Casamento em Caná da Galiléia – Igreja do Profeta Elias – Gurik Nikitin, Sila Savin e Oficina – 1680

Sobre a Obra

Como na maioria dos ciclos de afrescos russos do século XVII, nas pinturas murais da Igreja do Profeta Elias os temas litúrgicos e as representações simbólicas complexas são quase completamente eliminados do espaço central do templo, para dar lugar a elementos históricos e edificantes. 

Por exemplo, aqui os dois registros inferiores de afrescos são dedicados às histórias do profeta Elias e seu discípulo Eliseu, e os três superiores aos milagres e parábolas de Cristo e aos Atos dos Apóstolos; Além disso, ao unir os dois últimos temas, observa-se uma clara consequência: o ensinamento do Salvador, cuja veracidade é confirmada pelo grande número de milagres que ele realizou, é difundido e afirmado por seus discípulos e seguidores.

A composição “Bodas de Caná da Galileia” mostra o primeiro milagre realizado por Cristo numa aldeia não muito distante de Nazaré, num banquete de casamento para o qual fora convidado juntamente com a sua Mãe e os seus discípulos: o vinho tinha acabado, e na casa de sua Mãe Ela pediu que Ele transformasse em vinho a água que estava em seis grandes talhas usadas para purificação (Jo 2,1-11). 

A tradição patrística interpretou a presença do Salvador na festa de casamento como uma consagração sacramental do próprio rito do casamento, e a transformação da água em vinho como um símbolo da passagem da ordem do Antigo Testamento para a do Novo Testamento. 

Além disso, a festa de casamento em Caná, assim como outras mesas encontradas no Novo Testamento, estavam associadas à Eucaristia e ao vinho que milagrosamente apareceu – com o “vinho novo” que Cristo, juntamente com seus discípulos, provariam no “Reino do Pai” no final da sua missão terrena (Mt 26,29; Mc 14,25). 

Não é por acaso que a variante iconográfica tradicional deste tema, formada na arte bizantina e russa e conhecida, por exemplo, através do fresco de Dionísio na igreja da Natividade da Mãe de Deus no mosteiro de Ferapont (1502), em que o esquema composicional e também em alguns detalhes lembra distintamente a “Última Ceia”.

As “Bodas de Caná” na Igreja do Profeta Elias divergem radicalmente dessa variante: a composição aqui é baseada em uma gravura do artista holandês Pieter van der Borcht, mas enriquecida com inúmeros elementos festivos, quase de contos de fadas. 

Os recém-casados ​​estão vestidos com ricas roupas nobres, a toalha de mesa branca é bordada em vermelho e há pratos folheados a ouro esculpidos usando uma técnica muito apreciada em Yaroslavl. 

A mesa, os bancos e os capitéis das colunas são decorados com motivos florais estilizados. As balaustradas que correm ao longo do topo do telhado provavelmente foram retiradas de outra Bíblia ilustrada holandesa, a Bíblia Piscator, em cujas composições os dois registros inferiores de afrescos, dedicados aos profetas Elias e Eliseu, são baseados.

O líder dos pintores de afrescos que trabalhavam na igreja, Guriy Nikitin de Kostroma, é reconhecido como o melhor pintor monumental de sua época. Sua arte pertence, sem dúvida, ao século XVII, mostrando os elementos típicos de uma era de transição: gosto narrativo e de gênero nas composições, amor aos detalhes e à ornamentação. Ao mesmo tempo, porém, o complexo de afrescos pintados sob sua direção mantém o monumentalismo, a solenidade sublime e a expressividade espiritual que são características dos melhores exemplos da arte medieval russa.

Fonte: Calendário Il Secolo D´Oro de Jaroslav

Detalhes sobre as Bodas de Caná (A partir de 3:02:30)

Capítulo 14. Eleição dos primeiros discípulos e o milagre de Caná 

VIDA, PAIXÃO E GLORIFICAÇÃO DO CORDEIRO DE DEUS”:                       As meditações de Anna Catharina Emmerich (1820-1823)

A figura majestosa de Jesus, o seu trato sério, mas sempre amável e delicado, a força da sua palavra, juntamente com os prodígios extraordinários que operava, deviam fazer profunda impressão em todos. 

