
Maria, a Rainha dos Apóstolos com a Agia Sofia e a Igreja de Blachernae – Constantinopla
Hoje a Igreja Ortodoxa celebra a festa da Proteção da Nossa Senhora.
No século X (provavelmente no ano de 911) a igreja de Blachernae em Constantinopla, que guardava várias relíquias da Virgem Maria (seu manto, véu e parte do seu cinto), sofreu um ataque de um grande exército pagão.
Os habitantes da região clamavam pela intercessão da Mãe de Deus para protegê-los quando Santo André, o Louco por Cristo, e seu discípulo Epifanius, viram a cúpula da igreja se abrir e a Virgem Maria entrar, movendo-se no ar acima dele, brilhando e cercada por anjos e santos, incluindo São João Batista e São João, o Evangelista.
Ajoelhando-se no centro da Igreja e com lágrimas nos olhos, Nossa Senhora começou a rezar fervorosamente por todos os cristãos fiéis do mundo.
Após terminar de orar, Ela entrou no altar, orou novamente e tirou o manto de sua cabeça e estendeu-o sobre a cabeça dos fiéis que estavam no templo, protegendo-os contra os inimigos visíveis e invisíveis.
Nossa Senhora ascendeu aos céus e brilhava com glória celestial e o manto em Suas mãos brilhava mais do que os raios do sol.
A Santa Mãe de Deus intercedeu pelos cristãos, pedindo a Nosso Senhor Jesus Cristo que aceitasse as orações de todos que invocavam Seu Santíssimo Nome.”
Fonte: Artigo aprimorado da Página da Catedral Ortodoxa de São Nicolau
Panagia de Blachernae, Panagia Oranta, Panagia Platyterra e Panagia Fonte da Vida
Informações relevante encontradas no Filme Panagia Blachernitissa, produzido pela Greek Orthodox Christian Society Sydney:
“O ícone Panagia Blachernitissa desde o século XII era utilizado pelos imperadores bizantinos em suas campanhas militares e desde o século XI está associado a vitória militar, porém, também a vitória espiritual.
Já em 626, quando os turcos foram atacados pelos persas e pelos ávaros, o imperador Heraclios estava fora de Constantinopla em outra frente de defesa militar, enquanto isto o Patriarca Sérgius e o filho do imperador pegaram o ícone de Panagia na igreja de Blachernae e caminharam solenemente em procissão com este pelas muralhas da cidade.
Panagia ouviu as orações dos bizantinos e os livrou dos exércitos inimigos de maneira milagrosa: os navios dos persas e dos avaros foram atacados pelos raios de uma tempestade e afundaram.
Então toda a cidade se reuniu na igreja para agradecer e performar uma vigília, na qual o hino akathisto foi entoado pela primeira vez.
Para que Panagia possa interceder por nós, devemos ter méritos para poder obter tal intercessão.
Na batalha de Manzakurt, testemunhada e relatada pelo cronista Michael Ateliatis, o imperador bizantino Romanos começou a se sentir invencível e foi bastante cruel ao castigar severamente um dos soldados que supostamente tinha roubado um pequeno burro, criando punições muito maiores que os crimes e não demonstrando respeito aos ícones sagrados.
Romanos açoitou violentamente o soldado nas proximidades do santuário, cortando o nariz deste, sem nenhuma misericórdia nem mesmo ao ouvir as súplicas do soldado a Panagia.
Neste momento o cronista percebeu que a vingança de Deus adviria sobre os imperadores bizantinos.
O ícone de Panagia Blachernitissa tido como invencível em campo de batalha, não pode suportar tamanho desaforo por parte do próprio imperador, pois foi clamado pelos punidos e passou a defendê-los.
Assim, como castigo, em 1071 os bizantinos perderam a guerra com metade do exército deserdando do imperador Romanos, e assim abriram as portas para os soldados otomanos tomarem a Anatólia, o que levou posteriormente a queda de Constantinopla.
Ou seja, Panagia que outrora tinha sido tão benevolente com Constantinopla, pois a salvou em 626 dos persas e ávaros, apareceu em 911 em Blachernae e orou por toda a humanidade, desta vez não pode mais manter seus favores a cidade por conta de tantos atos de desmerecimento por parte de seu imperador.
Panagia Oranta
O ícone de Blachernae é do tipo Oranta, ou seja, Panagia está em Oração, com os braços abertos orando pelo mundo e o menino Jesus Emanuel está em uma mandorla cheia de anjos e de frente ao peito de Panagia.
