Pentecostes – Teófanes, o Cretano (1546) – A Montanha Sagrada (Grécia) – Sagrado Monastério de Stavronikita

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Pentecostes – Teófanes, o Cretano (1546) – A Montanha Sagrada (Grécia) – Sagrado Monastério de Stavronikita

Tropário de Pentecostes, Documentário e Orações

O ícone de Pentecostes

“Celebremos Pentecostes: a vinda do Espírito. Cumpriu-se a promessa, completa está a esperança!”­ 

Glorifiquemos a uma só voz o Espírito Altíssimo! Vamos refletir sobre o ícone de Pentecostes, festa celebrada 50 dias após a Páscoa e que conclui este tempo especial de graça.

Origem e conteúdo da festa:

O domingo de Pentecostes (do grego pentecosté, cinquenta), assim como a Páscoa, é anterior ao Novo Testamento: ambas eram originalmente festas da colheita na tradição judaica, que depois passaram a celebrar a saída do Egito (Páscoa) e a entrega da Lei no monte Sinai (Pentecostes).

Esta celebração da aliança também é conhecida como Festa das Semanas, pois é comemorada sete semanas após a Páscoa.

Este duplo número sete indica a plenitude, o coroamento dos cinquenta dias pascais.

Como indica Adolf Adam, o Pentecostes não é uma celebração isolada do Espírito Santo, mas sim uma celebração autenticamente pascal.

Com efeito, no início da Igreja o Tempo Pascal era visto como um único dia de festa. Somente a partir do século IV o último dia deste ciclo passa a ser celebrado com mais solenidade, recordando a entrega da nova lei do Espírito (At 2,1-11).

No Rito Romano este dia foi acrescido de uma vigília à semelhança da Vigília Pascal, com várias leituras e a celebração dos sacramentos da Iniciação Cristã, ao passo que na tradição bizantina foi enriquecido por uma série de sete orações proferidas de joelhos no final da Divina Liturgia [2].

Ainda na tradição bizantina, assim como na festa da Ascensão, o Pentecostes adquire o status de uma “Liturgia cósmica”, na qual céu e terra concelebram, unidos pelo Espírito Santo.

Dado seu caráter litúrgico, que comporta uma dimensão escatológica, esta festa é mais do que a recordação do acontecimento histórico da vinda do Espírito Santo sobre os Apóstolos: é uma ação de graças pela presença do Espírito do Ressuscitado na Igreja. Por isso o ícone da festa, como veremos, está cheio de anacronismos.

Além disso, destaca-se o tema da unidade, feito o paralelo com o episódio da torre de Babel (Gn 11,1-9): se nesta ocasião, pelo orgulho dos homens houve a separação das línguas, agora, pela humildade de Deus, manifesta no mistério pascal de Cristo, todos compreendem a única linguagem do amor. Assim sintetiza o kontákion da festa:

Quando o Altíssimo desceu à Terra para confundir as línguas, dispersou os povos; mas, quando distribuiu as línguas de fogo, chamou-nos todos à unidade. Glorifiquemos a uma só voz o Espírito Santíssimo” [3].

O ícone

O ambiente: O ambiente é o Cenáculo, a “sala superior” onde Jesus celebrou a última Ceia com seus Apóstolos (Lc 22,7-13), onde estes encontraram pela primeira vez o Ressuscitado (Jo 20,19-23), onde permaneceram em oração com Maria (At 1,12-14) e onde agora recebem o Espírito Santo.

Ao fundo do ícone encontramos duas casas ou torres, que nos indicam que estamos na “sala superior”, além de traçar o paralelo entre Antigo e Novo Testamento: as duas torres costumam ser unidas por um véu, o mesmo do ícone da Anunciação, indicando a presença do amor de Deus em ambas as alianças.

No centro, às vezes encontramos um semicírculo azul, imagem do céu, do qual saem doze raios de luz, símbolo do Espírito Santo que desce sobre os Apóstolos. Em outras versões os raios estão ausentes e o Espírito é representado pelas línguas de fogo sobre a cabeça de cada Apóstolo.

Em outras versões, sobretudo a partir de influências ocidentais, o Espírito aparece ao centro na forma de uma pomba, como apareceu no Batismo do Senhor.

O ancião: Na parte inferior do ícone, em um semicírculo, encontramos um ancião coroado como um rei. Em alguns ícones está escrito seu nome: ho kosmos, o mundo.

Não se trata, porém, de uma imagem da criação, mas sim da humanidade (donde a coroa, que indica a dignidade de filhos de Deus dos homens).

