó se tornou seu sumo sacerdote, todos os demais deuses foram ofuscados por Aton. Esta divindade solar foi exaltada por Amenhotep IV até ser elevada à categoria de deus único (…).

Desafiando todos os sacerdotes, o faraó (que passou a se chamar Akhenaton) decretou que o disco solar deveria ser reverenciado por todos em todos os lugares.

Aton foi representado de forma simples, ou seja, como um disco solar elevado no céu. Ao ser uma fonte permanente de vida, as extremidades de seus raios eram decoradas com mãos que seguravam cruzes da vida ankh. Todo mundo podia rezar para o astro solar, embora apenas Akhenaton pudesse escutá-lo, dado que o faraó era o único e verdadeiro intermediário entre a divindade e os homens. Por esta razão, qualquer representação de Aton era acompanhada pela imagem de Akhenaton (…).

Aton pulverizou o tradicional panteão egípcio, dado que a partir de então já não havia nenhum outro ser divino além do disco solar. (…) Aton nascia e morria todo dia, no entanto, ele era sempre o mesmo, sem começo nem fim, o deus representava a própria eternidade. (…) Este deus benfeitor distribuía sua bondade para todos e valorizava a família e a natureza.

O deus era um gerador de vida, como evidenciam as cruzes da vida ankh que carregava nas mãos. Assim, parece que a sua única relação de ordem divina era com Maat, a pequena deusa da justiça e da verdade. Esta entidade do panteão egípcio parecia mais um conceito divino da verdade do que uma verdadeira deusa, como Hator ou Ísis.

Com Aton foi inaugurada a era da “democracia religiosa”. O clero foi reduzido ao mínimo, dado que cada ser humano podia dirigir-se ao deus através de si mesmo. (…) De fato, a imagem de Aton faz com que não saibamos se se trata de um homem, uma mulher ou ambos. Podemos intuir que Akhenaton queria justamente isso, no intuito de transmitir que as diferenças eram mera aparência, argumento este que se baseava em um mundo ideal, para não dizer utópico.

Aton, sendo um deus único, não tinha esposa, nem família e nem filho. (…) A terra era sua filha e o faraó, o seu filho mais distinto, embora não fosse o único, dado que todo homem e toda mulher do Egito eram filho ou filha de Aton, irmãos e irmãs uns dos outros. Como dizem os textos, ele era o “pai de toda vida”. De fato, estas ideias são muito similares às da futura religião cristã.

Porém, o faraó reformador cometerá alguns excessos que gerarão grande revolta, como por exemplo mandar martelar todas as imagens dos antigos deuses. Não satisfeito em elevar Aton à categoria de deus único, ele quis acabar com a imagem de todas as outras divindades. Os sacerdotes mais poderosos do país não demoraram em protestar contra tais práticas. Além disso, esses sacerdotes viam como seu poder financeiro, fruto das propriedades dos deuses, diminuía significativamente. Assim, pouco a pouco a ira ia crescendo.

A julgar pelo sincretismo tão comum no país, poderíamos até mesmo pensar que isso não seria um grande problema, pois a assimilação dos deuses entre eles não era feita, no fundo, no intuito, ainda que inconsciente, de convergir todas as crenças? Seria Aton, então, o ponto culminante desta tendência? Sem dúvida nenhuma que sim. No entanto, não devemos nos esquecer do poder dos sacerdotes dos deuses relegados, começando pelos mais poderosos, os sacerdotes de Amon, cuja colossal grandeza e riqueza tinham sido reduzidas radicalmente.

Com a morte de Amenhotep IV, os sacerdotes recuperaram o seu lugar. O novo soberano, que receberá ao nascer o nome de Tutankhaton, voltou a se colocar sob a proteção de Amon, passando a se chamar Tutancâmon.

Akhenaton foi considerado um herege, suas imagens foram destruídas e sua memória apagada. Porém, Aton marcou profundamente o pensamento religioso da humanidade com sua ideia de um deus único, que mais tarde acabou prevalecendo através da Bíblia e do Alcorão (SALVAT, 2013, n.p.).

Aton nasceu do sincretismo com Rá, mas criou vida própria e sua individualidade como o de um deus único, talvez o primeiro da história da humanidade. Os sacerdotes foram os políticos que tinham seus poderes advindos do politeísmo, porém, as diversas divindades poderiam ser referências às variadas características do Deus único.

O fato é que o poder estava com os sacerdotes e qualquer mudança de orientação religiosa significava a substituição de um determinado grupo por outro e a luta religiosa nada mais era do que uma luta política.

Nos tempos atuais, os sacerdotes políticos defendem o gigantismo do Estado como forma de controle dos patrimônios públicos e expropriação da sociedade por meio da corrupção.

Seção na imprensa: O hino do deus único

Conheça um texto desenvolvido pelo próprio faraó Amenófis IV para cultuar Aton, a divindade sem forma humana, sem sexo, mas que prezava o amor e a verdade.

Aton é descrito como o criador do universo e de todos os seres; já o faraó é elucidado como o único homem com capacidade de se comunicar com ele.

Apareces cheio de beleza no horizonte do céu, disco vivo que iniciaste a vida

Enquanto te levantaste no horizonte oriental, encheste cada país da tua perfeição. És formoso, grande, brilhante, alto em cima do teu Universo.

Teus raios alcançam os países até o extremo de tudo o que criaste.

Porque és Sol, conquistaste até aos seus extremos, atando-os para teu filho amado. Por longe que estejas, teus raios tocam a Terra. Estás diante dos nossos olhos, mas o teu caminho continua a ser desconhecido. Quando te pões, no horizonte ocidental, o Universo fica submerso nas trevas, como morto. Os homens dormem nos quartos, com a cabeça envolta e nenhum deles podendo ver seu irmão…

Mas na aurora, enquanto te levantas sobre o horizonte, e brilhas, disco solar, ao longo da tua jornada, rompes as trevas emitindo teus raios… Se te levantas, vive-se, se te pões, morre-se. Tu és a duração da própria vida; vive-se de ti.

Os olhos contemplam, sem cessar, tua perfeição, até o acaso, todo o trabalho para quanto te pões no Ocidente. Enquanto te levantas, fazes crescer todas as coisas para o rei, e a pressa apodera-se de todos desde que organizaste o Universo, e fizeste com que surgisse para teu filho, saído da tua pessoa, o rei do Alto e do Baixo Egito, que vive de verdade, o Senhor do Duplo País, Neferkheperuré Uaenré, filho de Rá, que vive de verdade, Senhor das coroas, Akhenaton. Que seja grande a duração de sua vida!

E a sua grande esposa que o ama, a dama do Duplo País, Nefertiti, que lhe seja dado viver e rejuvenescer para sempre, eternamente (GUIA CONHECER, 2016, n.p.).

Fonte: Guia dos Perplexos: Os Princípios Sagrados – Rodrigo Maimone Pasin – Edit. Novo Século, 2023.

Interpretação

Nefertiti foi esposa de Akenaton e o primeiro casal monoteísta do Egito louvando o Deus Sol, que distribui felicidade para os homens.

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