Nossa Senhora e A Sarça Ardente (O Fogo Sagrado)

Têmpera, ouro e gesso sobre madeira
A antiga inscrição eslava da Igreja na borda superior dá o título (A Espinheira Não Queimada).
Esta cena foi introduzida na Rússia no século XVI. Neste período, Moscou, que recentemente se declarou a «Terceira Roma», após a Queda de Constantinopla em 1453, foi um fermento de atividade teológica e iconográfica, devido à presença de estudiosos e teólogos gregos, e uma série de novos temas foram introduzido no cânone iconográfico. (Ver Assuntos Místicos e Didáticos de NP Kondakov em The Russian Icon, Oxford, 1928).
Nos espaços entre as pontas triangulares das formas das estrelas vermelhas e azuis estão Anjos e Arcanjos que representam poderes divinos: o espírito angélico que voa para a terra para o próximo Dia do Juízo Final, o espírito angélico de tremor e sofrimento terrível que derramará a taça transbordante da ira de Deus, o espírito angélico do temor de Deus cuja espada pronunciará o julgamento futuro, o espírito angélico do poder da neve e cuja voz cria a justiça.
(Na tradição popular o ícone era considerado um protetor contra o fogo).
A antiga inscrição eslava da Igreja na borda superior dá o título (A Espinheira Não Queimada).
Esta cena foi introduzida na Rússia no século XVI.
Neste período, Moscou, que recentemente se declarou a «Terceira Roma», após a Queda de Constantinopla em 1453, foi um fermento de atividade teológica e iconográfica, devido à presença de estudiosos e teólogos gregos, e uma série de novos temas foram introduzido no cânone iconográfico. (Ver Assuntos Místicos e Didáticos de NP Kondakov em The Russian Icon, Oxford, 1928).
Nos espaços entre as pontas triangulares das formas das estrelas vermelhas e azuis estão Anjos e Arcanjos que representam poderes divinos: o espírito angélico que voa para a terra para o próximo Dia do Juízo Final, o espírito angélico de tremor e sofrimento terrível que derramará a taça transbordante da ira de Deus, o espírito angélico do temor de Deus cuja espada pronunciará o julgamento futuro, o espírito angélico do poder da neve e cuja voz cria a justiça.
(Na tradição popular o ícone era considerado um protetor contra o fogo).
Moisés e o Fogo Sagrado e a Virgindade da Santíssima Virgem

A Virgem da Sarça Ardente – Michael Damascenos – sec. XVII – Fonte: www.aperges.gr

Detalhe da Virgem na Sarça Ardente – Michael Damaskenos – sec. XVI –
Monastério de Santa Catarina do Sinai – Fonte: www.aperges.gr

Panagia na Sarça Ardente
“A participação da Santíssima Virgem Maria não é acidental, nem circunstancial no Mistério da Encarnação do Verbo de Deus.
Esta participação está anunciada e prefigurada em várias passagens do Antigo Testamento.
Hoje, apresentamos o sugestivo episódio da Sarça Ardente (Ex 3:1-4:18) e sua vinculação com a Anunciação (Lc 1:27-3t).
Utilizaremos como base o trabalho do Monsenhor Sérgio Martins, da Igreja Ortodoxa de Portugal “As Prefigurações da Virgem Maria no Antigo Testamento”:
“Apascentava Moisés o rebanho de seu sogro no Monte Sinai (…) e apareceu-lhe o anjo do Senhor, em uma chama do fogo do meio de uma sarça e olhou e eis que a sarça ardia no fogo e a sarça não se consumia (…) Ex 3:1-5.
A Sarça Ardente prefigura a Mãe de Deus porque o Senhor, tal como a Sarça, veio habitar no Seu seio sem a “consumir”, isto é, sem alterar a sua virgindade.
O Verbo Imaculado não a queima, antes, a fecunda e ilumina. Ao nascer do ventre de Maria mantém intacta a sua virgindade, como uma tripla virgindade, pois se mantém antes, durante e após o parto.
