Maria resgatando as almas do purgatório ou Impressões de minha primeira missa

Sobre a Obra

Maria e as almas do Purgatório

As almas do Purgatório são caras à Santíssima Virgem.

São almas predestinadas e santas, almas que muito A amam e que, em sua maior parte, A serviram com fidelidade durante sua vida sobre a Terra.

“As almas dos fiéis defuntos, por misericórdia de Deus, descansem em paz.

Amém”.

Com esta súplica, lembramo-nos das almas que se encontram no Purgatório, para as quais solicitamos, a rogos de Maria, o perpétuo descanso.

Maria deseja que aliviemos as almas do Purgatório

A Bem-aventurada Virgem – comenta o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira – alcança também graças para as almas que se acham no Purgatório, onde expiam os pecados que cometeram nesta vida.

Por meio de suas súplicas, Ela abrevia a punição dessas almas, suaviza-a e a alivia de mil modos.

Outra não é a afirmação de Santo Afonso Maria de Ligório, segundo o qual, pelos merecimentos de Maria, não só se tornam mais leves, mas também mais breves as penas das almas do Purgatório, apressando-se, com a intercessão da Santíssima Virgem, o tempo da expiação.

Basta que Ela formule um pedido neste sentido.

Ademais, sobremaneira estima a Mãe de Deus nossas ações em favor dos membros da Igreja Padecente.

A esse respeito escreve o Pe. Jourdain:

As almas do Purgatório são caras à Santíssima Virgem; são almas predestinadas e santas, almas que muito A amam e que, em sua maior parte, A serviram com fidelidade durante sua vida sobre a terra.

Nas almas do Purgatório Maria vê as filhas bem-amadas do Padre Eterno, as esposas de seu Divino Filho, os templos do Espírito Santo, as imagens de Deus que brilharão um dia no Céu com maravilhoso fulgor.

Ela vê, nessas almas, o preço do Sangue de seu adorável Jesus, as flores imortais que ornarão sua própria coroa durante a eternidade.

Nelas, Maria vê seus próprios filhos.

Quem reza pelas almas do Purgatório prepara seu próprio sufrágio

Concorrendo para o alívio dessas almas, praticamos numerosos atos de virtude e preparamos nosso próprio socorro para o tempo em que estivermos no Purgatório.

[…] Bem raros são aqueles que vão diretamente ao Céu, ao saírem desta vida.

Portanto, se salvarmos nossa alma, a salvaremos passando pelo fogo, segundo a palavra do Apóstolo: “Ele será salvo, porém passando de alguma maneira através do fogo” (I Cor 3, 15).

Fonte: https://www.arautos.org/doutrina/maria-e-as-almas-do-purgatorio-143981#quem-reza-pelas-almas-do-purgat%C3%B3rio-prepara-seu-pr%C3%B3prio-sufr%C3%A1gio-1

Resumo da Divina Comédia

Esta é uma das maiores obras cristãs de todos os tempos. Uma viagem astral de Dante Aliguieri conduzida por Virgílio, o poeta latino, ao inferno, ao purgatório e ao paraíso.

No começo do caminho, no Limbo (ou 1ª Esfera do Inferno), onde vivem os honestos que não foram batizados, e não puderam ser aceitos no céu e nem no purgatório.

Diversos poetas gregos e romanos, heróis e filósofos estavam no Limbo e dele somente poderiam sair aqueles que acreditaram na vinda de Cristo.

O inferno oferece visões mais arrebatadoras, seu portal não tem portas ou cadeados, somente um arco com um aviso que adverte:

“uma vez dentro, deve-se abandonar toda a esperança de rever o céu, pois de lá não se pode voltar.”

A alma só tem livre-arbítrio e decide por ela enquanto viva.

Depois de morta, perde a capacidade de raciocinar e tomar decisões.

Na companhia de Virgílio, seu mentor e guia, Dante Alighieri em viagem astral  passara por Minos rangendo os dentes e verá a organizando e distribuição dos danados nas diversas camadas do inferno.

Minos não pode atrapalhar a jornada de Dante que estava sob proteção de Virgílio e por ordem Daquele “quem tudo pode”.

Dante passa por 9 círculos, sendo que os últimos são os mais carregados de dor e sofrimento, conforme resumido adiante.

O “Vestíbulo do Inferno” ou “Ante-Inferno” é onde estão os mortos que não podem ir para o céu nem para o inferno. Eis o purgatório.

O céu e inferno são estados onde uma escolha é permanentemente recompensada (de forma positiva ou negativa), deve também existir um estado onde a negação da escolha seja recompensada, uma vez que recusar a escolha é escolher a indecisão.

O vestíbulo é a morada dos indecisos e dos covardes.

As almas neste departamento correm de um lado para outro carregando um bastão sem símbolo, reflexo da incredulidade que passaram pela vida.

Adiante, um resumo detalhado da visão de Dante, que com ajuda do maior historiador da antiguidade, Virgínio, e sob a proteção de Jesus, visitará as zonas infernais, o purgatório e o céu em sua Divina Comédia.

Eis uma obra memorável do cristianismo congrega a mitologia grega, pois os seres monstruosos como medusa, minotauro, harpias, centauros, Jasão, Minos, alguns heróis como Ulisses e outros estão condenados no inferno. 

Primeiro Círculo: o Limbo (Pagãos Virtuosos e Infames)

Não se tem uma noção precisa de como se chega aqui, pois Dante desmaia no vestíbulo do inferno e quando acorda já está no Limbo, de onde se ouve os gritos dos pecadores.

No Limbo estão aqueles que morreram antes da chegada de Jesus ao mundo, os pagãos virtuosos, e os não-batizados, principalmente crianças.

