Os Milagres de Cristo e Canon da Missa – Bible Moralisée – Biblioteca de Paris – 1240

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Os Milagres de Cura de Cristo – Bíblia Moral, 1240

Fonte: The Illuminated Manuscript – Janet Backhouse – Phaidon editora, 1979

Replica no MuMi – Museu Mítico

Capítulo 19 – Os milagres de Jesus

VIDA, PAIXÃO E GLORIFICAÇÃO DO CORDEIRO DE DEUS”:    

As meditações de Anna Catharina Emmerich (1820-1823)

Nos santos Evangelhos se relatam três ressurreições e grande número de outros milagres que o Salvador operou; mas mencionam-se na Escritura Sagrada apenas os mais importantes.

S.João Evangelista dá a entendê-lo na frase final de seu Evangelho: “Muitas outras coisas, porém, fez Jesus, as quais, se se escrevessem uma por uma, creio que no mundo todo não poderiam caber os livros que delas se houvessem de escrever”. (S. João 21, 25).

Em conformidade com essas palavras, narra a estigmatizada da Westfália, a qual nas suas visões acompanhou o Divino Salvador nas viagens, ouviu-lhe os sermões, viu os milagres que Ele operou, milagres sem interrupção, principalmente depois do seu Batismo.

Em grande número vinham os doentes a Ele ou eram transportados por outros e Ele os curava a todos, a não ser aqueles que eram endurecidos de coração. Muitas vezes até não esperava que se Lhe aproximassem, mas procurava-os, para os curar. Não curava, porém, a todos indistintamente.

Jesus pode curar todos, diz a serva de Deus, mas cura só os que crêem e fazem penitência; e muitas vezes Ihes avisa para não recaírem. Ele não veio a este mundo para dar a saúde do corpo e deixá-Ios de novo pecar, mas quer curar o corpo, para remir a alma e salvá-Ia.”

Jesus curou muitos homens acometidos de diversíssimas enfermidades: cegos, surdos, mudos, coxos, paralíticos, hidrópicos, epiléticos, doentes de febre, morféticos ou leprosos e muitos possessos de maus espíritos.

De grande interesse é o que a vidente nos conta do modo por que Jesus operava as curas milagrosas.

“Jesus curava de vários modos: a uns de longe, com um olhar ou com uma palavra, a outros tocando-Ihes, a outros impondo-Ihes as mãos, a outros soprava ou benzia-os, a outros aplicava saliva nos olhos. Muitos o tocavam e ficavam curados; a outros fez sarar, sem que se virasse para eles.

Curava cada um, conforme o mal, a fé ou à natureza, como ainda, agora de modo diferente, corrige e converte os pecadores. Jesus não rompia a ordem da natureza, mas apenas lhe anulava as leis; não cortava os nós, mas desatava-os e sabia desatar todos. Tinha todas as chaves e, sendo Homem-Deus, operava de modos humanos, santificando-os.

Não cura sempre do mesmo modo: ora ordena, ora impõe as mãos; às vezes se inclina sobre os doentes, outras vezes os manda lavar-se, amassa barro com saliva e aplica-Ihes nos olhos.

A alguns admoesta, a outros diz os pecados, poucos são os que se recusa curar.

Cada modo de curar tinha uma misteriosa significação própria; todos se referiam à causa oculta e significação da doença e à necessidade espiritual do homem. Assim recebiam, por exemplo, os ungidos com óleo uma certa força espiritual, de que era sinal o óleo. Nenhuma dessas ações de certo era sem significação e intenção.

Jesus não curava todos do mesmo modo. Também não curava de modo diferente dos Apóstolos, Santos e sacerdotes até do nosso tempo. Impunha as mãos e rezava com os enfermos; mas fazia-o mais depressa do que os Apóstolos.

Fazia os milagres e as curas também como modelos, para os seus sucessores e discípulos. Sempre procedia como convinha ao mal e à necessidade: tocava os coxos e os músculos recobravam força e eles se levantavam.

Nos membros quebrados, tocava na fratura e as partes reuniam-se.

Quanto aos leprosos, vi que, quando os tocava, as chagas se Ihes fechavam, caindo-Ihes as crostas secas imediatamente; mas ficavam manchas vermelhas, que desapareciam pouco a pouco, porém, mais depressa do que de costume e segundo o grau de merecimento dos doentes.

