O Nascimento de Jesus Cristo – Capela Nova – Monte Athos

Sobre a Obra

Exaltai-vos e cantai com grande alegria, ó povos, cantai-Lhe louvores, porque Ele é glorificado!

Ode 3

Tu assumiste um corpo de humilde barro, ó Cristo.

Ao compartilhar nossa humilde carne, fizeste nossa raça participante da divindade.

Ao te tornares homem mortal, mas permanecendo Deus, tu nos ressuscitaste da morte para a vida. Santo és Tu, ó Senhor!

Fonte: Grande Cânon da Natividade de Cosmas de Maiúma

Odes 1 a 4 do Cânon da Natividade

Tropário da Natividade – Tom 4 (Português)

Em uma Noite escura – cantiga de Natal ucraniana (português)

A grande peça do Natal:

O ícone da Natividade ambienta seu plano de fundo baseado numa forte tradição extra-evangélica, toda a construção se dá em torno da narrativa da Natividade segundo um documento cristão sírio do século II, o Protoevangelho de Tiago, segundo o texto o nascimento de Jesus se deu da seguinte maneira:

“Maria lhe disse (José): Tira-me do jumento, pois o que está em mim anseia por sair.

E ele a tirou do jumento e lhe disse: Para onde te levarei e cobrirei a tua vergonha? Pois o lugar é deserto.

Ele encontrou ali uma caverna, e a conduziu para dentro; e, deixando seus dois filhos com ela, saiu a procurar uma parteira nas regiões de Belém.

E eu, José, andava e não andava; então olhei para o céu e vi o céu atônito; e olhei para o pólo dos céus e vi-o parado, e as aves do céu paradas.

E olhei para a terra e vi uma manjedoura deitada, e os trabalhadores reclinados; e as suas mãos estavam na manjedoura.

E os que comiam não comiam, e os que se levantavam não levavam nada para cima, e os que levavam alguma coisa à boca não a levavam; mas os rostos de todos estavam voltados para cima.

E vi as ovelhas andando, e as ovelhas paravam; e o pastor levantou a mão para as ferir, e a sua mão permaneceu erguida.

E olhei para a corrente do rio e vi as bocas dos cabritos pousadas na água e não bebendo, e todas as coisas num momento foram desviadas do seu curso.

Então vi uma mulher descendo da montanha, e ela me disse: Ó homem, para onde vais? E eu disse: Estou procurando uma parteira hebreia.

E ela respondeu, e me disse: És tu de Israel? E eu disse a ela: Sim. E ela disse: E quem é que está dando à luz na caverna? E eu disse: Uma mulher desposada comigo. E ela me disse: Não é ela tua mulher? E eu disse a ela: É Maria, que foi criada no templo do Senhor, e eu a obtive por sorte como minha esposa.

E, no entanto, ela não é minha mulher, mas concebeu do Espírito Santo.

E a parteira lhe disse: Isto é verdade? E José lhe disse: Vem e vê.

E a parteira foi com ele.

E eles ficaram no lugar da caverna, e eis que uma nuvem luminosa cobriu a caverna.

E a parteira disse: Minha alma foi engrandecida neste dia, porque meus olhos viram coisas estranhas — porque a salvação foi trazida a Israel.

E imediatamente a nuvem desapareceu da caverna, e uma grande luz brilhou na caverna, de modo que os olhos não a puderam suportar.

E em pouco tempo essa luz diminuiu gradualmente, até que a criança apareceu, e foi e tomou o peito de sua mãe Maria.” (Protoevangelho de Tiago, 17-19)

Caverna dos Tesouros:

Diferente dos Evangelhos canônicos, Jesus nasce numa caverna, esta caverna é muito importante para a tradição cristã devido ao seu teor altamente simbólico.

Os antigos gregos e outros povos acreditavam que as cavernas eram portais para o submundo (Hades), ou seja, o mundo da Morte.

Os tons fúnebres são notáveis, a “manjedoura” do Cristo é um sepulcro e suas vestes são as faixas de um cadáver, entretanto apesar do tom mórbido tais imagens não são melancólicas mas demonstram que a Encarnação é um prenúncio da Ressureição, Cristo literalmente se-fez nascer da Morte para salvar a Humanidade.

A importância do símbolo da caverna só cresceu em importância, dois textos do final do século V e início do século VI produzidos em ambiente siríaco, que conectam a Caverna com Adão e Eva a saber, ‘Caverna dos tesouros’ (em siríaco) e o ‘Conflito de Adão e Eva com Satanás’ (preservado em ge’ez traduzido de uma versão árabe que certamente remonta a um original siríaco), esta caverna foi o abrigo do primeiro casal após a queda, o tesouro que ela abriga são três: Ouro, Incenso e Mirra, parte de uma promessa de Deus com Adão de que não o abandonaria e que um dia Ele voltaria para buscar tais presentes (exatamente a narrativa o conecta a Adoração dos Magos a Cristo).