As almas são fadadas a vagar sem destino na mais completa escuridão – onde não é possível enxergar nada, segundo Dante – este círculo abrange a mente que nunca foi iluminada pela mensagem do Evangelho. 

Ao contrário dos outros círculos do Inferno, no Limbo as almas não gritam de dor; aqui só podem ser suspiros. Aqui Dante encontra Horácio, Homero, Ovídio e Lucano, estando Virgílio neste círculo.

Dante pergunta se alguém do Limbo já foi resgatado para o céu e Virgílio diz que Deus já levou dali a alma de Adão, de Abel, de Noé, de Abraão, de David, de Jacó, de Isaac e seus filhos, de Raquel e muitas outras almas, e que, antes disso, nenhum espírito havia se salvado.

As almas que creem no retorno de Jesus Cristo podem ser resgatadas do Limbo.

No limbo está situado o Castelo da Ciência Humana, com Sete Muralhas: O Trivium (Lógica, Gramática e Retórica) e o Quadrivium (Aritmética, Astronomia, Geometria e Música), ao redor do castelo está o Rio Eloqüência.

Nestes castelos virtuosos: Electra, Heitor, Eneias, César, Camila, Pentesileia, Latino e sua filha Lavínia. Também estão Bruto e Saladino, os filósofos gregos Platão e Sócrates, perto deles está Demócrito, Diógenes de Sínope, Anaxágoras, Tales, Empédocles, Heráclito e Zenão, Dioscórides, Orfeu, Túlio, Lino, Sêneca, o geômetra Euclides, Ptolomeu, Hipócrates, Avicena, Galeno e Averróis.

Os infames e aqueles que viveram sem louvar o divino e sem escolher entre o bem e o mal aqui lamentam, seguindo uma bandeira sem símbolo, são atormentados por ferozes moscas e vespas que os picam continuamente em um terreno cheio de vermes.

Segundo Círculo: Vale dos Ventos (Luxúria)

Os castigos só começam no segundo círculo, na qual um “vento negro” carrega a alma de todos aqueles que o amor enlouqueceu.

Neste círculo Dante encontrou os papas que fizeram da religião objeto de comércio para fins de enriquecimento familiar.

Nos círculos seguintes os glutões, os avarentos e os coléricos sofrem tormentos variados.

Terceiro Círculo: Lago de Lama (Gula)

Aqui estão os Gulosos. Atolados numa lama suja e espessa e atormentados por uma tempestade fortíssima de granizo, gelo, neve e torrões de água suja caem sem parar.

Segundo Dante, gulosos jazem imersos nos próprios vômitos. Cérbero, o cão de três cabeças, com apetite insaciável, arranha, esfola, esmaga, dilacera e esquarteja os espíritos dos gulosos.

O prazer solitário da gula é ampliado no inferno, onde estes estão solitários na lama, sem falar com seus vizinhos. Em vida o prazer e o conforto de comer alegremente além dos limites é o desconforto de uma dolorosa chuva gelada.

Cérbero representa a gula, o apetite sem limites. 

Quarto Círculo:  Colinas de Rocha (Ganância, Avareza)

Aqui estão os Pródigos e Avarentos. Neste círculo repleto de montanhas, riquezas materiais se transformaram em grandes pesos de barras e moedas de ouro que um grupo deve empurrar contra o outro enquanto trocam injúrias, pois suas atitudes em relação à riqueza foram opostas.

Aqui habitam Plutão e Fortuna, que na mitologia grega, são deuses da riqueza. 

Quinto Círculo: Rio Estige (Ira)

Na entrada para este círculo está uma cachoeira de água e sangue borbulhante e fervente cuja água era mais escura que roxa. A água desce algumas praias e forma um lago que se chama Estige, onde estão amontoados os acusados de ira, que estão juntos batendo-se e torturando-se numa raiva sem fim.

No fundo do Estige estão os rancorosos que nunca demonstraram sua ira; eles não podem subir à superfície e ficam na lama do fundo do rio.

Sexto Círculo: (Heresia)

Os hereges do sexto círculo urram sem parar em suas tumbas em chamas. Os hereges recebem o fogo como punição. 

Sétimo círculo: Vale do Flegetonte (Violência)

No fim do sexto círculo há um alto precipício circular (de onde vem um terrível cheiro) que leva ao sétimo círculo, onde estão os violentos, sequestradores e assassinos que são condenados a ferver no rio de sangue, e se distribuem por três vales (ou giros).

Primeiro Vale – Vale do rio Flegetonte (violência contra o próximo):

O rio Flegetonte é um rio de sangue fervente. Na sua margem estão algumas ruínas e o Minotauro de Creta, ainda na margem do rio, um pouco mais à frente, correm as filas de centauros, dentre eles destacam-se Quíron, Nesso e Fólo, os centauros estão armados com flechas.

Os violentos contra pessoas e seus bens, estão no rio de sangue daqueles que mergulhados oprimiram, quanto mais grave o crime, maior a parte imersa.

Os tiranos mantem acima da superfície somente as sobrancelhas, eles atentaram contra a vida e contra os bens de suas vítimas.

Os assaltantes dentro do rio têm apenas o peito de fora, eles são punidos por terem praticado violência contra os bens de suas vítimas.

Os homicidas só mantêm de fora a cabeça.

Segundo Vale – Vale da Floresta dos Suicidas

Esta seção é para aqueles que praticam violência contra si mesmos: Os violentos contra si mesmos (suicidas) são transformados em árvores sombrias e retorcidas; por todo lado ouvem-se gritos lamentosos.

Quando os pecadores chegam na selva, são transformadas em sementes, crescendo até tornarem-se árvores silvestres. A folhagem não era verde, mas escura, os ramos não eram lisos, mas nodosos e torcidos, não frutos, mas espinhos venenosos.

É onde estão os ninhos das Harpias citadas na Eneida, que se alimentam das suas folhas, causando dor nas árvores.