Nunca vi que um corcunda se tivesse tornado direito num instante, ou um osso torto em osso reto.

Não porque Jesus não pudesse fazê-Io, mas porque não queria que os seus milagres fossem espetáculos, mas, sim, obras de misericórdia; eram símbolos da sua missão de desligar, reconciliar, ensinar, desenvolver, educar e resgatar.

E, como exige a cooperação dos homens, para participarem da salvação, assim haviam de manifestar-se nas curas: fé, esperança, caridade, contrição e reforma dos homens, como cooperação nas mesmas.

Cada estado do enfermo tinha tratamento próprio e desse modo se tornava cada doente e o respectivo tratamento o símbolo duma doença espiritual, perdão e correção.

Só entre os gentios vi que alguns dos milagres eram mais estranhos e notórios.

Os milagres dos Apóstolos e dos Santos, mais tarde, davam muito mais na vista e eram mais contrários à ordem geral da natureza, pois os pagãos precisavam de um abalo espiritual, de uma forte comoção; os judeus, porém, careciam apenas que se Ihes desvendassem os olhos espirituais e assim por diante.

Curava muitas vezes pela oração, à distância, principalmente mulheres que sofriam de fluxo de sangue, pois estas não ousavam aproximar-se, nem podiam, sendo proibido pelas leis judaicas.

Jesus observava geralmente as leis que tinham uma significação sobrenatural e misteriosa, as outras não.

“Vi novamente, conta Catharina Emmerich na outra passagem, a grande diferença nos modos de curar e que Jesus provavelmente curava de tão diversos modos, para ensinar aos discípulos como eles mesmos, e depois a Igreja, em todos os séculos, deviam proceder.

Em todo o seu agir e sofrer, revelava sempre modos e formas humanas, nada se lhe revestia de um cunho mágico ou se transformava instantaneamente.

Vi em todas as curas uma certa transição, conforme a espécie da doença ou do pecado. Vi que em todos sobre os quais orava ou pousava as mãos, se efetuava uma momentânea calma e recolhimento e os doentes levantavam-se curados, como de um desmaio.

Paralíticos levantavam-se vagarosamente e, sentindo-se curados, prostravam-se-Ihe aos pés; mas a força interior e a agilidade dos membros voltavam só depois de certo tempo: em alguns depois de horas; em outros após alguns dias, etc.

Vi hidrópicos que puderam achegar-se-Ihe, cambaleando de fraqueza, outros que era preciso serem transportados. Ele pousava geralmente a mão sobre a cabeça e o estômago dos enfermos; logo após as palavras do Mestre, podiam levantar-se, sentiam-se leves e a água saía-Ihes pelo suor.

Os leprosos perdiam, logo depois da cura, as crostas das chagas, mas ficavam-Ihes manchas vermelhas, onde antes houvera lepra.

Aqueles que recuperavam a vista ou o ouvido ou o uso da língua, sentiam ainda a princípio a falta de desembaraço nesses sentidos.

Vi paralíticos curados, que não sentiam mais dores e podiam caminhar; a inchação não desaparecia imediatamente, mas em pouco tempo.

Epiléticos ficavam curados no mesmo instante; quanto as febres, cessavam logo, mas os doentes não ficavam fortes e sãos no mesmo momento, mas restabeleciam-se como uma planta murcha, depois da chuva.

Os possessos caiam geralmente num curto desmaio, levantando-se depois livres do demônio, e sossegados, mas ainda fatigados.

Tudo se fazia com calma e ordem, somente para os infiéis e adversários, tinham os milagres de Jesus algo de terrível.

Em Genabris rezou Jesus em silêncio sobre os doentes, que na maior parte tinham braços aleijados; tocou-Ihes os braços, passando a mão levemente, de cima para baixo; depois mandou que se retirassem e louvassem a Deus: estavam curados.

Em frente da sinagoga de Bezech, estava reunido grande número de enfermos. Jesus, acompanhado pelos discípulos, passou de um a outro, curando-os.

Entre estes havia alguns endemoninhados, que, enraivecidos, gritavam contra ele; o Mestre livrou-os e mandou que se calassem.

