Cristo Crucificado, Diego Velázquez, 1632 – Museu Nacional do Prado, Madrid

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Cristo Crucificado, Diego Velázquez, 1632 – Museu Nacional do Prado, Madrid

Quando Jesus, com um grito forte, entregou o espírito nas mãos do Pai Celestial, a alma do Salvador, qual forma luminosa, acompanhada de brilhante cortejo de anjos, entrou na terra, ao pé da cruz; entre os anjos estava também S. Gabriel.

Vi esses anjos expulsarem grande número de espíritos maus da terra para o abismo.

Jesus, porém, mandou muitas almas do limbo para que, retomando os corpos, assustassem os impenitentes, os exortassem a converter-se e dessem testemunho d’Ele.

O tremor de terra, na hora da morte do Redentor, quando o rochedo do Calvário se fendeu, causou muitos desmoronamentos e desabamentos em todo mundo, especialmente na Palestina e em Jerusalém.

Mal o povo na cidade e no Templo sossegara um pouco, ao desaparecer a escuridão, eis que os abalos do solo e o estrondo do desabamento dos edifícios, em muitos lugares, espalharam um terror geral e ainda maior do que antes.

O pavor chegou ao extremo quando apareceram os mortos ressuscitados, andando pelas ruas e admoestando com voz rouca o povo, que fugia, chorando, em todas as direções.

Assim, pois, continuavam os sacrifícios em algumas partes do imenso edifício do Templo, com as inúmeras passagens e salas, quando em outra parte já reinava o espanto e terror e em outros lugares sacerdotes já conseguiam acalmar o povo; mas ao aparecimento dos mortos, em várias partes do Templo, todo o povo se dispersou e o sacrifício foi interrompido, como se o Templo fosse profanado.

Contudo nem isso se deu repentinamente, de modo que a multidão se tivesse precipitado pelos degraus abaixo, empurrando e esmagando-se uns aos outros; mas dissolveu-se gradualmente, saindo em grupos, enquanto outros eram contidos pelos sacerdotes ou estavam em partes separadas do Templo. Todavia, manifesta-se o medo e o terror em toda parte, em diversos graus, de um modo incrível.

No santuário apareceu, proferindo palavras de ameaça, o Sumo Sacerdote Zacarias, que fora assassinado entre o Templo e o altar; falou também da morte do outro Zacarias, e de João Batista, como em geral da morte dos profetas.

Ele saiu pela abertura que ficara, onde caiu a pedra na cela de Simeão o Justo, bisavô do velho sacerdote Simeão que profetizara na apresentação de Jesus no Templo; apareceram como espíritos grandes, perto da grande cátedra (cadeira dos doutores), proferindo palavras severas sobre a morte dos profetas e sobre o sacrifício que ia cessar; exortaram a todos a que seguissem a doutrina de Jesus crucificado.

Perto do altar apareceu o profeta Jeremias, proclamando em voz ameaçadora o fim do sacrifício antigo e o começo do novo.

Essas aparições e palavras, em lugares onde só Caifás e os sacerdotes as ouviram, foram negadas ou ocultadas e foi proibido falar nisso, sob pena de grande excomunhão.

Mas ouviu-se ainda um grande ruído. Abriram-se as portas do santo e uma voz gritou:

“Saiamos daqui!”. Vi então anjos, que se retiraram do Templo.

O altar do incenso tremeu e caiu um dos vasos de incenso; o armário que continha os rolos das Escrituras tombou e os rolos caíram fora, em desordem; a confusão aumentou, não sabiam mais que hora do dia era.

Nicodemos, José de Arimateia e muitos outros abandonaram o Templo e foram-se embora.

Jaziam corpos de mortos, em vários lugares; outros mortos ressuscitados andavam no meio do povo, exortando-o com palavras severas; à voz dos anjos que se afastaram do Templo, também eles voltaram às sepulturas.

A grande cátedra, no átrio do Templo, caiu.

Vários dos trinta e dois fariseus que tinham ido ao Calvário, mais tarde voltaram, durante essa confusão e, como se tinham convertido ao pé da cruz, ficaram ainda mais comovidos com esses sinais, de modo que censuraram com veemência a Anás e Caifás, retirando-se depois do Templo.

Anás, o verdadeiro chefe dos inimigos de Jesus, que desde muito tempo dirigira todas as intrigas secretas contra o Salvador e os discípulos e que também instruíra os acusadores, estava quase doido de terror; fugia de um canto para outro das salas secretas do Templo; vi-o gritando e torcendo-se em convulsões; levaram-no a um quarto secreto, rodeado de alguns partidários.

Caifás deu-lhe uma vez um forte abraço, para o reanimar, mas em vão; a aparição dos mortos tinha-o levado ao desespero. Caifás, apesar de estar cheio de pavor, estava de tal modo possesso do demônio do orgulho e da obstinação que não deixava perceber nada do susto que sentia.

Cheio de raiva e orgulho, ocultava o medo e mostrava uma testa de bronze aos sinais ameaçadores da cólera divina. Quando, porém, apesar de todos os esforços, não pôde mais fazer as cerimônias da festa, deu ordem de guardar silêncio sobre os prodígios e aparições de que o povo não tinha conhecimento.

Disse e mandou outros sacerdotes também dizerem que esses sinais de cólera divina eram provocados pelos partidários do Galileu crucificado, que entraram no Templo inimigos da santa lei, a qual Jesus também quisera derrubar, tinham causado esse terror. Muito se devia também à feitiçaria do Galileu que, como em vida, assim também na morte, perturbava a paz do Templo. Desse modo conseguiu acalmar muitos e intimidar outros com ameaças; muitos, porém, estavam profundamente abalados e ocultavam os sentimentos.