Aqui também estão os esbanjadores (violentos contra os próprios bens) que são eternamente perseguidos por cadelas famintas que representam a pobreza.

Terceiro Vale – Vale do Deserto Abominável (violência contra Deus):

Os violentos contra Deus são condenados a jazer num deserto de areia quente onde chovem chamas de fogo, o areal. É o oposto do mundo criado por Deus. Eles vivem em um mundo sem cor, sem conforto e sem esperança, em vida estas almas rejeitaram tudo o que Deus Ihes oferecera, preferiram dar maior valor às coisas materiais. Aqui chove chamas como chove neve nos Alpes.

Existem quatro tipos de violentos contra Deus: Blasfemadores, os violentos contra a Palavra de Deus, que jazem deitados no chão, em maior sofrimento. Intelectuais, os violentos contra o Espírito de Deus, que ficam espremidos uns sobre os outros.

Sodomitas, os violentos contra a Natureza de Deus, são condenados a correr pelo deserto, sem rumo, e se pararem, são condenados a ficar no mesmo lugar por mil anos.

Os Usurários, os violentos contra a Sabedoria de Deus, que jazem sentados nas chamas. Há cachoeiras de Sangue: Aqui brota o rio Flegetonte, cujas águas passam pelo Inferno.

A passagem para o próximo círculo, está no fundo do vale, sendo feita de pedra.

Também no fundo está a cachoeira contida pelo dique do Flegetonte, o vapor condensa-se por cima, salvando do fogo a água e as margens. Há uma multidão de almas que está ao longo do dique.

Dante e Virgílio montam no gigante Gerião para atravessar o rio de sangue e ir para o oitavo círculo.

Resumindo, o sétimo círculo é a morada de indivíduos violentos, sequestradores e assassinos que são condenados a ferver em um lago de sangue. 

Os suicidas habitam uma floresta lúgubre, onde as árvores choram e seus ganhos são destruídos continuamente por harpias. Mais adiante estão os blasfemadores, espalhados por um deserto de areia onde recebem uma perpetua chuva de chamas.

Oitavo círculo, o Malebolge (Fraude)

Este círculo chama-se Malebolge, é todo em pedra e da cor do ferro, assim como a muralha. Aqui estão os fraudulentos, enganadores, ladrões, puxa sacos que apanham de demônios chifrudos, são picados por cobras, enterrados de cabeça para baixo e fervem na lama.

Este círculo está dividido em dez bolgias (fossos). Os principais estão resumidos abaixo:

1º Fosso: Os rufiões e os sedutores que são açoitados pelos demônios.

2º Fosso: Os aduladores e lisonjeiros que estão submergidos nas próprias fezes, esterco e lixo que deixaram no mundo.

3º Fosso: Os simoníacos (traficantes de artefatos sagrados) e assassinos de aluguel, são enterrados de cabeça para baixo.

4º Fosso: Os adivinhos têm a cabeça torcida, voltada para as costas, de forma que não conseguem olhar para a frente. Aqui está Tirésias, Manto, Euripilo, Miguel Scotto e Guido Bonatti. 

5º Fosso: Os corruptos estão submergidos em um lago de espesso piche fervente. Os que tentam ficar com a cabeça acima do caldo são torturados por demônios, que os dilaceram.

Em vida, os corruptos tiraram proveito da confiança que a sociedade depositava neles; no inferno estão submersos em caldos, escondidos, pois suas negociações eram feitas às escondidas.

Os demônios e o significado literal dos nomes que habitam o quinto fosso são: Malacoda (malvada cauda); Calcabrina (pisa neve); Alichino (asa baixa); Cagnazzo (focinho de cão); Barbariccia (barba crespa); Libicocco (libiano); Draghignazzo (dragão feio); Graffiacane (esfola-cães); Ciriatto (porcalhão); Farfarello (duende); Rubicante (vermelhaço) e Scarmiglione (cabelo bagunçado).

A ponte que liga o quinto fosso ao sexto, conforme Malacoda explicou a Virgílio, desmoronou há 1266 anos (a contar da época em que o poema se passa), quando Jesus morreu.

Os demônios começam a perseguir Dante e Virgílio, responsabilizando-os por uma briga, mas eles conseguem escapar antes de serem pegos indo para o sexto fosso, para onde os demônios não puderam acompanhá-los, pois não podem sair do quinto fosso.

6º Fosso: Os hipócritas estão vestidos com roupas brilhantes, atraentes, porém pesadas como o chumbo. Este é o peso que não sentiram na consciência ao fazerem maldades. No inferno, sentem o peso de seu falso brilho.

Dante e Virgílio tem de escalar uma ruína que vai para o sétimo fosso. Nesse fosso esta Caifás, o sacerdote que condenou Jesus, que fica crucificado no chão, sendo pisoteado pelos outros condenados, sofrendo as mesmas dores que Cristo sofreu.

7º Fosso: Os ladrões têm seus corpos roubados constantemente por serpentes e outros répteis monstruosos que os desintegram, roubando seus traços humanos.

E a punição por terem se apoderado do que não era deles, sendo que as serpentes se apoderaram de suas próprias identidades.

8º  Fosso: Maus Conselheiros – Os maus conselheiros estão envoltos por chamas, oceanos de lava e uma tempestade de raios contínua. Em vida eles induziram outros a praticar a fraude.

“O fogo que os atormenta também oculta os conselheiros da fraude, pois o pecado deles foi cometido escondido. Aqui está Ulisses e Diomedes.”

9º Fosso: Os semeadores de discórdias são esfaqueados pela espada de um demônio, que os pune e causa mutilações em partes do corpo representativas do tipo de discórdia que provocaram.

Eles estão com as entranhas para fora, aparecendo seus estômagos; alguns têm a cabeça cortada; outros braços e pernas.

