
Cruz ornamental no começo de um Evangelho Grego – Rufinus, Comentário do Genesis
No século IV, Eusébio de Cesaréia (cerca de 260-339) desenvolveu o sistema de tabelas de concordância. Ele primeiro subdividiu os quatro evangelhos em unidades semânticas e associou-os a uma numeração contínua. Em seguida, elaborou tabelas.
Os primeiros nove incluem os números das passagens que concordam com a totalidade ou parte dos evangelhos, sendo a décima dedicada às passagens que não têm concordância com nenhuma outra.
Para que seja possível encontrar as passagens correspondentes em um dos outros evangelhos, os textos são fornecidos com margens referências aos números dos diferentes evangelhos. É, portanto, possível dar pela primeira vez resumo sistemático das histórias evangélicas sobre a vida e ação de Jesus
É costume que as tabelas de concordância sejam colocadas antes dos quatro evangelhos, acompanhadas da carta de Eusébio a Carpiano, o amigo a quem foram dedicadas, e a quem Eusébio comentou sobre a sua utilização. Desde a Antiguidade tardia, várias tradições foram formadas em torno da utilização destes cânones, tradições que se distinguem sobretudo pela sua distribuição de acordo com um determinado número de páginas.
Projetadas do ponto de vista do conteúdo até como tabelas simples, as tabelas de concordância são decoradas com molduras arquitetônicas e, portanto, participam da decoração tradicional do códice bíblico. Às vezes são acrescentadas decorações figurativas: representações de evangelistas, seus símbolos ou cenas tiradas da Bíblia.
Nos fólios 2r-5r, o Codex 847 contém um dos mais antigos conjuntos de tabelas de concordância sobreviventes. Das onze mesas originais, quatro foram perdidas junto com a folha que ocupavam.
O fato de terem precedido um livro evangélico é atestado pela existência de uma página ornamental (il. p. 77) cujo texto se refere aos quatro evangelhos que se seguem. As diferentes colunas de números são encimadas por arcos semicirculares simples e coloridos, que abrigam o nome de
o evangelho em questão. A sua inter-relação manifesta-se numa composição arquitetônica tectônica ricamente ornamentada, com colunas de enquadramento encimadas por arcos semicirculares e/ou frontão.
A organização das tabelas segue o seguinte diagrama: as primeiras contêm as passagens comuns aos quatro evangelhos, as seguintes as passagens comuns aos três evangelhos Icf. fol. 3v) e assim por diante. A última tabela (il. p. 76) indica as passagens contidas em um único evangelho.
Os restos do Evangelho, escritos em uncial antigo tardio, constituem um único volume que também contém um comentário em latim sobre o capítulo 49 do Gênesis, de Rufin lill. pág. 74), comentário que foi unido ao Evangelho em data desconhecida.
Nos fólios 1v, 5v e 6v, os fragmentos do evangelho apresentam ilustrações em caligrafia italiana do século VIII, ao contrário do comentário de Rufino. Por outro lado, contém acréscimos do XV [fol. 7v, 10v, 12r) e XVI (fol. 8r-15v) dos quais não encontramos equivalente no Evangelho.
Consideramos, portanto, que as duas partes não foram reunidas antes do século XVI. Singularmente, notamos pontos comuns entre as configurações das duas partes.
A página ornamental que exibe a coroa com fita antes das tabelas de concordância no preenchimento do fólio 1r. pág. 73), apresenta forte semelhança com a mesma representação do início do comentário de Rufin lill. pág. 74): além de uma diagramação e vários motivos semelhantes como brotos de plantas, a harmonia cromática das duas partes é tão próxima que os dois manuscritos devem ter sido produzidos na mesma região, ou mesmo na mesma oficina.
Concluímos que existia um campo de produção onde se falava tanto o grego quanto o latim. Neste caso, a costa ítalo-grega oriental e meridional da Itália, com Ravenna como centro, parece a mais provável.
F.S.
Page d’ouverture ornementale de l’Évangile – Évangile grec (fragment) Rufinus, commentaire de la Genèse Ravenne (VIe siècle) – Évangéliaire grec (fragment) Rufin, commentaire de la Genèse Ravenne (VI siècle)
Au IV siècle, Eusèbe de Césarée (vers 260-3391 m point le système des tables de concordance. Il subdivic d’abord les quatre évangiles en unités sémantiques et y associe une numérotation continue. Il dresse ensuite di tables. Les neuf premières englobent les numéros des passages qui concordent avec tous ou une partie des évangiles, la dixiême étant consacrée aux passages n’ayant de concordance dans aucun autre.
Pour permettre de trouver les passages correspondants dans un des autres évangiles. les textes sont pourvus de renvois marginaux aux numéros des différents évangiles. Il est dès lors possible de donner pour la première fois résumé systématique des récits évangéliques sur la vie et l’action de lésus.
L’usage veut que les tables de concordance soient placées avant les quatre évangiles, accompagnées de la lettre d’Eusèbe à Carpianus, l’ami à qui elles furent dédiées, et à qui Eusèbe commenta leur utilisation.
Depuis la basse Antiquité plusieurs traditions se sont constituées autour de l’emploi de ces canones lignes directrices», traditions qui se distinguent surtout par leur répartition en fonction d’un nombre de pages particulier.
Concues du point de vue du contenu mme de simples tableaux, les tables de concordance sont décorées d’encadre ments architectoniques et participent donc du décor traditionnel du codex bi blique. À cela viennent parfois s’ajouter des décors figurés: représentations d’évangélistes, de leurs symboles, ou scènes tirées de la Bible.