Tanto na Encarnação como no episódio da Sarça Ardente, é o Verbo que se manifesta.
Sobre o Monte Sinai dirige-se a Moisés através de um me vegetal, produzido pela terra e deixa-o intacto. Em Nazaré é Ele próprio que encarna silenciosamente no ventre de Maria sem a afetar a sua pureza.
A Virgem está, portanto, perfeitamente representada na Sarça e, como nos ensina o Bem- Aventurado Bispo João de Denys “sua maternidade é fogo, e sua virgindade, os ramos que não se consomem”.
No episódio da Sarça é possível encontrar semelhanças com a Anunciação. Em ambos os casos aparece um anjo, manifesta-se o Verbo, tanto Moisés como Maria ao serem chamados respondem: “Eis-me aqui”; ambos são informados da missão que Deus lhes atribui, exprimem dúvidas, mas ambos comprem a vontade do Senhor.
O fogo representa a maternidade de Maria, a Sarça prefigura a Virgem e em ambos a Santidade está presente.”
O profeta Moisés ocupa um lugar importante na revelação de Deus, que pela primeira vez fala ao homem e revela os seus planos.
O chamado de Moisés e a revelação da vontade de Deus foram escolhidos pela Divina Providência para acontecer no Monte Sinai.
Depois de quarenta anos de oração, enquanto pastava suas cabras no Monte Coreb, Moisés encontrou o grande mistério da “sarça que queimou e ficou sem ser consumida” e ouviu a voz do Senhor chamando seu nome e pedindo-lhe que tirasse as sandálias, como o chão que ele pisava era sagrado.
A Igreja interpretou a visão de sarça como um prenúncio do mistério do nascimento da Mãe de Deus.
Enquanto a árvore estava queimando, mas permaneceu sem consumo, então a Theotokos após a encarnação do Logos permaneceu sempre virgem.
Neste local mais sagrado da Bush, o Mosteiro de Sinai foi fundado vários séculos depois e, segundo os escritos de Procopios, historiador pessoal do imperador Justiniano dedicado à Theotokos, cuja veneração esteve durante muito tempo ligada ao Fogo Sagrado do Burning Bush.
Alguns dos primeiros ícones do mosteiro que sobreviveram oferecem-nos uma visão particularmente valiosa sobre a história dos ícones na vida religiosa, pois enfatizam a importância da Theotokos, que também é representada com Fogo Sagrado na iconografia.
Desde o século XI, Moisés também está ligado à Theotokos pela Sarça Ardente na iconografia, e vários outros ícones retratam tanto as figuras sagradas quanto o local sagrado.
Moisés, porém, é novamente chamado a subir ao santíssimo Monte Sinai e abençoá-lo, já que esse seria o local onde Deus desceria para apresentar as suas leis e os seus Mandamentos.
Esta ocorrência, após a qual a Montanha passou a ser chamada de Theovadiston (Pisado por Deus) – se tornará um tema importante na iconografia do Sinai, que retrata explicitamente o local e a Revelação de Deus.
Contudo, Moisés apenas ouviu a voz de Deus e não viu o Seu rosto no Monte Sinai.
Esse rosto seria revelado a Moisés durante a Transfiguração de Jesus Cristo.
Os artistas de Justiniano representariam mais tarde este magnífico evento no grande mosaico da abside da basílica.
As sagradas relíquias da grande mártir Santa Catarina foram milagrosamente descobertas em algum momento do século X, ou mesmo antes, e transportadas para o mosteiro para serem guardadas.
Gradualmente, o mosteiro transferiu sua dedicação e o Santa foi acrescentada à iconografia do Sinai.
No início ela foi associada à Virgem da Sarça e apareceu entre outros santos e profetas, mas mais tarde sua vida foi retratada e foi associada à Theotokos e a Moisés.