Havia ali paralíticos, tísicos, hidrópicos, com úlceras no pescoço, com glândulas intumescidas, surdos e mudos; curou-os todos, impondo as mãos a cada um, mas o modo de tocá-Ios era diferente; alguns dos doentes ficaram imediatamente curados; outros sentiram-se aliviados e a cura completa efetuou-se-Ihes em pouco tempo, conforme a espécie do mal e estado da alma.

Os curados afastaram-se, cantando um salmo de Davi. Havia, porém, tantos doentes, que Jesus não pôde chegar a todos; os discípulos ajudaram-no, levantando e livrando os enfermos. Jesus passou as mãos na cabeça de André, João e Judas Barabás, tomou-lhes depois as mãos nas suas, mandando que fizessem a uma parte dos enfermos o que Ele fazia aos outros.

Os Apóstolos cumpriram a ordem e curaram a muitos.

Em Hukok curou Jesus a um cego, que sofria de catarata; Jesus mandou-o lavar o rosto na fonte; depois de feito isso, untou-lhe os olhos com óleo e, quebrando um pequeno ramo de arbusto, mostrou-lho, perguntando-lhe se enxergava.

O homem disse: “Sim, vejo uma árvore grande.” Então lhe untou Jesus de novo os olhos, e ao perguntar-lhe outra vez se via, o homem lançou-se-lhe feliz aos pés, exclamando: “Oh! Senhor, vejo montanhas, árvores, homens, vejo tudo!” Então reinou grande alegria na multidão de povo e conduziram o homem à cidade.

Só pela sua presença, Jesus expulsava dos possessos os demônios, que se retiravam visivelmente, em forma de vapor, que depois formava uma sombra de horrível figura humana e fugia.

O povo admirava-se e assustava-se; os libertos empalideciam e desmaiavam. Jesus, porém, lhes falava e, tomando-Ihes as mãos, mandava-os levantar-se; então voltavam a si, como de um sonho e caindo de joelhos, agradeciam-lhe; eram homens inteiramente mudados. Jesus exortava-os e dizia-lhes as faltas de que se deviam corrigir.

Entre todos que foram curados por Jesus, nunca vi dementes, como os chamam; foram todos curados como endemoninhados e possessos.”

Os milagres de Jesus não eram só curas de doentes. Ele operava também muitos outros prodígios, como a multiplicação dos pães, a pesca milagrosa, a bonança do mar, produzida por suas palavras, o caminhar sobre as ondas do mar.

Outros milagres realizou, profetizando, tornando-se invisível aos perseguidores e mostrando conhecer os pensamentos ocultos.

Essas curas milagrosas e os prodígios, cujo caráter sobrenatural devia dar na vista de todos os homens sinceros e amigos da verdade, davam testemunho da divina missão de Jesus e, como operasse os milagres não em outro nome, mas no seu próprio, ninguém podia negar-Lhe o poder divino; em outras palavras: todos eram obrigados a crer-lhe na divindade.

Com mais força ainda nos levam a esta fé as ressurreições operadas por ele, pois só há um Senhor da vida e da morte – Deus.

Jesus manifestou-se desse modo o Taumaturgo prenunciado pelos profetas.

Expulsando os demônios, curando os enfermos e ressuscitando os mortos, revelou-se como Redentor do pecado e das respectivas conseqüências: doença e morte.

Ao mesmo tempo manifestou o Salvador, pelas curas, o amor e a benignidade do seu coração misericordioso, que, com profunda compaixão da miséria e dos muitos males humanos, os socorria e ajudava em toda parte, que, morrendo na Cruz pelos pecados dos homens, quis salvar-Ihes e santificar-Ihes corpo e alma. Daí a bela palavra da piedosa Catharina Emmerich:

“Ele veio para curar os muitos e diferentes males de muitos e diferentes modos, para expiar os pecados de todos os fiéis, pela morte na Cruz, que contém todos os tormentos e sofrimentos, penitências e satisfações.

Abriu primeiro os grilhões e as algemas da miséria e do castigo temporal, com, as chaves do amor; ensinou, curou e socorreu os homens de todos os modos e depois abriu a porta do céu e do Limbo, que é a expiação, com a chave principal: a morte da Cruz.”

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