Panagia Oranta mais do que apresentando Maria em oração, é a própria personificação da oração, de seu estado mental e concentração.
Os braços levantados em sinal de oração não é somente algo cristão, mas também do mundo greco-romano e dos deuses egípcios. Os profetas do antigo testamento levantavam os braços para o céu, mas o ícone começou mesmo a ser difundido pelos fiéis de Maria nos primeiros séculos.
O primeiro ícone do tipo Oranta é do século IV e se encontra em uma catacumba maior em Roma.
Em muitas versões, anjos rodeiam a Virgem e o Filho Jesus e nos ícones de Blachernae, Oranta e Platytera, normalmente com Panagia de corpo inteiro ou parcial, pois ela é mais espaçosa que os céus pois ela carrega o criador do universo em seus braços e ela Panagia é certamente a mãe de Deus (“Mais honrada que os querubins e mais gloriosa que os serafins”).
Panagia Platitera (Platytera)
O ícone da Panagia Platitera deriva do ícone Oranta.
Platitera também é conhecida como Nossa Senhora do Sinal ora e olha para a frente, indicando a santidade da Virgem Maria e o caminho da Salvação de seu Filho que está em seu colo entronado.
Panagia Platitera (Platytera) é muito comum no centro do altar do catolicon (sala principal da catedral) com um tamanho gigante para mostrar a grandeza da mãe de Deus e ilustrar o mistério da encarnação de Deus.
Panagia na Fonte da Vida
O ícone da Panagia na Fonte da Vida é outro tipo de ícone derivado do Panagia Oranta, mas este rememora as Aparições da Santíssima Virgem em uma fonte que se tornou milagrosa no século XII na Turquia.
De acordo com a tradição, um soldado e futuro imperador bizantino, Leo 1º, passou por um homem cego enquanto caminhava e este estava perdido procurando um lugar para descansar e procurando água.
Enquanto procurava água, ouvia a voz de Panagia dizendo para ele não procurar longe, que havia água próxima.
Leo 1º nada encontrou, até que a voz de Panagia o informou para entrar em uma gruta e receber a fonte da água.
Panagia também instruiu Leo 1º a pegar o barro da fonte e esfregar nos olhos do cego para assim curá-lo.
Ela também revelou que auxiliaria Leo 1º a construir a igreja naquela lugar aonde os fiéis poderiam ir se curar na fonte da vida.
O ícone Life Giving Spring, ou Panagia Fonte da Vida, apresenta a Virgem e o menino Jesus no centro da fonte em formato de cálice.
Em algumas versões, apenas Panagia é apresentada (como a do Agia Sofia em Istambul). Em outras, anjos estão nos lados.
Em algumas versões do ícone, mortos são ressuscitados, paralíticos foram curados, cegos são curados, homens simples e imperadores esperam por suas curas na fonte, ricos e pobres, soldados, homens, mulheres, crianças.
Tudo depende da qualidade de nossos merecimentos e de nossas orações.
Devemos orar com o fundo de nossos corações para que Panagia possa ouvir nossas orações.
Panagia é toda oração. Ela nasceu por conta das orações de seus pais.
Quando foi morar na sinagoga, foi para rezar dia e noite.
Quando recebeu a anunciação, Panagia estava orando, e certamente no tormento da cruz Panagia estava orando.
As orações de Panagia de acordo com São João Maximovitch, mencionado no filme Panagia Blachernitissa:
“Este ícone pretende principalmente expressar o fato de que o Theotokos deu à luz Cristo, que é visto como o provedor da água espiritual vivificante.
Pois Cristo disse à mulher samaritana: Se conhecesses o dom de Deus e quem é que te diz: ‘Dá-me de beber’, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva”.
(João Capítulo 4, Versículo 10)
‘Tendo experimentado todas as dificuldades da vida terrena, o Intercessor da raça cristã vê cada lágrima, ouve cada gemido e pedido dirigido a Ela.
Especialmente próximos dela estão aqueles que trabalham na batalha contra as paixões e são zelosos por uma vida agradável a Deus.
Mas mesmo nas preocupações mundanas Ela é uma ajudadora insubstituível.