O ancião está representado sob um lugar escuro, símbolo das trevas da ignorância e da idolatria, que estão agora para ser iluminadas pela luz do Espírito Santo, espalhada na terra através do anúncio do Evangelho. O ancião segura justamente um lençol com doze rolos, indicando a pregação dos Doze Apóstolos.

Outra interpretação para o ancião é o Antigo Testamento: sua caracterização lembra muito a do rei Davi nos ícones orientais.

Assim, ele “estaria simbolizando os ‘muitos profetas e justos que desejaram ver o que veem vossos olhos e não o viram, e ouvir o que ouvem vossos ouvidos, e não o ouviram’, como diz o próprio Senhor Jesus” (Mt 13,17; Lc 10,23-24) [4].

A associação do ancião com o Antigo Testamento é reforçada pelos doze rolos, que indicam o anúncio do Evangelho às doze tribos de Israel (Mt 19,28). Porém, tal anúncio não é restrito a um povo, mas se destina a todos, como canta o tropário da festa:

Bendito és tu, Cristo, nosso Deus, que tornaste sábios a simples pescadores, enviando-lhes o Espírito Santo e, por eles, colheste na rede o universo inteiro. Glória a ti, Amigo dos homens” [5].

Maria e o assento vazio: Em algumas versões deste ícone encontramos no centro do grupo dos Apóstolos a figura de Maria; em outras, porém, ela está ausente, deixando um assento vazio. Ambas as versões possuem o seu simbolismo.

A presença de Maria evoca seu papel de “centro moral” da Igreja após a Ascensão (no ícone desta festa ela ocupa também uma posição de destaque). Além disso, evoca sua presença orante junto aos Apóstolos à espera da vinda do Espírito Santo (At 1,14).

Se Maria está presente, ela é a única personagem sem a língua de fogo sobre a cabeça: “tendo ela concebido por obra do Espírito Santo, sua pessoa já estava transformada pelo próprio Espírito” [6]. Por isso muitos iconógrafos defendem sua ausência, dando espaço para o simbolismo do assento vazio.

O trono vazio enfatiza o alcance escatológico da festa: “é o trono vacante da segunda vinda (hetimasia), como sinal da contínua espera do Esposo” [7]. Tal trono evoca a ausência física do Mestre e a expectativa da Igreja-Esposa que, congregada no Espírito Santo, grita a cada Liturgia: “Amém! Vem, Senhor Jesus” (Ap 22,20).

Os Apóstolos: Por fim, encontramos neste ícone os Doze Apóstolos, que estão sentados em dois grupos de seis sobre um banco ou estrado em forma de semicírculo ou “ferradura”. Mais do que recordar que estamos no Cenáculo (pois no ícone da última Ceia encontramos a mesma formação), o semicírculo nos coloca aqui em um contexto litúrgico.

As igrejas da tradição siríaca possuíam nos primeiros séculos um estrado no seu centro, composto por um ambão (bema) e assentos para os sacerdotes, de onde se celebrava a Liturgia da Palavra.

Tal formação quer salientar aqui, pois, a centralidade da Palavra de Deus, inspirada pelo Espírito Santo, que impulsiona os missionários de ontem e de hoje a anunciá-la “até os confins da terra” (At 1,8).

Desde o momento em que receberam o Espírito, os Apóstolos anunciaram a Palavra, a Boa Nova, o Evangelho, o qual vem expressar-se no estarem juntos como numa reunião ou sínodo. É esta a razão pela qual os ícones que representam os Concílios Ecumênicos reproduzem o mesmo esquema iconográfico desta festa” [8]: a Igreja é o perene Pentecostes!

Dentre os Apóstolos vemos alguns anacronismos que nos recordam que este ícone transcende a história: presidindo os dois grupos de Apóstolos, ladeando a Virgem Maria ou o trono vazio, estão, como no ícone da Ascensão, Pedro e Paulo.

Além de Paulo, podemos encontrar aqui ainda outros dois “intrusos”: os evangelistas Marcos e Lucas. Ao lado de Pedro estão Mateus e Marcos e ao lado de Paulo, João e Lucas.

Estes seis personagens são os únicos que seguram os rolos das Escrituras nas mãos, indicando a autoridade de Pedro e Paulo e os quatro Evangelhos, reforçando assim a centralidade da Palavra de Deus neste ícone, inspirada pelo Espírito Santo.

A ele nos dirigimos, concluindo esta análise, com as palavras que abrem praticamente todos os ofícios litúrgicos bizantinos:

Rei celeste, Consolador, Espírito da verdade, presente em toda a parte e ocupando todo lugar; tesouro de bens e dispensador da vida, vem e habita em nós; purifica-nos de toda a impureza e salva as nossas almas, tu que és bom

[1] PASSARELLI, Gaetano. O ícone de Pentecostes. São Paulo: Ave Maria, 1997, p. 43. Coleção: Iconostásio, 17.