De qualquer forma, a veneração de Santa Catarina se espalhou e ela gradualmente se tornou a santa do Sinai, dominando a iconografia relevante.
A Theotokos e Moisés mantêm seus lugares como portadores das revelações de Deus e da santidade geral do local.
Os tesouros religiosos, uma herança sagrada de ícones, manuscritos, vasos litúrgicos e vestimentas que foram acumulados ao longo dos séculos e agora são preservados no Sinai, a verdadeira fortaleza da fé ortodoxa, são os testemunhos materiais destes eventos sagrados, e da profunda fé dos peregrinos.
Hino Akhatisto – Mãe de Deus “Sarça ardente”
Salve, montanha santa, sobre a qual Deus põe os pés; salve espiritual sarça não consumida pelas chamas; salve única ponte que faz os mortais passarem do mundo para a vida eterna; salve Virgem pura e incontaminada, que destas à luz a salvação das nossas almas!
Jacó te viu profeticamente como escada, ó Mãe de Deus, porque por meio de ti o Altíssimo apareceu sobre a terra e quis conversar com os seres humanos, Deus glorioso e bendito dos Padres. […]
Cantando o teu Filho, todos te celebramos como templo vivo, ó Mãe de Deus, visto que, tendo habitado em teu seio aquele que tudo sustenta em sua mão, te fez santa, te fez gloriosa. […]
Ave, rocha, que dessedentaste os sedentos da vida.
Ave, coluna de fogo, que guiais quem está nas trevas.
Ave, terra prometida
Ave, fonte da qual jorra leite e mel.
Ave, Esposa e Virgem!
Hino Akhatisto
Mãe de Deus “Sarça ardente” e Moisés
“Apascentava Moisés o rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote de Madia. Conduziu as ovelhas para além do deserto e chegou ao Horeb, a montanha de Deus.
O anjo do Senhor lhe apareceu numa chama de fogo, do meio de uma sarça. Moisés olhou, e eis que a sarça ardia no fogo, e a sarça não se consumia.
Então disse Moisés: “Darei uma volta e verei esse fenômeno estranho; verei por que a sarça não se consome”.
Viu o Senhor que ele deu uma volta para ver.
E Deus o chamou do meio da sarça. Disse: “Moisés, Moisés”. Este respondeu:
“Eis-me aqui”.
Ele disse: “Não te aproximes daqui; tira as sandálias dos pés porque o lugar em que estás é uma terra santa”.
Disse mais: “Eu sou o Deus de teus pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó”. Então Moisés cobriu o rosto, porque temia olhar para Deus.
O Senhor disse: “Eu vi, eu vi a miséria do meu povo que está no Egito.
Ouvi o seu clamor por causa dos seus opressores; pois eu conheço as suas angústias.
Por isso desci a fim de libertá-lo da mão dos egípcios, e para fazê-lo subir daquela terra a uma terra boa e vasta, terra que mana leite e mel.”
ÊXODO 3,1-8a
Dogma de Theotokos – João Damasceno
As profecias referentes a ti se cumpriram, ó Virgem casta!
Um profeta te representou como porta do Éden voltada para o Oriente, através da qual ninguém passou senão o único que plasmou a ti e a todo o universo; outro te viu como uma sarça envolta pelo fogo: o fogo da divindade, com efeito, fez morada em ti e não te consumiu; outro te descreveu como monte santo do qual se destacou, sem intervenção humana, a pedra angular que atingiu a imagem do Nabucodonosor espiritual.
Verdadeiramente grande e paradoxal é o mistério que se cumpriu em ti, ó Mãe de Deus!
Por isso, nós te glorificamos: por meio de ti, de fato, aconteceu a salvação de nossas almas.
No Mar Vermelho foi representada, na Antiguidade, a imagem da Esposa que não conheceu a experiência do conúbio: então, Moisés dividiu as águas; agora, Gabriel é mediador dos prodígios; então, Israel tinha atravessado o abismo a pé enxuto; agora, a Virgem gera sem sêmen o Cristo; depois da passagem de Israel, o mar permaneceu tranquilo; depois do nascimento do Emanuel, a Imaculada permaneceu incorruptível.