Existem três tipos de semeadores de discórdias: Criadores de cismas religiosos, instigadores de conflitos sociais e semeadores de desunião familiar.

10º Fosso: Falsificadores. Pecadores que cometeram qualquer tipo de falsificação, jazem cobertos por pestilência e por doença.

Aqui estão aqueles que falsificam remédios e comida e os que constroem prédios e casas com materiais de baixa qualidade.

Aqui são seus corpos que se tornam falsos, ao apodrecerem, cobertos por enfermidades, que, segundo Dante, exalam um fedor insuportável.

Existem 4 tipos de falsificadores, sendo eles:

Alquimistas, que são inchados pela hidropsia

Simuladores, que são atacados pela lepra e pela sarna

Falsos, que são transformados em loucos

Mentirosos, atacados por uma febre ardentíssima e pela sede eterna.

Em resumo: O oitavo círculo, o dos pérfidos, é o mais variado e em seus fossos nauseabundos estão confinados os sedutores, os prevaricadores, os bajuladores, os prevaricadores, os magos e os alquimistas.

Nono Círculo: o dos Traidores

Gigantes obstruem a passagem do oitavo círculo, pois estão acorrentados em poços congelados, eis a punição por em vida terem se revoltado contra Júpiter.

Os gigantes são: Nemrode, Efialtes, Briareu, Encélado, Egeon e Anteu. Anteu ajuda Dante e Virgílio a irem para o próximo círculo, carregando-os nas mãos e colocando-os lá.

O Nono Círculo é o lago Cocite, que está congelado, o lago das lamentações que fica no centro da Terra e é formado pelas lágrimas dos condenados e pelos rios do inferno que nele deságuam seu sangue.

No Cocite estão imersos os traidores, representados por Lúcifer, o traidor de Deus, que aqui reside.

Os traidores distribuem-se em 4 Esferas diferentes, dependendo da gravidade da traição cometida.

As Esferas chamam-se: Caína, Antenora, Ptolomeia e Judeca. 

Esfera da Caína: É onde são punidos os traidores de seus parentes. Aqui as almas permanecem submersas com apenas o tórax e cabeça fora do gelo. Seu nome tem origem no personagem bíblico Caim que matou seu irmão Abel por causa de inveja.

Esfera da Antenora: Aqui são punidos os traidores de sua pátria ou partido político. As almas ficam submersas no nível do pescoço, com apenas suas cabeças fora do gelo.

O nome foi tirado de Antenor, o príncipe troiano que traiu o seu país ao manter uma correspondência secreta com os gregos.

Antenora e Ptolómeia são descritas no Canto 32 e 33.

Esfera da Ptoloméia ou Toloméia: Aqui são punidos os traidores de seus hóspedes. As almas estão presas no gelo do lago apenas com o rosto para fora de forma que suas lágrimas congelam e cobrem os seus olhos.

O personagem bíblico Ptolomeu, onde o capitão de Jericó convida Simão e seus dois filhos ao seu castelo e lá, traiçoeiramente, os mata a sangue-frio: “pois quando Simão e seus filhos haviam bebido bastante, Ptolomeu e seus homens se levantaram, e sacaram de suas armas, e chegaram até Simão e seus filhos e os mataram.” 

Esfera da Judeca: Aqui estão aqueles que, em vida, traíram seus mestres e reis. Eles sofrem intensamente por estarem submersos totalmente no gelo do Cócito, conscientes, para a eternidade.

Segundo Dante, alguns estão decapitados, outros encolhidos e outros de cabeça para baixo.

Aqui reside Lúcifer, também preso no gelo até o meio do peito, peludo, com enormes asas que possuem membranas. Ele tem três cabeças e com cada uma delas, morde os três maiores traidores da história: Judas, Brutus e Cassius, ambos traidores de César e do Império.  

A saída de Dante e Virgílio se dá de uma forma toda inesperada que vale a leitura das páginas deste clássico escrito em italiano.

Eis um resumo bastante grosseiro da pior parte do livro, o inferno, deleite-se com a forma com que Dante e Virgílio saem do inferno e como galgam as esferas superiores do purgatório, até chegarem ao céu!

O Paraíso

Para despertar o interesse pela leitura da obra completa, não passarei pelo Purgatório e certamente omiti passagens relevantes tanto do inferno quanto do Paraíso. 

O Primeiro Céu do Paraíso: A Lua

O sol brilhava alto. E no sol (como se tivesse olhos de águia), Beatriz, a mulher que Dante teve um grande amor platônico e que organizou a jornada deste, fixou intensamente o olhar. Dante a imitou, conseguindo, sem dificuldade ou dor, suportar aquele fulgor que, de repente, pareceu tornar-se maior e mais resplandecente.

O poeta sentiu que, no seu íntimo, algo estava acontecendo. Ele não conseguia mais entender se ainda possuía corpo ou se havia se tornado puro espírito. Então, voltou-se para Beatriz que, sorrindo, disse: Estamos agora no céu: no primeiro dos nove céus do Paraíso, o da Lua.

Não se espante por estar aqui: já purificado pelos seus erros, você tende a ir naturalmente em direção ao alto, em direção a Deus, assim como a água de um riacho tende a ir naturalmente para baixo. Avançando num clarão difuso, com um ar dócil e muito suave, Dante viu diante de si alguns vultos que o olhavam. Pareciam-lhe refletidos por vidros reluzentes ou por águas claras e límpidas. Então ele se virou, mas não havia ninguém às suas costas. Beatriz disse:

O que você vê são almas. Fale com elas, se quiser. Dante se dirigiu ao espírito que lhe tinha parecido mais desejoso de falar:

Ó você, que desfruta a doçura da vida eterna, fale-me de seu íntimo e de seu destino. – Sei que você não pode reconhecer-me – falou, com doçura, o espírito porque a graça divina me transformou.