[2] Sobre a história desta celebração confira:

ADAM, Adolf. O Ano Litúrgico: Sua história e seu significado segundo a renovação litúrgica. São Paulo: Loyola, 2019, pp. 65-66.

DONADEO, Madre Maria. O Ano Litúrgico Bizantino. São Paulo: Ave Maria, 1998, pp. 75-79.

RIGHETTI, Mario. Historia de la Liturgia, v. I: Introducción general; El año litúrgico; El Breviario. Madrid: BAC, 1945, pp. 856-862.

[3] DONADEO, op. cit., p. 76.

[4] PASSARELLI, op. cit., p. 33.

[5] DONADEO, op. cit., p. 76.

[6] PASSARELLI, op. cit., p. 24.

[7] ibid., p. 35.

[8] ibid., p. 31.

[9] DONADEO, op. cit., p. 76.

Fonte: PASSARELLI, Gaetano. O ícone de Pentecostes. São Paulo: Ave Maria, 1997, p. 43. Coleção: Iconostásio, 17 citado em

https://pilulasliturgicas.blogspot.com/2020/05/o-icone-de-pentecostes.html

A vinda do Espírito Santo

Vida, Paixão e Glorificação do Cordeiro de Deus – Beata Anne Catherine Emmerich

Para a santa festa de Pentecostes enfeitaram a sala da última Ceia festivamente, com árvores, grinaldas e flores.

Nas vésperas da festa, Pedro benzeu dois pães ázimos, partiu e distribuiu-os aos Apóstolos e à Santíssima Virgem.

À cidade, porém, chegaram muitos peregrinos para a festa de Pentecostes, estrangeiros de variadíssimos trajes e costumes estranhos.

Os Apóstolos e discípulos passaram a noite antes de Pentecostes, junto com Maria e as santas mulheres, na sala da última ceia, em oração e silenciosa meditação, preparando-se para a vinda do Espírito Santo.

Estavam reunidas ao todo mais de cento e vinte pessoas. Todos desejavam ardentemente a vinda do Consolador prometido, que os encheria, segundo a promessa de Jesus, de força celeste.

A piedosa serva de Deus descreve esse importante acontecimento com palavras intuitivas:

“Percebi, depois de meia-noite, uma maravilhosa intensidade e um movimento misterioso e benfazejo na natureza inteira, que se comunicava a todos os presentes.

Pareceu-me também que, pela abertura no teto da sala, se podia ver o céu tornar-se mais claro.

Os Apóstolos tinham-se retirado em silêncio do meio da sala para junto das paredes, ficando perto das colunas; por entre eles vi os discípulos nos pórticos laterais, olhando pelas paredes abertas para dentro da sala.

Pedro estava diante da cortina atrás da qual se guardava o Santíssimo Sacramento; a Santíssima Virgem, porém, estava na sala, diante da porta do vestíbulo, no qual se achavam as santas mulheres.

Estando assim todos silenciosos, cheios de veemente desejo, com os braços cruzados sobre o peito, olhos baixos, propagou-se-lhes a calma e o silêncio por toda a casa.

Pela manhã vi sobre o Monte das Oliveiras, onde Nosso Senhor subira ao céu, se aproximar uma nuvem luminosa, resplandecente, prateada, vindo do céu, em direção à casa dos Apóstolos, em Sião.

Vi-a primeiro, a grande distância, como um globo, cujo movimento acompanhava uma doce e ardente brisa.

Ao aproximar-se, aparecia cada vez maior a nuvem luminosa, passando como um nevoeiro brilhante sobre a cidade, até que parou sobre Sião e a casa da última Ceia, concentrando-se cada vez mais e tornando-se cada vez mais clara e transparente como um sol brilhante; finalmente desceu, com crescente sussurro, como uma nuvem de trovoada muito baixa.

Muitos judeus, que ouviram o bramido e viram a nuvem, correram assustados ao Templo.

Toda essa cena tinha alguma semelhança com uma trovoada que se aproxima rapidamente, mas em vez de trovão, ouvia-se o zunido, que se sentia, porém, como uma brisa cálida e profundamente reconfortante.

Quando a nuvem luminosa pairava muito baixo sobre o Cenáculo e, a par do crescente ruído, se tomava cada vez mais brilhante, vi também a casa e os arredores banhados numa luz intensa, mas os Apóstolos, discípulos e mulheres, cada vez mais silenciosos e ardentes.

Eram cerca de três horas da manhã, antes do nascer do sol, quando vi de repente saírem da nuvem, sussurrante, torrentes de luz branca, que se cruzavam sete vezes e ao cruzarem, se dissolviam em raios e gotas ígneas, que caíram sobre a casa e arredores.