Ó tu que és, que eras e apareceste como ser humano, tem piedade de nós!
Tu és templo e porta, palácio e trono do rei, ó Virgem augustíssima!
Por meio de ti o meu Redentor, Cristo Senhor, apareceu àqueles que jaziam nas trevas; ele, que é sol de justiça, quis assim iluminar aqueles que tinha criado à sua imagem pela própria mão.
Por isso, ó digna de todo louvor, que alcançaste junto dele o destemor de uma mãe, suplica incessantemente para que ele salve nossas almas.
JOÃO DAMASCENO
A Sarça Ardente do Antigo e do Novo Testamento
O episódio bíblico em que Deus se manifestou a Moisés deu origem a um particular ícone da Mãe de Deus, que institui um nexo muito rico e complexo entre o Novo Testamento e as profecias que anunciam o advento da salvação através de Maria.
A Mãe de Deus se destaca no centro do ícone, na estrela de oito pontas, que indica a presença do Deus Pai, o Antigo dos Dias, e alude à sarça ardente (os quatro raios azuis), no fogo da energia divina (os raios vermelhos).
O acento é colocado na realeza da Virgem, rainha celeste circundada pelas fileiras angélicas, pelos símbolos dos evangelistas (nos raios vermelhos) e pelos elementos naturais que obedecem à sua vontade.
Segundo as visões do Apocalipse, os graus angélicos são representados com os próprios atributos (estrelas, nuvens, fulgores, tochas, espadas), como dispensadores dos elementos naturais.
Nos quatro cantos do quadro normalmente são representados:
- Moisés diante da sarça ardente (no alto, à esquerda);
- Ezequiel, embaixo, à esquerda, diante da porta dos santuários, significando a Virgem da qual será gerado Cristo,
- O Serafim, no alto, à direita, para purificar os lábios de Isaías com o carvão em brasa;
- Jacó com o anjo, embaixo à direita”.
A representação central da Mãe de Deus também possui conteúdo profético: são visíveis os símbolos da escada (que após a encarnação reúne céu e terra), da pedra (a profecia de Daniel) e a representação de Cristo, grande sacerdote, que celebra a eucaristia no altar do seu sepulcro, Jerusalém
Fonte: A vida de Maria em ícones – Giovanna Parravicini – Edições Loyola – páginas 27 a 34
The Burning Bush
Old Church Slavonic Inscription on the upper border gives the title, (The Unburnt Thorn bush). This scene was introduced in Russia in the 16th century. In this period Moscow, which had recently declared itself the ‘Third Rome’, following the Fall of Constantinople in 1453, was a ferment of theological and iconographical activity, due to the presence of Greek scholars and theologians, and a number of new themes were introduced unto the iconographical canon. (See N.P. Kondakov Mystical and Didactic Subjects’ in The Russian Icon, Oxford, 1928).
In the spaces between the triangular points of the red and blue star shapes are Angels and Archangels who represent divine powers: ‘the angel spirit who flies to earth for the coming Doomsday’, ‘the angel spirit of trembling and dreadful suffering who will pour out the overflowing bowl of the wrath of God’, ‘the angel spirit of the fear of God whose sword will pronounce the future Judgement’, the angel spirit of the power of snow and whose voice creates righteousness’, ‘the angel spirit of frost’.
(In the popular tradition the icon was regarded as a protector against fire).
Fontes:
Aprimorado de The Monastery of Mount Sinai and its Sacristy – GG – 2020, pg 27. e do site: https://leitoradoortodoxo.blogspot.com/2014/10/a-sarca-ardente-virgem-maria.html?m=1
Saiba mais: Akathist to the Icon of the Most Holy Theotokos (“The Unburnt Bush”) – English – Canal Spiritual Eye do youtube
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