Sou Picarda, irmã de Corso e de Forese Donati. Tornei-me freira, mas precisei abandonar o convento, porque Corso quis casar-me com um amigo dele. Morri pouco depois. Estou aqui, neste céu, junto com outras almas que, como eu, não conseguiram manter-se fiéis aos votos que tinham feito, não porque por culpa delas. Você vê?

Aquela é a nobre Constância. Também ela foi tirada à força do convento.

Picarda este céu da Lua é aquele do Paraíso, o mais distante de Deus.

Não queriam, você e suas companheiras, estar mais no alto e mais perto dele? Com um sorriso, Picarda respondeu:

A nossa paz está na Sua vontade. Em todos os céus existe alegria igual, e assim Deus decidiu.

E ela se foi dali, cantando suavemente a “ave-maria”.

Depois de seguir com o olhar a evanescente figura da bem-aventurada que se distanciava, Dante voltou-se para Beatriz. Mas ela resplandecia de tal forma, que ele foi obrigado a abaixar os olhos.

Um instante, um vôo fulmíneo, e os dois foram para o segundo céu do Paraíso, o de Mercúrio.

O Segundo Céu do Paraíso: Mercúrio

Havia mais luz naquele lugar e mais alegria. Uma densíssima fileira de espíritos leves e silenciosos aproximava-se de Dante. Um deles disse:

O você, que antes de estar morto pode ver o triunfo da Justiça, fale-nos, se crê nele. Ao que o poeta respondeu prontamente: Diga-me, ó espírito gentil, quem é você e por que está aqui? Cintilando com uma luz mais intensa, ele ainda retomou: – Fui imperador, e o meu nome é Justiniano.

O meu trono era em Constantinopla, a cidade do grande império. Não me ocupei de guerras, e as deixei aos meus generais. Ao invés disso, meditei e prescrevi aquelas leis que tinham tornado Roma grande e gloriosa.

Nesse recanto do Paraíso, céu de Mercúrio, estão reunidos aqueles que, como eu, em vida trabalharam para realizar obras que durassem séculos. O rosto de Beatriz novamente resplandeceu e tornou-se ainda mais belo. Então, Dante percebeu ter subido ao céu sucessivo, o de Vênus.

O Terceiro Céu: Vênus

E, nesse lugar, ele encontrou-se rodeado por espíritos dançantes, que cantavam: Hosana!

Quem são vocês? perguntou Dante, como de costume. Um espírito lhe respondeu: Resplandeço tanto, que você não pode reconhecer-me, Dante. Todavia, em Florença, fomos amigos. Sou Carlos Martello, filho do rei Carlos II de Anjou, e fui, por breve tempo, rei da Hungria. Dante lembrava-se do seu nobre e jovem amigo. Exclamou: 

Carlos! Você, que teve vida tão curta!… – Sim. Talvez, se eu tivesse vivido e tomado a Coroa de Sicília e de Nápoles no lugar de meu irmão Roberto, não teria havido, lá embaixo, a terrível Guerra das Vésperas. Roberto foi cruel – continuou Carlos Martello – eu fui apaixonado.

Neste céu, veja, moram os espíritos daqueles que muito amaram, mas com pureza. Eu e meu irmão éramos diferentes, porque diferentes nos fizeram a virtude dos céus e a influência celeste, que não consideram se dois homens são ou não irmãos. Se no mundo cada um pudesse seguir sua própria aptidão, tudo estaria em harmonia.

Ao invés disso, freqüentemente, um homem que queria viver como religioso é coroado rei, e torna-se frade quem queria viver como soldado. Então, aproximaram-se outros espíritos bem-aventurados: o de Cunizza de Romano, que foi mulher de muitos amores e de muitas virtudes, esposa de Sordello, mantuano, que Dante e Virgílio tinham encontrado no Purgatório.

Depois, veio Folco da Marsiglia, um poeta provençal que, apaixonado por uma princesa, tornou-se frade quando ela morreu. Do céu de Vênus, Dante e Beatriz passaram, em seguida, para o céu do Sol.

O Quarto Céu: O Céu do Sol

Estavam nesse lugar, reunidas, em bem-aventurança, as almas dos filósofos, dos estudiosos, que viveram indagando sobre a Verdade, procurando conhecer bem o mistério de Deus.

Totalizando doze pessoas, eles logo vieram para rodear Dante e Beatriz.

Depois que, resplandecentes como outros tantos Sóis, tinham girado três vezes ao redor deles, pararam. Um deles disse: – Formamos quase uma guirlanda. Você perguntará de quais flores ela é composta. Então, saiba sou Tomás de Aquino.

São Tomás de Aquino, o grande filósofo – exclamou Dante, respeitoso. – E este é santo Alberto Magno. E aquele é Graciano da Chiusi. Também eles, filósofos. E aquele Boezio, morto pelo rei Teodorico.

Depois, ele mostrou outros bem-aventurados e retomou: – Deus quis que a sua Igreja tivesse como guias dois príncipes: um ardente de amor e o outro, de sabedoria angelical.

Falarei do primeiro. Ele nasceu em Assis, era filho de um mercador. Mas, diversamente dos mercadores, não procurou a riqueza. Ao invés disso, entregou-se à pobreza, dela fez a sua esposa, encontrando logo amigos dispostos a segui-lo. O seu nome é Francisco e seus seguidores chamaram-se franciscanos.

Por desejo de oferecer-se como mártir, Francisco foi pregar Cristo diante do sultão do Egito. Mas voltou são e salvo para a Itália e estabeleceu-se sobre as montanhas entre Tibre e Arno, no convento de Alvérnia. Nesse lugar, recebeu de Cristo os sagrados estigmas, isto é, chagas semelhantes àquelas que feriram Jesus nas mãos, nos pés e no flanco, que o levaram à morte.