Além disso a Caverna é identificada como o local do sepultamento de Eva, a mãe da Humanidade, tornando os tons redentores de Cristo ainda mais dinâmicos uma vez que ele nasceu aonde ‘sua mãe Eva aquela que trouxe a morte a/o mundo’ foi enterrada.

Esse drama é contado numa cena curiosa do Evangelho Armênio da Infância (preservado em armênio mas remonta a um original siríaco perdido) aonde José em busca da parteira encontra Eva:

“E enquanto os dois iam juntos, José perguntou a ela no caminho e disse:

“Mulher, diga-me o seu nome para que eu saiba quem você é?”

A mulher disse: “Por que você está me perguntando? Eu sou Eva, a antepassada de todos, e eu vim para contemplar com meus próprios olhos a redenção que é operada em meu favor?

Ao ouvir isso, José maravilhou-se com as coisas maravilhosas que viu. (…)

Quando José e a antepassada ouviram e viram isso, curvaram-se e prostraram-se, e erguendo suas vozes bendisseram a Deus, dizendo: ‘Bendito és tu, Senhor Deus de Israel, que hoje salvaste os filhos dos homens com a tua vinda!’

(Eva adicionado): ‘E tu me restauraste daquela queda e me confirmaste na minha antiga glória.

Agora minha alma foi engrandecida e minha esperança foi alegrada em Deus, meu Salvador.” (Evangelho armênio da Infância, 9, 1-2)

Fonte: Sobre o Evangelho Armênio da Infância

Link: https://www.nasscal.com/e-clavis-christian-apocrypha/armenian-infancy-gospel/

A luz e Maria:

Do alto vemos um círculo luminoso (ou a Estrela) com um raio descendo até o Cristo, o Círculo luminoso é o Pai e o raio é o Espírito Santo que desce irrompendo a Caverna partindo-a enquanto uma legião de anjos observa com espanto a maravilha que é o nascimento de Cristo.

A luz é algo muito caro para a Teologia e Espiritualidade Ortodoxa baseado na afirmação de João de que “Deus é luz, e não há nele treva alguma” (1 Jo 1, 5).

Maria é retratada de forma única neste ícone, não-olhando para Cristo mas para sua prima Isabel que está presente na cena com seu filho João Batista o Precursor.

Do outro lado vemos José pensativo em dúvidas pensando em abandonar a Maria, devido ao filho que não é seu: “E José, seu marido, sendo justo e não querendo envergonhá-la, resolveu deixá-la ir em segredo” (Mt 1, 19).

Animais e Pastores:

O boi e o jumento, são um animal limpo e um animal impuro, e assim representam “o mundo inteiro”, judeus e gentios, contemplando a manjedoura da iluminação.

Mais especificamente, são os dois animais mencionados em Isaías 1, 3: “O boi conhece o seu possuidor, e o jumento a manjedoura do seu dono; mas Israel não tem conhecimento, o meu povo não entende”.

Lá estão eles, duas criaturas mudas, as mais próximas da própria pessoa do recém-nascido Senhor de Toda a Criação, fazendo uma declaração de proporções notáveis: os animais mudos reconhecem o Messias, mas Israel não!

À luz de Isaías 1, 3, um significado mais profundo dos dois animais surge: O boi e o jumento conhecem o seu dono.

Dois pastores no canto direito, recebem ansiosamente uma palavra de um anjo que os abençoa com o nome de Jesus na ponta dos dedos.

O anjo disse-lhes: “Não temais, pois eis que vos trago novas de uma grande alegria, que será para todo o povo: hoje, na cidade de Davi, vos nasceu o Salvador, que é Cristo, o Senhor.

E isto vos servirá de sinal: encontrareis um menino envolto em faixas e deitado numa manjedoura” (Lucas 2,10-12).

Fonte: Texto baseado

Link: https://www.orthodoxroad.com/nativity-icon-explained/

Adoração do Cristo:

Os magos representam a Igreja que adora o nascimento do Cristo, a festa da “Natividade do Senhor na Carne” ou Natal que é um ponto fixo na História sagrada da humanidade, Gregório o Teólogo compôs uma importante Homilia que se tornou a base da Ode 1 do Cânon de Cosmas de Maiúma aonde ele demostra o carácter contemplativo da festa:

“Cristo nasceu, glorificai-O! Cristo do céu, saí ao Seu encontro! Cristo na terra; sede exaltados. Cantai ao Senhor toda a terra; e para que eu possa unir ambos numa só palavra: Alegrem- se os céus e alegre-se a terra, por Aquele que é do céu e depois da terra.

Cristo na carne, alegrai-vos com tremor e com alegria; com tremor por causa dos vossos pecados, com alegria por causa da vossa esperança! Cristo de uma Virgem; ó Matronas, vivei como Virgens, para que sejais Mães de Cristo.

Quem não adora Aquele que é desde o princípio?

Quem não glorifica Aquele que é o Último?“ (Gregório o Teólogo, Oração 38, 1)

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