Herodes estava no palácio, desvairado de pavor; mandara fechar todas as portas do palácio.

Foram cerca de cem os mortos, de todas as épocas, que em Jerusalém e arredores se levantaram dos sepulcros destruídos e na maior parte se dirigiram, dois a dois, a diversos pontos da cidade, apresentando-se ao povo, que fugia em todas as direções e dando, em algumas palavras, severo testemunho de Jesus.

Muitos, porém, cujas almas Jesus mandara do Limbo à Terra, se levantaram, descobriram o rosto e andavam, como que levitando, pelas ruas, iam às casas dos parentes, entravam nas casas dos descendentes, censurando-os com palavras ameaçadoras, por terem tomado parte na morte de Jesus.

Vi as aparições procurarem juntar-se, conforme as antigas amizades, e andar duas a duas pelas ruas da cidade.

Não vi movimento dos pés sob as longas túnicas mortuárias, pareciam pairar sobre o solo, sem o tocar; as mãos ou estavam envoltas em largas faixas de linho, ou escondidas nas largas mangas pendentes e ligadas em redor dos braços; os véus do rosto estavam levantados e postos sobre a cabeça; as faces pálidas, amareladas e secas, destacavam-se das longas barbas; as vozes tinham um som estranho e insólito.

Essas vozes eram a única manifestação dos corpos, que passavam de lugar em lugar, sem parar e sem se importar com o que encontravam no caminho; parecia que eram só vozes.

Estavam diversamente vestidos, conforme a época da morte e segundo a classe e a idade.

Nas encruzilhadas, onde fora promulgada a sentença de morte contra Jesus, paravam, proclamando a glória de Jesus e a maldição dos assassinos.

Os homens ficavam longe tremendo, escutando-os, e fugiam quando eles continuavam o caminho.

No fórum, diante do palácio de Pilatos, ouvi-os proferir palavras ameaçadoras; lembro-me da palavra: “Juiz sanguinário!”.

Todo o povo se ocultou nos cantos mais recônditos das casas; havia grande medo e susto na cidade.

Pelas quatro horas da tarde voltaram os mortos para os túmulos. Mas depois da ressurreição de Jesus Cristo ainda apareceram muitos espíritos, em vários lugares.

O sacrifício foi interrompido; era uma confusão geral; só uma pequena parte do povo comeu o cordeiro pascal à noite.

Pilatos, supersticioso e confuso, estava preso de terror e incapaz de desempenhar o cargo; o terremoto abalou-lhe o palácio, o solo tremia-lhe debaixo dos pés, fugia de uma sala para outra.

Os mortos mostravam-se para ele no átrio do palácio, lançando-lhe em rosto o julgamento iníquo e a sentença contraditória. Julgando-lhe que fossem os deuses do profeta Jesus, encerrou-se num quarto no palácio, onde ofereceu incenso e sacrifícios aos deuses pagãos, fazendo promessas para que os ídolos impedissem os deuses do Galileu de fazer-lhe mal.

Herodes estava no palácio, desvairado de pavor; mandara fechar todas as portas do palácio.

Foram cerca de cem os mortos, de todas as épocas, que em Jerusalém e arredores se levantaram dos sepulcros destruídos e na maior parte se dirigiram, dois a dois, a diversos pontos da cidade, e apresentando-se ao povo, que fugi em todas as direções e dando, em algumas palavras, severo testemunho de Jesus.

Entre os muitos mortos ressuscitados, que dentro e em redor de Jerusalém se contavam cerca de cem, não havia nenhum parente de Jesus.

Os túmulos ao noroeste estavam antes fora da cidade, mas pelo alargamento da mesma, ficaram depois dentro dos muros.

Tive também visões de diversos mortos, que em vários lugares da Terra Santa ressuscitaram, aparecendo aos parentes e dando testemunho de Jesus e da missão que viera cumprir na terra.

Assim vi Zadoc, homem muito piedoso, que tinha dado todos os bens aos pobres e ao Templo e fundado a comunidade dos essenos, perto de Hebron; foi um dos últimos profetas antes de Cristo e esperava e suspirava pela vinda do Messias, de quem tinha muitas revelações; tinha também relações com os antepassados da Sagrada Família.

Vi esse Zadoc, que viveu uns cem anos antes de Jesus, ressuscitar e aparecer a na região de Hebron.

Em uma visão anterior vi que foi um dos que primeiro depositaram novamente o respectivo corpo e depois acompanharam a alma de Jesus.

Vi também vários mortos aparecerem aos discípulos do Senhor, escondidos nas cavernas, exortando-os à fé.

Vi que as trevas e o terremoto espalharam terror e destruição, não só em Jerusalém e arredores, mas também em outras partes do país, mesmo em lugares longínquos.

A casa de Pedro e a morada da Santíssima Virgem, entre Carfanaum e o lago, ficaram intactas.

No Monte Garizim vi ruir grande parte do Templo. Havia lá um ídolo em cima de um poço, num pequeno templo, cujo telhado, junto com o ídolo, caiu na água do poço.

Em Nazaré, desabou metade da sinagoga da qual os judeus expulsaram Jesus; também a parte do rochedo da qual quiseram lançá-lo no abismo desmoronou-se.

Fonte: Vida, Paixão e Glorificação do Cordeiro de Deus – Beata Anne Catherine Emmerich
Produzido por / Directed by: MuMi – Museu Mítico