Quando esta chegou, Francisco a chamou “irmã”, e não quis outro féretro senão o da nua pobreza.

Quanto ao outro príncipe – concluiu são Tomás –, ele foi são Domingos, mas dele falar-lhe-á um dos nossos.

Quando são Tomás parou de falar, a guirlanda dos sábios recomeçou a girar ao redor de Dante e de Beatriz. E a ela uniu-se outra, formada também por doze espíritos. Um deles explicou: – O príncipe da sabedoria angelical, que Deus deu à sua Igreja como guia, nasceu às margens do oceano, na Espanha, na afortunada cidade de Caleruega.

Enquanto o esperava, carregando-o no útero, sua mãe previu que ele seria consagrado ao Senhor. Quando nasceu, ela o chamou Domingos (que, justamente, significa “do senhor”).

Em pouco tempo, ele tornou-se sábio como os grandes mestres. Depois, combateu com força e inteligência os hereges, inimigos da fé. Eu que lhe falo, fui, em vida, um frade franciscano, Boaventura de Bagnoregio.

Você foi um grande estudioso, cardeal, santo – murmurou Dante. São Boaventura retomou, ilustrando os espíritos bem-aventurados que estavam com ele, também eles grandes filósofos cristãos. À luz das bem-aventuradas guirlandas, de repente, acrescentou-se outra. Dante sentiu-se transportar no alto, para cima, até o céu de Marte.

Ele foi atravessado por dois raios brilhantes, que formavam uma grande cruz em forma de xis, na qual, pouco a pouco, aparecia brilhando a imagem de Cristo. Ao redor, brilhavam infinidades de luzes, numa maravilhosa poeira reluzente. De repente, uma estrela desceu até os pés de um dos braços da cruz e disse:

O sangue meu, a quem nunca, como a você, foram abertas duas vezes as portas do céu! Dante sentiu que aquelas palavras eram dirigidas a ele. Ainda vivo, de fato, ele estava visitando aqueles reinos celestes que reveria depois da morte. Admirado, Dante olhou Beatriz. Ela sorriu, inspirando-lhe confiança e fé. Entretanto, a voz que vinha da estrela retomou:

Ó meu descendente, eu esperava a sua chegada, porque a tinha lido no grande livro do juízo de Deus, em que aquilo que está escrito não pode ser mudado. Fale-me de você!

Luz brilhante, que me acolhe com tanto afeto, qual é o seu nome?

Eu fui – respondeu a voz – a tua raiz. Sou o teu trisavô. Meu filho foi o primeiro dos Alighieri. Nasci em Florença, sendo chamado Cacciaguida. Soldado, segui o imperador Corrado III na cruzada pela salvação do sepulcro de Cristo e morri combatendo contra os muçulmanos, em defesa da fé. Pelo martírio, cheguei a esta paz.

Dante murmurou, comovido: – Portanto, o senhor é meu antepassado! Meu antepassado! Como me inspira coragem, deixa-me orgulhoso! Conta-me sua vida, na Florença daquela época… Cacciaguida, então, começou a falar da antiga Florença, exaltando dela as virtudes. Em certo ponto, apanhado por uma dúvida e pela curiosidade, Dante o interrompeu: -Ó pai – disse ele -, enquanto eu atravessava o Inferno, alguém fez tristes previsões sobre o meu futuro. Não tenho medo, mas diga-me algo mais, de modo que eu possa preparar-me para aquilo que me acontecerá.

Dante – respondeu Cacciaguida – as lutas que se desenvolvem em Florença também o envolverão e atingirão. Você terá de deixar tudo aquilo que ama, será exilado, saberá quanto é amargo subir e descer escadas alheias e viver da caridade de outros. – Vejo que a desventura recairá sobre mim – murmurou Dante, pensativo. – Mas resistirei, irei me armar de força e de coragem. Agora, diga-me: no Inferno vi muitas pessoas e ouvi muitos comentários. O que devo fazer? Contar tudo ou calar-me? Se falar, acabarei por desagradar a muitos e farei muitos inimigos.

A luz de Cacciaguida brilhou mais intensamente: – Aquilo que você dirá descontentará somente a quem errou. Fale, Dante, fale firme, e deixe mesmo que se coce quem tem sarna. Mas veja: o vento atinge apenas as árvores mais altas. Além disso, sua fama viverá por suas obras, e essa será a sua recompensa. Agora, conforme-se-interveio Beatriz. Não pense mais em tristezas. Lembre-se de que estamos próximos à glória de Deus. E o próprio Cacciaguida, como querendo distrair Dante, retomou: – Aqui há aqueles que combateram pelo triunfo da fé: Carlos Magno e seu paladino, Orlando, os grandes reis e chefes que guiaram as cruzadas e as guerras contra os sarracenos… E a cada nome que Cacciaguida mencionava, uma luz resplandecia nos braços da cruz.

Dante, extasiado com essas luzes, encontrou-se no céu superior, o de Júpiter. Nesse lugar, outros esplendores, outros brilhos e infinidades de luzes, rodando, aproximando-se e unindo-se, formaram as seguintes palavras: Diligite justitiam qui iudicatis Terram, isto é, “Amem a justiça, vocês que são os juízes da Terra”.

E eis que, o eme da última palavra latina lentamente se transfigurou, reassumindo em si cada luz e transformando-se em águia augusta, símbolo do Império Romano.

Beatriz, entretanto, ao contrário do que de costume, ela demonstrava uma expressão séria e sem sorrir. Adivinhando o espanto dele, disse ela: – Você observa esse silêncio? De fato, havia um grande silêncio e não ressoavam mais cantos paradisíacos. – Se agora eu sorrisse – explicou Beatriz –, você não poderia suportar o meu rosto e transformar-se-ia em cinzas. De fato, subimos a outro céu, o sétimo, o de Saturno.

