Sobre a Obra

Jesus Cristo, o Verbo encarnado – foleado a ouro

“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.

Ele estava no princípio com Deus.

Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez.

Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens.

E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam.

Houve um homem enviado de Deus, cujo nome era João.

Este veio para testemunho, para que testificasse da luz, para que todos cressem por ele.

Não era ele a luz, mas para que testificasse da luz.

Ali estava a luz verdadeira, que ilumina a todo o homem que vem ao mundo.

Estava no mundo, e o mundo foi feito por ele, e o mundo não o conheceu.

Veio para o que era seu, e os seus não o receberam.

Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome;

Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus.

E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade.” (Jo 1,1-14)

A Encarnação – fundamento da Iconografia:

O Senhor, cujo rosto não podia ser visto sem morrer, e cujo nome os judeus temiam até mesmo pronunciar, encarnou-se no ventre de uma mulher, tornando-se homem.

O monge de Constantinopla do século IX, Teodoro, o Estudita, que se opunha à política iconoclasta do imperador bizantino Leão V, escreveu sobre esse paradoxo:

“O Inconcebível é concebido no ventre da Virgem, o Imensurável atinge três côvados de altura; o Inclassificável adquire qualidade; o Indefinível levanta-se, senta-se e deita-se; Aquele que é Onipresente é colocado numa manjedoura; Aquele que é Atemporal atinge gradualmente a idade de doze anos; Aquele que é Sem Forma aparece na forma de um homem, e o Incorpóreo entra num corpo… Portanto, Ele é retratável e indescritível.”

A arte de representar o Filho de Deus baseia-se precisamente neste paradoxo fundamental da fé cristã: o Verbo feito carne, Deus, absolutamente Outro, existindo antes do tempo e fora do espaço, nasceu há dois mil anos num lugar específico, no espaço, na Judeia.

Os céus não O podem conter, mas o mistério de Deus cabe no ventre de Maria

Toda a iconografia cristã se baseia no mistério surpreendente da Encarnação. Assim escreveu o Patriarca Germano de Constantinopla no século VIII:

“Em memória eterna da vida na carne de nosso Senhor Jesus Cristo (…) adotamos a tradição de representá-lo em forma humana, isto é, em seu olho visível da Epifania, sabendo que, ao fazê-lo, ampliamos a humilhação do Verbo de Deus.”

João Damasceno, perguntando por que havia uma proibição à criação de imagens sagradas no Antigo Testamento, respondeu que as pessoas ainda não conheciam a Encarnação.

Mas assim que o incorpóreo se tornou homem, isto é, depois que Cristo se encarnou, Deus pôde ser representado.

Além disso, é precisamente a possibilidade de ver Sua forma humana que é equiparada à salvação.

João Damasceno reconheceu que o mistério da Encarnação restaurou completamente a relação entre o Criador e a criação, entre Deus e o homem, entre a matéria e o espírito:

Era impossível imaginar Deus sem corpo e forma.

Mas hoje, depois que Ele apareceu em carne e osso e viveu entre as pessoas, consigo imaginar e retratar o que é visível em Deus.

Representar o rosto de Cristo significava, então, representar o objeto da fé.

Mas o paradoxo permanecia, pois o Divino sempre preserva sua transcendência e mistério.

O Sétimo Concílio de Niceia, em 787, expressou-se sobre o assunto da seguinte forma:

“Embora a Igreja Católica represente Cristo na pintura em Sua forma humana, ela não separa Sua carne da Divindade, que estão unidas Nele: pelo contrário, ela acredita que Sua carne é deificada e a confessa como uma com a Divindade.”

Essa carne deificada do Verbo dotou toda a matéria de energia sagrada, unindo o Divino e o humano, o efêmero e o eterno.

A santidade desse Corpo foi comunicada à criação, que então se tornou o mistério de Sua presença.

A arte cristã glorifica precisamente essa beleza do universo, refletida no Verbo, neste Corpo transbordante de energia Divina.

Fonte 1: Texto traduzido do artigo “O Mistério da Encarnação através dos olhos dos Padres da Igreja e na Arte Bizantina”

O Bom pastor:

“Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas.

Mas o mercenário, e o que não é pastor, de quem não são as ovelhas, vê vir o lobo, e deixa as ovelhas, e foge; e o lobo as arrebata e dispersa as ovelhas.

Ora, o mercenário foge, porque é mercenário, e não tem cuidado das ovelhas.

Eu sou o bom Pastor, e conheço as minhas ovelhas, e das minhas sou conhecido.

Assim como o Pai me conhece a mim, também eu conheço o Pai, e dou a minha vida pelas ovelhas.

Ainda tenho outras ovelhas que não são deste aprisco; também me convém agregar estas, e elas ouvirão a minha voz, e haverá um rebanho e um Pastor.

Por isto o Pai me ama, porque dou a minha vida para tornar a tomá-la.

Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho poder para a dar, e poder para tornar a tomá-la.

Este mandamento recebi de meu Pai.” (Jo 10,11-18)  

Jesus declara ser o Bom Pastor, em grego a palavra utilizada é kalós que significa “Belo”, o estético e o ético eram correlacionados pelos gregos.

Ao passo que ele também declara que por ser o “Belo Pastor” ele dará sua vida pelas ovelhas, ele salvará as ovelhas porque é “Belo”, isto é o mais fundamental na tradição ortodoxa e na iconografia condensada na frase de Dostoiévski: “A Beleza salvará o mundo” dita na obra O Idiota pelo príncipe Myškin, que se inspira na contemplação da pintura “Cristo morto” de Hans Holbein, uma imagem poderosa da beleza da derrota e da humildade.

O Cristo que trouxe a “beleza redentora e divina” para ser visível e contemplável através da Encarnação, não condenou a arte mas a elevou como um meio de graça e contemplação como expressa João Damasceno:

“Antigamente, Deus, o incorpóreo e o não circunscrito, nunca era retratado. Agora, no entanto, quando Deus é visto vestido de carne e conversando com os homens (Bar 3,38).

Eu faço uma imagem de Deus de quem eu vejo.

Não adoro a matéria, adoro o Deus da matéria, que se tornou matéria por minha causa, e dignou-se a habitar a matéria, que trabalhou na minha salvação através da matéria.

Não deixarei de honrar aquele assunto que opera minha salvação.” (João Damasceno, Apologia contra aqueles que não veneram os Santos Ícones, I, 16).   

Link da Fonte 1:

https://www.archivioradiovaticana.va/storico/2016/12/29/%D1%82%D0%B0%D0%B9%D0%BD%D0%B0_%D0%B2%D0%BE%D0%BF%D0%BB%D0%BE%D1%89%D0%B5%D0%BD%D0%B8%D1%8F_%D0%B3%D0%BB%D0%B0%D0%B7%D0%B0%D0%BC%D0%B8_%D0%BE%D1%82%D1%86%D0%BE%D0%B2_%D1%86%D0%B5%D1%80%D0%BA%D0%B2%D0%B8/ru-1282297

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