O ponto em que as sete torrentes de luz se cruzavam, era cercado como de um arco-íris, onde vi formar-se uma figura luminosa e pairar sobre a casa; parecia-me que essa figura tinha asas estendidas sob os ombros; mas não posso dizer com certeza se eram asas, pois tudo parecia emanação de luz.

Nesse momento, porém, toda a casa estava cheia de luz em redor. Não vi mais a luz do candelabro de cinco braços.

As pessoas reunidas estavam todas como pasmas e extasiadas; levantaram inconscientemente os rostos, com desejo ardente e vi derramar-se na boca de todos uma torrente de luz, como pequenas línguas de fogo em chamas.

Era como se respirassem e recebessem ardentemente esse fogo e como se algo de sua boca, em ardente desejo, fosse ao encontro dessas chamas.

O santo fogo derramou-se também sobre os discípulos e as mulheres, no vestíbulo e desta forma se dissolveu a nuvem luminosa gradualmente, como uma nuvem que derrama chuva de luz.

As línguas de fogo vieram sobre todos, mas com intensidade e cores diferentes.

O estrondo semelhante a uma trovoada acordou muitos homens.

O Espírito comoveu muitos fiéis e discípulos que moravam nos arredores.

Depois de acabada a efusão do Espírito, nasceu alegre coragem em toda a assembléia. Todos estavam comovidos e como embriagados de alegria e confiança. Rodeavam a Santíssima Virgem, única que permanecia toda tranqüila e calma, em seu habitual recolhimento e santo silêncio, apesar de feliz e confortada.

Os Apóstolos, porém, abraçavam-se uns aos outros, penetrados de uma jubilosa audácia de falar. Era como se clamassem uns aos outros: Em que estado estávamos? Que foi feito de nós?

Também as santas mulheres abraçavam umas as outras; todos os discípulos, nos corredores, estavam do mesmo modo comovidos. Os Apóstolos correram para eles e em todos havia, por assim dizer, nova vida, cheia de alegria, confiança e coragem.

Esse transporte de Iluminação do coração e de conforto terminou em uma ação de graças. Reuniram-se em oração, dando graças a Deus, com profunda comoção. No entanto desapareceu gradualmente a luz.

Pedro fez então um discurso aos discípulos e enviou alguns para os acampamentos de peregrinos bem-intencionados, vindos para a festa de Pentecostes.

Havia, porém, entre o Cenáculo e a piscina de Betesda diversos barracões e dormitórios abertos, onde os forasteiros que vinham para a festa, dormiam e guardavam os animais. Estavam ali muitos dormindo; outros estavam acordados e receberam também a graça do Espírito Santo; pois passara uma emoção geral pela natureza.

Muitos homens bons receberam iluminação e a graça da conversão; os maus, porém, ficaram tímidos, medrosos e ainda mais endurecidos.

A maior parte dessa gente, que estava acampada naqueles arredores, onde se reunira a nascente comunidade, estava já ali desde a Páscoa, porque, pela distância de sua terra, não valia a pena fazer a viagem de ida e volta entre a Páscoa e Pentecostes.

Esses, pois, por tudo que ouviram e viram, se tornaram mais familiares e amigos dos discípulos do que os outros.

Quando os discípulos enviados por Pedro os procuraram e lhes anunciaram o cumprimento da promissão do Espírito Santo, tornaram-se de diversos modos conscientes de sua própria conversão e, obedecendo à palavra dos discípulos, reuniram-se todos em redor da piscina de Betesda, que ficava próxima.

No entanto Pedro no Cenáculo impôs as mãos a cinco Apóstolos, que deviam ajudar a ensinar e batizar na piscina de Betesda.

Se me lembro bem, foram esses Tiago o Menor, Bartolomeu, Matias, Tomé e Judas Tadeu.

Vi nessa ordenação, que o último tinha uma visão: foi como se o visse abraçar o corpo de Nosso Senhor.

Antes de Irem à piscina de Betesda, para benzer a água e batizar, vi-os ainda receber a bênção da SS. Virgem, ajoelhados diante dela; antes da ascensão de Jesus a recebiam em pé.

Vi os Apóstolos receberem essa bênção sempre, nos dias seguintes, antes de saírem e depois de voltarem.

Nesses atos de bênção e sempre quando comparecia entre os Apóstolos, em sua dignidade, a SS. Virgem vestia um longo manto branco, um véu amarelo sobre o rosto e na cabeça, caindo de ambos os lados até quase ao chão, uma larga faixa de pano azul celeste, dobrada sobre a testa um pouco para trás, enfeitada de bordado e segura na cabeça por uma pequena coroa de seda branca.

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