O Sétimo Céu – O Céu de Saturno

Olhe! Por ter sido justo e piedoso – disse, abrindo as grandes asas – sou agora exaltado nessa glória celestial. E parecia que naquela só voz falavam todos os espíritos do céu.

Dante, com o pensamento voltado para Virgílio, disse: Ó espíritos bem-aventurados, peço que vocês que sabem tudo e que lêem no meu coração as minhas dúvidas, esclareçam-nas.

E por estar certo de que a águia, símbolo da justiça, já conhecia suas dúvidas, não falou sobre elas. A encantada águia manifestou-se:  Você pensa que outros homens foram justos e piedosos, mas que não entraram no Paraíso por não serem batizados.

Então, saiba, antes de tudo, que não é possível, para quem tem a vista limitada a um palmo, ver mil milhas distantes: assim os homens não podem questionar a vontade de Deus.

Entretanto, saiba também que no dia do Juízo Deus dividirá os homens em duas fileiras: a dos bons e a dos maus. Mas, agora, encare-me com atenção.

Você verá briIhar no meu olho os espíritos dos grandes justos que viveram na Terra. Naquele esplendor, Dante viu Davi, Tarjano, Constantino, outros reis e imperadores e homens que tiveram como ideal supremo a justiça.

Então, Dante viu uma imensa escada que subia em direção ao céu. Era tão alta que não se via o seu fim. Dela, desciam, subiam, paravam espíritos iluminados. Um deles se aproximou de Dante e resplandeceu com uma luz mais intensa, despertando a sua curiosidade. Pergunte o quanto você desejar – murmurou Beatriz. Dante voltou-se para aquele espírito e disse: Sei não ser digno de resposta, mas, se você quiser, diga-me por que aqui há tanto silêncio.

Aqui não se canta pelo mesmo motivo pelo qual Beatriz não sorri. Da mesma maneira que você não poderia suportar a beleza do seu rosto, assim não poderia suportar a nossa melodia.

E você, quem é! – perguntou Dante.

Fui na Terra um eremita e vivi em uma montanha na Umbria. O meu nome era Pedro Damiano, mas quis que me chamassem Pedro, o Pecador. Ao ser nomeado cardeal, estava muito idoso e magro por causa dos jejuns! Veja, hoje tudo mudou na Terra.

Os cardeais são gordos bem nutridos, vestem longos mantos que cobrem também seus cavalos, de modo que, debaixo de um só manto, existem dois animais! Ah, paciência divina! As luzes tinham se reunido ao pé da escada. Por ela levantou-se uma voz alta e poderosa, mais do que qualquer trovão. Dante assustou-se. Logo Beatriz tranqüilizou-o: Não tema, Você está no Paraíso, onde o mal não existe. Fale se quiser, com esses espíritos.

E ele viu, lá em cima, um fulgor claríssimo, no centro do qual havia um sol brilhante: Cristo. Ficou confuso com isso, assim como com a melodia que soava muito doce, depois do silêncio de antes. Com um sorriso encantador, que a tornou mais bela do que se possa dizer, Beatriz murmurou: Agora você está apto a sustentar o meu sorriso e os cantos divinos.

Mas não perca tempo com o meu rosto. Ao invés disso, olhe o jardim do céu e nele você verá a Rosa Mística. Então, Beatriz invocou uma luz, que avançou resplandecente e girou três vezes ao redor dela. Com voz angelical, disse: – Doce irmã, respondo à sua prece.

Viu também a alma de são Pedro, que, voltando-se para Dante, interrogou-o por muito tempo sobre a Fé. Depois dele, veio São Tiago, que interrogou Dante sobre a Esperança, também ele agradando-se com as respostas. Finalmente, veio adiante outra luz: a alma de São João. E já que Dante acreditava (como todos os do seu tempo) que ele tivesse subido ao céu também com o corpo, olhou-o intensamente. Disse a santa luz:

Por que você se deslumbra procurando aquilo que não existe? O meu corpo ficou na Terra, onde permanecerá até o momento certo.

Fez então a Dante diversas perguntas sobre a Caridade.

Terminada a conversação, todos os bem-aventurados entoaram:

Santo, Santo, Santo!

E uma quarta lua aproximou-se brilhante.

Nesta luz explicou Beatriz – viveu na Terra o  espírito do primeiro homem: aquele era Adão! Ó homem criado já adulto disse então o poeta – você sabe o que eu gostaria de perguntar.

Responda-me, se quiser. E Adão: saber quando Deus me colocou no Paraíso Terrestre.

Já se passaram seis mil quatrocentos e noventa e oito anos (6498).

Quer saber quanto fiquei ali: poucas horas.

Quer saber por que fui expulso: não porque comi a maçã, mas porque, com aquele ato, pequei por soberba e desobedeci às ordens de Deus.

Naquele momento, todo o Paraíso, reunido, pôs-se a cantar: – Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo!

E Dante esteve a ponto de perder os sentidos, abatido pela grandiosidade do hino e pela doçura do momento. Então, todas aquelas luzes, como se fossem uma neve maravilhosa, na qual os flocos, ao invés de caírem no chão, subissem mas não antes de ter notado como, ao redor daquele ponto, nove luzes giravam, formando outros inúmeros círculos.  