Aux folios 2r-5r, le Codex 847 contient l’un des plus anciens ensembles de tables de concordance qui nous soient parvenus. Des onze tables d’origine, quat se sont perdues avec la feuille qu’elles occupaient. Le fait qu’elles précédaient un évangéliaire est attesté par l’existence d’une page ornementale (ill. p. 77) dont le texte renvoie aux quatre évangiles qui suivent. Les différentes colonnes de numé ros sont surmontées de simples arcs en plein cintre coloriés, abritant le nom de
l’évangile concerné. Leur interrelation est manifestée par une composition archi tectonique richement ornementée avec colonnes d’encadrement surmontées d’arcs en plein cintre et/ou d’un fronton. L’organisation des tables suit le schéma suivant: les premières contiennent les passages communs aux quatre évangiles, les suivantes les passages communs à trois évangiles Icf. fol. 3v) et ainsi de suite. La dernière table (ill. p. 76) indique les passages contenus dans un seul évangile.
Les restes de l’évangéliaire, écrit en onciale antique tardive, constituent un seul volume qui contient en outre un commentaire latin du 49 chapitre de la Genèse par Rufin lill. p. 74), commentaire qui a été réuni à l’évangéliaire à une date inconnue.
Aux folios 1v, 5v et 6v, les fragments de l’évangéliaire présentent des aiouts d’une main italienne du VIII siècle, contrairement au commentaire de Rufin. Inversement, celui-ci contient des ajouts des XV [fol. 7v, 10v, 12r) et XVI siècles (fol. 8r-15v) dont on ne trouve aucun équivalent dans l’évangéliaire On considère donc que les deux parties n’ont pas été réunies avant le XVI siècle. Singulièrement, on relève des points communs entre les décors des deux parties.
La page ornementale qui arbore la couronne enrubannée avant les tables de concordance au folio 1r fill. p. 73), présente une forte similitude avec la même représentation au début du commentaire de Rufin lill. p. 74): au-delà d’une dispe sition et de plusieurs motifs similaires comme les pousses végétales, l’harmonie chromatique des deux parties est si proche que les deux manuscrits ont dû être produits dans la même région, voire dans le même atelier.
On en conclut à un domaine de production où l’on parlait à la fois grec et latin. En l’occurrence, la côte orientale et méridionale italo-grecque de l’Italie, avec pour centre Ravenne semble la plus probable.
F.S
Ornamental Opening Page of the Gospel – Greek Gospel (fragment) Rufinus, commentary on Genesis Ravenna (6th century) – Greek Gospel (fragment) Rufinus, commentary on Genesis Ravenna (VI century)
In the 4th century, Eusebius of Caesarea (around 260-3391 m) developed the system of tables of concordance. He first subdivided the four gospels into semantic units and associated them with continuous numbering. He then drew up di tables.
The first nine include the numbers of the passages which agree with all or part of the gospels, the tenth being devoted to passages having no concordance in any other. To make it possible to find the corresponding passages in one of the other gospels, the texts are provided with marginal references to the numbers of the different gospels. It is therefore possible to give for the first time systematic summary of the Gospel stories on the life and action of Jesus
It is customary for the tables of concordance to be placed before the four gospels, accompanied by Eusebius’ letter to Carpianus, the friend to whom they were dedicated, and to whom Eusebius commented on their use.
Since late Antiquity, several traditions have been formed around the use of these canons, traditions which are distinguished above all by their distribution according to a particular number of pages. Designed from the point of view of content even as simple tables, the concordance tables are decorated with architectural frames and therefore participate in the traditional decor of the biblical codex.
To this are sometimes added figurative decorations: representations of evangelists, their symbols, or scenes taken from the Bible.
On folios 2r-5r, Codex 847 contains one of the oldest surviving sets of concordance tables. Of the original eleven tables, four were lost along with the sheet they occupied.
The fact that they preceded a gospel book is attested by the existence of an ornamental page (ill. p. 77) whose text refers to the four gospels which follow. The different columns of numbers are topped by simple colored semicircular arches, housing the name of the gospel concerned.
Their interrelation is manifested by a richly ornamented architectural tectonic composition with framing columns topped by semicircular arches and/or a pediment. The organization of the tables follows the following diagram: the first contain the passages common to the four gospels, the following the passages common to three gospels Icf. fol. 3v) and so on. The last table (ill. p. 76) indicates the passages contained in a single gospel.
The remains of the Gospel, written in late antique uncial, constitute a single volume which also contains a Latin commentary on the 49th chapter of Genesis by Rufin lill. p. 74), commentary which was joined to the Gospel on an unknown date.
On folios 1v, 5v and 6v, the fragments of the gospel present illustrations in an Italian hand from the 8th century, contrary to Rufinus’ commentary. Conversely, this contains additions from the XV [fol. 7v, 10v, 12r) and 16th centuries (fol. 8r-15v) of which we find no equivalent in the Gospel. We therefore consider that the two parts were not brought together before the 16th century.
Singularly, we note common points between the settings of the two parts. The ornamental page which displays the ribboned crown before the concordance tables on folio 1r fill. p. 73), presents a strong similarity with the same representation at the beginning of Rufin lill’s commentary. p. 74): beyond a layout and several similar motifs such as plant shoots, the chromatic harmony of the two parts is so close that the two manuscripts must have been produced in the same region, or even in the same workshop.
We conclude that there was a field of production where both Greek and Latin were spoken. In this case, the Italian-Greek eastern and southern coast of Italy, with Ravenna as its center, seems the most likely.
F.S.
Source: Le Livre des Bibles – Les plus belles Bibles enluminées du Moyen Âge – Taschen
Produzido por / Organized by: MuMi – Museu Mítico