Uns, cheios de boa vontade, creram-lhe humildemente na doutrina e nos milagres; outros, malignos, invejosos e de coração endurecido, encheram-se de ódio contra Ele. 

Quem não se lembra, à vista desses fatos, da profecia do velho Simeão: 

“Este Menino está posto para a ruína e salvação de muitos, em Israel?” 

Do número ainda pequeno dos aderentes só poucos se lhe tinham juntado, acompanhando-o nas viagens apostólicas. 

Quando, porém, saiu do deserto, depois do jejum de quarenta dias, aumentou o número dos discípulos; entre estes era André um dos primeiros.

Ouvira, com Saturnino, João indicar a Jesus, dizendo: “Eis aí o Cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo.” 

Ambos se reuniram a Jesus. André conduziu o irmão Simão ao Salvador, que lhe disse: 

“Tu és Simão, filho de Jonas; no futuro serás chamado Kephas (latim: Petrus).” 

Jesus encontrou-se depois com Filipe e convidou-o para discípulo, dizendo-lhe: 

“Segue-me”. 

Filipe falou a Natanael do Messias; mas só o saber sobrenatural de Jesus o induziu a seguí-Io. 

Com os discípulos e parentes, dirigiu-se Jesus a Caná, para assistir às bodas a que Ele e sua Mãe tinham sido convidados. 

O noivo chamava-se Natanael e tinha certo parentesco com Jesus; pois era sobrinho da filha de Sobe, a qual já conhecemos como irmã de Sant’ Ana. 

Conta-nos Anna Catharina Emmerich o seguinte: 

Estavam reunidos mais de cem convidados. Jesus dirigia a festa, residia aos divertimentos, temperando-os com palavras de sabedoria. Foi também quem organizou todo o programa da festa. 

Vi os convidados, homens e mulheres, divertirem-se separados num jardim, conversando ou brincando. Jesus também tomou parte num jogo de frutas, com amável seriedade. 

Dizia, às vezes, sorrindo, algumas palavras sábias, que todos admiravam ou escutavam comovidos. 

Nesses dias falou Jesus muito em particular com aqueles discípulos que, mais tarde, se lhe tomaram Apóstolos. 

Quis revelar-se, nessa festa a todos os parentes e amigos e desejou que todos até então por Ele eleitos se conhecessem uns aos outros, naquela reunião, em que havia maior franqueza. 

No terceiro dia depois da chegada de Jesus, foi celebrada a cerimônia do casamento. Noivo e noiva foram conduzidos da casa da festa à sinagoga. 

No cortejo havia seis meninos e seis meninas, que levavam grinaldas; depois seguiam seis moços e moças, com flautas e outros instrumentos. 

Além desses, doze donzelas acompanhavam a noiva, como paraninfas e o noivo, doze mancebos. 

A cerimônia do casamento foi feita pelos sacerdotes, diante da sinagoga. 

Os anéis que trocaram, foram um presente de Maria Santíssima e tinham sido bentos antes por Jesus. 

Para o banquete nupcial reuniram-se todos de novo, no jardim. 

Vi um jogo preparado por Jesus mesmo, para os homens: a sorte que caía a cada um dos jogadores, indicava-lhe as, qualidades, os defeitos e virtudes. 

Jesus interpretava a sorte de cada um, conforme a combinação das frutas que ganhavam. 

O noivo ganhou para si e a esposa duas frutas estranhas, num só pé, como já vi antes, no paraíso. 

Todos se admiravam muito e Jesus falou do matrimônio e do cêntuplo fruto da castidade. 

Depois dos noivos terem comido a fruta, vi que uma sombra escura deles se afastava. A fruta tinha relação com a castidade e a sombra que se apartava, era a concupiscência da carne. 

Ao jogo no jardim seguiu-se o banquete nupcial. 

A sala estava dividida em três partes; na do meio estava Jesus sentado à cabeceira da mesa. 

Na mesma mesa sentaram-se também Israel, o pai da noiva, os parentes masculinos de Jesus e da noiva e também Lázaro. 

As outras mesas laterais sentaram-se os outros convidados e os discípulos. O noivo serviu as mesas dos homens e a noiva as das mulheres. 