O primeiro dos círculos que você viu – explicou Beatriz – é o dos Serafins; giram ao redor de Deus, luz dos amores eternos. Seguem, então, o dos Querubins, o dos Tronos, o das Dominações, o das Virtudes e o do Poder. Os outros são os círculos dos Principados, dos Arcanjos e dos Anjos. Nós, Dante – tornando-se sempre mais bela – deixamos o Primeiro Móbile e estamos numa luz pura, e embaixo, os céus, os planetas e a Terra, sempre menores e cada vez mais distantes. De tal modo, na glória celeste, contemplando o rosto maravilhoso de Beatriz, ele subiu ao Céu Cristalino, o Primeiro Móbile, o qual, estando fora do espaço, colocava em movimento todos os demais. Agora, você verá o Exército do Paraíso, os anjos e os bem-aventurados. Logo, a Dante pareceu ser tocado por um grande feixe de luz, que lhe passava ao lado.  

Tinham se aproximado o espírito de Bento e os de muitos dos seus seguidores, e de outros homens que tinham passado a vida em meditação, oração e penitência.

Conversaram com Dante que, junto com eles, começou a subir sempre mais alto, impulsionado por uma forca maravilhosa. Em um instante, como se voasse, ele encontrou-se no oitavo céu, o Céu Estrelado, na Constelação de Gêmeos. Você chegou ao Empíreo – disse Beatriz próximo à extrema beatitude, isto é, a Deus.

Mantenha os olhos bem abertos. Mas, antes de voltá-los para o alto, olhe para baixo e verá como está acima do mundo.

Dante viu debaixo de si os sete céus pelos quais tinha subido: de Saturno, Júpiter, Marte, do Sol, de Vênus, Mercúrio e da Lua; e, no fundo, muito embaixo, a Terra, pequena como um minúsculo canteiro, aquela que faz tão ferozes os homens que a habitam!

Eis as fileiras do triunfo de Cristo! exclamou, de repente, Beatriz, olhando para o alto.

Desse maravilhoso feixe saíram surpreendentes faíscas, que subiam às flores e das flores voltavam ao rio. As flores eram os bem-aventurados e as faíscas, os anjos. Todas essas luzes tomaram a forma de uma rosa cândida e grande, inimagináveis. Beatriz retomou: – Olhe quantas são, aquelas branquíssimas almas! E veja como as pétalas da rosa são formadas pelos tronos que os bem-aventurados ocupam. Há livres somente alguns deles, você vê? Aquele lá em cima – e acenou – está destinado ao imperador Arrigo VII, que você ama, e que procurará restituir a ordem à Itália.

A milícia de Cristo, isto é, o conjunto dos bem-aventurados, apresentou-se a Dante em forma de uma cândida rosa. Sobre ela voava continuamente a densa fileira dos anjos. O poeta, confuso e perturbado, olhava aqui e ali, para contemplar simultaneamente o conjunto do Paraíso e o rosto iluminado dos bem-aventurados. De repente, virou-se para Beatriz para pedir alguma explicação… mas Beatriz não estava mais…. No seu lugar havia um idoso venerando, com o rosto repleto de alegria. Dante perguntou-lhe admirado: Onde está Beatriz? O idoso, com um sorriso, respondeu: – Beatriz me pediu para vir aqui e estar ao seu lado, para que você possa completar finalmente a sua viagem, vendo a glória celestial. Quer ver Beatriz? Levante os olhos e poderá vê-la no lugar que lhe pertence – concluiu. Sem responder, Dante viu Beatriz entre os bem-aventurados da cândida rosa. Uma auréola iluminada a coroava. O poeta murmurou: – Mulher que me deu novamente a esperança, eu lhe serei agradecido para sempre pelo que fez. Conserve em mim a salvação que me transmitiu, e faça com que eu a guarde até a morte.  

Beatriz ouviu a invocação de Dante e lhe sorriu docemente. O velho recomeçou a falar: – Olhe para o círculo mais alto e você verá a Senhora deste reino, Maria. Assim, poderá preparar-se para olhar ainda mais alto, para Deus. Maria irá lhe conceder essa graça, ou lhe pedirei. Sou, de fato, o seu fiel Bernardo.

Aquele idoso era são Bernardo de Claraval – Você vê? – retomou logo depois. – Maria senta entre os Santos. Aproxima-se o momento no qual você levantará o olhar pare Deus. Rogarei a ela para lhe conceder a graça de vê-lo. Reze comigo. E começou a dizer, respeitosamente: Virgem mãe, filha do seu filho, você que é, ao mesmo tempo, a mais humilde e a mais sublime das criaturas, esperança dos homens que não podem salvar-se sem a sua ajuda; você, que é sempre misericordiosa, escute este homem que lhe suplica poder levantar os olhos à Grande Luz. Comigo lhe rogam também Beatriz e todos os bem-aventurados do Paraíso.

Maria, que até aquele momento tinha olhado são Bernardo, voltou então os olhos à Luz Eterna. O Santo, com um sorriso, acenou, convidando também Dante a olhar para o alto. Dante já o tinha feito. Mas como poder exprimir aquilo que viu?

Arrebatado, como num sonho, no resplendor para o qual ele olhava com todo o seu amor e a sua força, conseguiu ver três círculos em um, de cores diferentes, mas de igual medida, um como se estivesse refletido no outro, que ainda criava o terceiro: eram o Pai, o Filho, e o Espírito Santo.

No primeiro dos círculos, relampejou uma imagem humana, lembrando Deus encarnado, feito homem. Dante sentia como se aquela imagem, inserida no círculo da luz, formasse uma só unidade com ele. Parecia estar a ponto de adentrar no mistério divino e de conhecê-lo. Mas perguntou-se confuso: tinha a sua mente asas capazes de voar tão alto?

De repente, foi como que atingido por um fulgor, por uma aparição fulmínea e brilhante. Teve a visão de Deus. Durou um instante, um brevíssimo instante… Depois, a visão desapareceu. A grande viagem, a grande fantasia, estava concluída.

Assim quisera Deus, o Amor que move o Sol e as outras estrelas.

Fonte: Capítulo do Livro Codex Divinus a ser lançado.

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