“Alegria de todos os que sofrem e intercessora dos ofendidos, alimentador dos famintos, consolação dos viajantes, porto dos abalados pela tempestade, visitação dos enfermos, proteção e intercessora dos enfermos, auxiliar dos idosos, Tu és a Mãe dos Deus nas alturas, ó Puríssimo”…
“A esperança e intercessão e refúgio dos cristãos,”
“A Mãe de Deus incessante em orações”…”salvando o mundo por Tua oração incessante”…”Ela dia e a noite roga por nós, e os cetros dos reinos são confirmados por Suas orações.
(São João Maximovitch)
Maria, a Rainha dos Apóstolos
“Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção como filhos. (Gl 4,4-5)
No ícone a Santíssima Mãe de Deus, imagem da Igreja, de cada batizado e de cada apóstolo e discípulo enviado por Jesus, traz a Palavra de Deus como que escrita na sua pessoa, na atitude de a mostrar, de a indicar e de dá-lo como Caminho e Verdade e Vida, como “um livro para ler escrito com o seu sangue virginal” (G. Alberione).
É o espelho da Igreja e de cada apóstolo. Ela é inteiramente relativa a Cristo, garantia de uma fé reta, participante de todo o seu Mistério. Portanto, o ícone representa-o como numa inclusão: Nazaré e a Cruz.
A Anunciação e a Encarnação do Filho na carne de Maria pelo Espírito Santo, evocada pela presença do arcanjo Gabriel, e a exaltação do Filho entronizado e glorificado na Cruz como Rei e, portanto, Pastor que dá a vida para reunir os seus filhos de Deus dispersos, evocados pela figura de João Evangelista presente aos pés da cruz.
O discípulo que Jesus amou é a nova humanidade confiada pelo Filho à Mãe, que assim se torna Mãe de cada discípulo e da humanidade.
O Filho mostrado e dado por Maria é o Verbo encarnado, crucificado sob Pôncio Pilatos, que morreu e foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, subiu ao céu e está sentado à direita do Pai e de lá retornará para a sua segunda volta para o julgamento e salvação definitivos.
O livro em suas mãos está aberto em João 14.6: a Sabedoria divina, Jesus, o Mestre e Senhor, se define: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”.
Acima, a mão do Pai desde o céu rasgado deleita-se no Filho como no Batismo no Jordão, no Monte da Transfiguração e na Ressurreição onde Ele disse:
“Tu és meu filho, hoje eu te gerei.”
Cristo ressuscitado dentre os mortos não morre mais; Ele se faz Senhor de tudo e, sem perder nada, entrega tudo nas mãos do Pai.
As duas cidades laterais do ícone representam a Igreja na sua totalidade: como se viessem do perfil da santa Sião cristã, o cenáculo, onde se realiza o dom dos Judeus, Jerusalém, com o Espírito se manifestou a Igreja, e Belém, a Igreja dos gentios, pagãos, representada pelos Magos que vieram do Oriente para adorar o Rei nascido: “quando entraram na casa, viram o Menino com Maria, sua mãe”. (Mt 2.11)
Maria é a Mãe do Rei-Pastor e, além disso, como primícias da Igreja, da qual é membro eleito, participa da realeza do povo de Deus.
Ela representa aquele que gerou Cristo, concebido precisamente pelo Espírito Santo e nascido da Virgem para nascer e crescer também no coração dos fiéis através área da Igreja.
“De fato, a Virgem foi na sua vida modelo daquele amor maternal pelo qual devem ser animados todos aqueles que na missão apostólica da Igreja cooperam na regeneração dos homens” (cf. Lumen gentium 65).
“A vocação cristã é por natureza um apelo ao apostolado” (Apostolicam actuositatem 2).
O ícone deve ser sempre: verdadeiro, milagroso, acheropita, ou seja, não pintado por mãos humanas.
Verdadeiro (=verônica) significa conforme à Palavra de Deus, deve “mostrar” a verdade do Mistério! Palavra e imagem devem coincidir: “como ouvimos, assim vimos na cidade do Senhor nosso Deus” (cf. Salmo 47,9).
Milagroso (= maravilhoso aos nossos olhos): deve representar o Mistério de modo a dizer o indizível na sua linguagem simbólica. É o Mistério que é maravilhoso e salva e cura.
Acheropita (= não pintado por mão humana): obra do Espírito que habita no artista (cf. Ex 35,30-35), o batizado transfigurado pela oração e pela ascese.
O Ícone torna visível o que Deus com o poder do seu Espírito Santo opera no Filho e em Maria e na Igreja; mostra uma nova criação que não é obra humana, mas do poder de Deus.
Fonte: (M. Cristina Cruciani)
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