Jesus encarregara-se das despesas do segundo prato do banquete. 

(Lazaro pagou as despesas, mas só Jesus e Maria o sabiam). 

Tudo estava bem arranjado pela Santíssima Virgem e Marta. 

Jesus lhes tinha dito que forneceria o vinho para esse prato. 

Depois de ter sido servido às mesas laterais o segundo prato, que constava de aves, peixe, iguarias de mel, frutas e uma espécie de pastéis, que Seráfia (Verônica) trouxera, Jesus aproximou-se e repartiu todas as iguarias; depois se sentou de novo à mesa. 

Serviram-se as iguarias, mas faltou o vinho. Jesus, porém, estava ensinando. 

Esta parte do banquete ficou aos cuidados da Santíssima Virgem e, como notasse que faltava vinho, aproximou-se de Jesus, lembrando-lhe ansiosamente essa falta, porque Ele tinha dito que o forneceria. 

Jesus, que falava do Pai Celestial, disse-lhe então: “Mulher, não vos apoquenteis. Deixai de inquietar-vos e a mim, minha hora ainda não chegou.” 

Assim falando, não manifestava falta de respeito a sua Mãe. Disse mulher e não mãe, porque quis nesse momento, como Messias e Filho de Deus, realizar uma ação misteriosa diante dos seus discípulos e parentes, mostrando que ali estava, presente na sua missão divina. 

Maria não se inquietou mais; disse aos criados: 

Texto

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Depois de algum tempo, mandou Jesus aos criados trazerem as ânforas vazias e virarem-nas. Trouxeram-nas; eram três ânforas de água e três de vinho. 

Os criados mostraram que estavam vazias, virando-as por cima de uma bacia. 

Jesus mandou que enchessem todas com água. As ânforas eram grandes e pesadas; eram precisos dois homens para transportarem cada uma. 

Depois de estarem cheias de água, e postas ao lado do aparador, Jesus aproximou-se, benzeu as ânforas e, tendo-se sentado de novo à mesa. disse: 

“Enchei os cálices e levai um ao despenseiro.” 

Este, tendo provado o vinho, aproximou-se do noivo e disse-lhe que sempre fora costume dar primeiro o bom vinho e depois dos convidados terem bebido bastante oferecer o vinho inferior, mas que ele tinha dado o melhor no fim. 

Então beberam também o noivo e o pai da noiva, ficando ambos pasmos; os criados protestaram que haviam enchido de água as ânforas e tirado delas para encher os cálices e copos das mesas. 

Então beberam todos. Não houve, porém, nenhum barulho por causa do milagre, mas reinava silêncio respeitoso em toda a reunião e Jesus ensinou muito, a respeito do que se passara. 

Todos os discípulos, parentes e convidados estavam agora convencidos do poder de Jesus e de sua dignidade e missão. 

Desse modo esteve Jesus a primeira vez na sua comunidade e foi o primeiro prodígio que nela e para ela operou, para confirmar-lhe a fé. 

Por isso é relatado na história da sua vida como o primeiro milagre e a última Ceia como o último milagre, quando já era firme a fé dos apóstolos. 

Ao fim do banquete veio o noivo sozinho a Jesus e declarou-lhe, com muita humildade, que sentia extinta em si toda a concupiscência da carne e que desejava viver em santidade com a esposa, se ela consentisse. 

Também a noiva veio a Jesus, sozinha, dizendo-lhe o mesmo. 

Chamou-os então Jesus a ambos e falou-Ihes do matrimônio, da castidade, tão agradável a Deus e do fruto cêntuplo do espírito. 

Citou muitos profetas e santos, que viveram castos, sacrificando a carne, por amor do Pai Celestial, que tiveram como filhos espirituais muitos homens perdidos, reconduzindo-os ao caminho da virtude e que assim tinham grande e santa descendência. 

Os noivos fizeram então voto de continência e de viverem como irmãos durante três anos. Ajoelharam-se diante de Jesus, que os abençoou.

Fonte: VIDA, PAIXÃO E GLORIFICAÇÃO DO CORDEIRO DE DEUS”:    As meditações de Anna Catharina Emmerich (1820-1823)

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